terça-feira, 7 de abril de 2009

NEEFICS: Uma Breve Análise Acerca das Temáticas Apresentadas.

Por Carmem Lúcia Ferreira

1. Iniciando a discussão:

Renée Descartes foi o primeiro filósofo sugerido para dar início às discussões e debates do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro – NEEFICS, com uma de suas obras mais conhecidas: O Discurso do Método.
Considerando a relevância de sua obra, creio que foi pertinente tê-la como ponto de partida em nossos embates, visto que a mesma foi considerada o marco do pensamento filosófico, em um momento em que se fazia necessário um novo modelo de pensamento, rompendo com o paradigma do poder da Igreja católica sobre a educação, política e economia. Nesta época (séculos XV e XVI) já haviam estudiosos preocupados com um novo modelo de educação, acreditavam que era preciso “uma educação que formasse novas gerações para entender e atuarem no mundo, não apenas para contemplá-lo”.
Embora Descartes sempre reafirmasse sua crença em Deus e na Igreja católica, vale lembrar que sua obra foi escrita no século XVII, quando o período denominado de Santa Inquisição, estava ainda apenas adormecido, pois teve sua queda em meados do século XV e início do século XVI. Acredito que para o grupo o que ainda não ficou muito claro foi a “intencionalidade” com que Descartes escreveu sua obra.

2. Edgar Morin: A Educação Inserida no Contexto da Complexidade do Mundo.

Edgar Morin foi o Segundo filósofo indicado para leitura e discussão do grupo, através de sua obra: Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, fazendo o contraponto com a leitura de Descartes. É impressionante como foram feitas várias pontuações que realmente contrapõem às idéias do primeiro autor.
Morin é um estudioso da complexidade e da subjetividade humana e trouxe este estudo focado para a educação – a educação do futuro. Em sua obra ele discorre sobre o “erro e a ilusão”, ou seja, o erro que os educadores cometem em passar o conhecimento, sem conhecer o que se está ensinando.
Isto não é uma crítica aos educadores, mas sim ao sistema, ao modo de produção capitalista que estrutura os currículos escolares, visando qualificar a mão de obra para atender a economia de mercado, ou seja, a educação vista como mercadoria.
Num outro momento, o autor defende que:

A educação do futuro, em sua missão de promover a inteligência geral dos indivíduos, deve ao mesmo tempo utilizar os conhecimentos existentes, superar as antinomias decorrentes do progresso nos conhecimentos especializados e identificar a falsa racionalidade. (MORIN, 2001, p. 11)
Neste sentido Morin faz um contraponto direto à obra de Descartes, que defendia a racionalidade técnica.

3. ECOSOFIA: Meio Ambiente/ Relações Sociais/ Subjetividade Humana.

As Três Ecologias de Félix Guattari está inserida no contexto das discussões, estabelecendo relações com os dois autores anteriormente citados. Guattari, em sua obra enfoca as transformações técnico-científicas sofridas pelo nosso planeta nos tempos modernos. Ele faz um paralelo entre o meio ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana, daí o título de sua obra: As três Ecologias.
Com o advento da Terceira Revolução Tecnológica, marcado fundamentalmente, pelo avanço da tecnologia de ponta, das telecomunicações, do transporte e da informática, surge a chamada globalização, “diminuindo”, a distância entre os povos. Neste sentido Guattari, assevera:

As relações da humanidade com o socius, com a psique e com a “natureza” tendem, com efeito, a se deteriorar cada vez mais, não só em razão de nocividades e poluições objetivas, mas também pela existência de fato de um desconhecimento e de uma passividade fatalista dos indivíduos e dos poderes com relação a essas questões consideradas em seu conjunto. Catastróficas ou não, as evoluções negativas são aceitas tais como são. O estruturalismo – e depois o pós-modernismo – acostumou-nos a uma visão de mundo que elimina a pertinência das intervenções humanas que se encarnam em políticas e micropolíticas concretas. (GUATTARI, 2001, p.23)

De acordo com a citação do autor nota-se sua preocupação com a humanidade dentro de um contexto, aliando espaço às relações pessoais e ao interior de cada pessoa, o subjetivo humano, enquanto sujeitos da história.
Os elementos apontados e destacados neste texto abrem o grande desafio de direcionar o desenvolvimento técnico-científico para a solução dos grandes e graves problemas que assolam a humanidade.
Caso contrário, várias espécies estarão, indubitavelmente, sujeitas à extinção e dentre elas, o homo sapiens. “A luta é para que a ciência avance de uma tecnocracia que domina o homem, para uma tecnologia a serviço da humanidade”.

4. Considerações parciais

O estudo destas obras, até o presente momento, foi relevante, pois permite uma reflexão sobre a fundamentação do método cartesiano (que embasa as ciências naturais), tendo como contraponto obras que se embasam na ciência da complexidade (Edgar Morin) que realça os aspectos subjetivos do pensamento social, além do enfoque das três dimensões (ambiental, relações sociais e subjetividade humana) defendidas por Félix Guattari e que, no fim das contas, acaba por completar o pensamento de Morin.
Tanto o pensamento de Morin quanto o de Guattari discutem as bases para o desenvolvimento de uma postura crítica ao “Discurso do Método” de Descartes. Assim, o nosso estudo começa a abrir espaços para o debate concreto dos aspectos que pontuam as ciências humanas.

5. Referências

FONSECA, V. M; FERREIRA, C. L. Biopirataria: Uma reflexão sobre o tráfico do patrimônio genético dos biomas brasileiros. Destaque IN. Sacramento (MG): Nº. 64, Julho/Agosto (2005), p.9-11.
GUATTARI, F. As três ecologias. 16 ed. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas, SP: Papirus, 1990.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; Revisão Técnica de Edgard de Assis Carvalho. 10 ed. São Paulo: Cortez, DF: UNESCO, 2005.

Nasce o discurso do método. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/descartes3.htm, acesso em 07/03/2009

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