sexta-feira, 30 de julho de 2010

O SUJEITO & O OBJETO é o título do mais recente livro de Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga




Por NEEFICS

Mais uma vez, o professor mestre e doutorando em Educação Valter Machado da Fonseca, membro do NEEFICS, brinda a comunidade acadêmica, professores, pesquisadores, estudantes e sociedade em geral, com outra obra de relevante significação. Como na última obra, este livro resulta de um trabalho do autor em parceria com a Profª. Drª. Sandra Rodrigues Braga, analista de projetos e coordenadora do COSAE/CNPq. “O SUJEITO & O OBJETO: educação e outros ensaios” faz o resgate de uma série de artigos trabalhados nos últimos cinco anos, individualmente e em parceria com a Profª. Drª. Sandra Braga. A obra reúne uma diversidade de artigos acerca de assuntos como Educação Ambiental, produção do conhecimento científico, currículo, ecologia, Filosofia, ensino/aprendizagem e outros artigos voltados para a teoria da educação, além de ensaios em diversas áreas das ciências humanas.
Sobre a obra:
O SUJEITO & O OBJETO
é um livro que visa instigar o debate acerca dos principais aspectos e abordagens que permeiam a teoria da educação, em especial na sociedade da modernidade. Este livro faz um apanhado de importantes artigos que tratam das temáticas educacionais, em especial, daquelas, diretamente, ligadas à produção do conhecimento. As análises encontradas nos diversos artigos que compõem esta obra têm em comum a preocupação com a discussão metodológica do ato de fazer ciência. Fazer ciência, a nosso ver, é muito mais que propiciar as condições favoráveis para a plena expansão e reprodução do capital. Significa, sobretudo, indagar sobre os métodos, os objetivos e as finalidades do fazer na ciência e com a ciência. Significa, acima de tudo, indagar a quem é dirigida a produção do conhecimento, quem se apropria do conhecimento produzido e de que forma esse conhecimento é apropriado. Por fim, este livro trata dessas discussões no terreno educacional, filosófico, histórico, social e ambiental. A indagação que se coloca é: no longo processo de produção do conhecimento, quem são, de fato, o sujeito e o objeto?
A obra foi prefaciada pelo Prof. PhD Humberto Guido da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia e posfaciada pelo Prof. Décio Bragança Silva da Universidade de Uberaba.
O Prof. PhD. Humberto Guido é associado do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia – DEFIL-UFU, pesquisador dos Programas de Posgraduação em Filosofia (mestrado) e Educação (doutorado) da UFU. Licenciado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, doutorou-se em Educação na área de Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Pós Doutor (PhD) pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é o diretor da Editora da Universidade Federal de Uberlândia EDUFU. É importante destacar duas de suas relevantes obras: “Giambattista Vico: a filosofia e educação da humanidade” e “A Arte de Aprender: metodologia do trabalho escolar para a Educação Básica”.
Já o Prof. Décio Bragança Silva é professor de Português e Literatura, docente da universidade de Uberaba – UNIUBE. Dedicou grande parcela de sua vida em prol de uma educação de qualidade em todos os níveis. É um ferrenho batalhador das causas sociais e acredita na educação enquanto instrumento de formação de sujeitos que sejam agentes de transformação social.
A obra foi concluída e já pode ser adquirida por intermédio do site da editora (abaixo), na área de Educação:
http://24.233.183.33/cont/login/Index_Piloto.jsp?ID=bv24x7br. O lançamento oficial da obra está em fase planejamento e organização e deverá ocorrer na segunda quinzena de setembro.

EVENTO DE “AMIGOS DA BIBLIOTECA” VALORIZA A CULTURA LOCAL

Por Valter Machado da Fonseca

Na época da realização do filme sobre a vida de Chico Xavier, escrevi um pequeno artigo, publicado na imprensa local, exaltando a importância da película e, concomitantemente, chamando a atenção para a necessidade de se proporcionar maior valorização e visibilidade à cultura local. Naquele momento eu reafirmava que a película sobre o nosso saudoso Chico Xavier iria atrair os olhares de todo o país para a nossa cidade e que, deveríamos aproveitar aquele evento para pensarmos num movimento de renovação e oxigenação da cultura local em todas as áreas: cinema, teatro, música, literatura, dança, escultura, artesanato, enfim, criar espaços e condições para a livre manifestação cultural dos artistas de Uberaba.
Pois bem! No dia 26 de julho recebi um amável convite da Sociedade Amigos da Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães (SABI/Uberaba) convidando-me a participar de um evento na biblioteca, cujo objetivo era ao mesmo tempo em que se comemoraria o dia do escritor, realizar-se-ia também a entrega de um importante acervo literário, adquirido pela SABI, à nossa biblioteca municipal. O evento que reuniu ilustres escritores e representantes da cultura de nossa cidade, apesar de singelo, trazia intrínseco em sua essência uma proposta fantástica. Por intermédio de uma proposta singela, porém essencialmente rica em suas reflexões, proporcionou a todos os presentes, naquela tarde/noite, momentos extremamente prazerosos. Por meio dos bate-papos e depoimentos de diversos escritores pudemos beber um pouco da saborosa história cultural de Uberaba e região.
Como à época da película do Chico Xavier, novamente viajei nas reflexões acerca da renovação do movimento cultural de Uberaba e região. Nossa cidade possui enorme potencial em todas as áreas das expressões artísticas que, na maioria das vezes, fica à mercê da contracultura e do marketing do consumismo. A grande maioria dos artistas locais fica à margem da produção cultural que marca a criatividade do povo brasileiro. Os nossos artistas necessitam de oportunidades e espaços para mostrarem seu potencial.
Aquele singelo evento da SABI foi, para mim, de grande significação, pois, além de proporcionar momentos memoráveis de intenso prazer, chama à reflexão sobre a necessidade de dar visibilidade à produção cultural de nossos artistas. O evento serviu, sobretudo, para mostrar que se quisermos podemos alavancar em Uberaba um poderoso movimento de renovação e revitalização da cultura uberabense, o que pode colocar nossa cidade no patamar artístico e cultural que lhe é de direito. Parabéns à SABI, à direção e funcionários da Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães por nos proporcionar momentos tão agradáveis, além de grande relevância para a reflexão sobre a história cultural de nosso povo.

domingo, 4 de julho de 2010

Nossa sociedade e a Pedagogia do Oprimido: impressões pessoais

Foto: Prof. Paulo freire (2010)
Por Karina da Costa Sousa

O texto que se segue foi escrito predominantemente em primeira pessoa, pois, ao escrevê-lo, tentei expor as impressões pessoais que tive após o contato com a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Trata-se de um pedaço de meu pensamento, e um pouco de meus sentimentos e idéias sobre nossa sociedade, nosso modo de vida.
Sempre pensei que a raiz de todos os problemas existentes no planeta Terra está na educação e
esclarecimento dos seres humanos. Isto é, a ausência da educação e do esclarecimento. Todavia, penso, por ora, que talvez seja muito radical atribuir uma “culpa” apenas à educação, ou sua ausência. Isto pois a própria natureza, e todas as relações vivas comportadas por ela, incluindo obviamente as humanas, são nada mais que um conjunto de partes integrantes (e integradas) de uma enorme teia, onde todas coexistem. Assim, não se pode atribuir uma razão isolada a qualquer fenômeno. Este mesmo raciocínio pode ser empregado ao observamos os problemas pelos quais a sociedade tem passado. E estes problemas aos quais me refiro não são apenas de âmbito social. Eles vão desde problemas do homem consigo mesmo, até em relação ao homem e sua percepção existencial.
Conhecendo a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, encontrei nela muito de minha opinião sobre semelhantes questões. Estamos em face de uma situação de profunda alienação intelectual e ignorância subsidiada. Valores fundamentais para a vida, convivência e evolução humanas estão se perdendo (para não ser novamente radical e dizer mesmo que já se encontram perdidos). Assaltos e roubos e assassinatos, intolerância, desrespeito. Onde estará a fraternidade, a compaixão? E como ouso eu falar estas palavras, quando elas estão tachadas de caretas, e quando eu mesma poderei ser tachada assim? Isso não importa a mim, nem a outros bons espíritos, tenho certeza. Talvez essa seja outra causa a ser apontada para a situação que se tem vivido. E mais, o que pode ter acontecido com o amor à natureza e as formas de vida consideradas hierarquicamente inferiores por nós, seres que se afirmam pensantes! Raciocínio humano? Como? Onde ele se manifesta, se a natureza e os animais nos dão mais valorosos e numerosos exemplos e lições de (con) vivência e equilíbrio? Em minha opinião de iniciante na reflexão filosófica e intelectual, porém atenta a tais questionamentos, este é o pior quadro que se pode apreciar na sociedade, na natureza, na vida. Por que nos tornamos assim? Por que agora já é tão difícil voltar a atrás e refazer o caminho, o modo de vida?
O ser humano se mostra impulsionado por outros desejos, não só atualmente, como em qualquer capítulo de nossa história, desejos que fazem de uns dominantes e outros dominados. Ou como sugere Paulo Freire, uns oprimidos e outros opressores.
Sim, como se não fosse o bastante a falta de valores morais e éticos, há ainda a falta de esclarecimento, a falta da consciência do verdadeiro, singelo e ao mesmo tempo complexo significado da expressão humanidade.
Segundo Freire aponta, estamos vivendo em tempos de humanidade roubada. O que parece é que os homens já nascem assim, ou opressores, ou oprimidos. De fato, este é um processo que acompanha todo o desenvolvimento do indivíduo. Estamos condicionados, não apenas os que têm sua humanidade roubada, como aqueles que a roubam. É preciso recuperar a humanidade, pois só assim será possível se alcançar a liberdade, algo que há séculos se busca, mas acredito que até os dias atuais não se entende (e se pensa possuir). É preciso tomar consciência desta situação. É preciso que os homens tenham vontade, desejo por alcançar esta humanidade. É preciso se entender também esta humanidade. É preciso se tomar consciência da situação e da realidade que vivemos, de nossos opressores e sua “falsa generosidade”. Aquela generosidade que se alimenta da injustiça, e que teme o desaparecimento desta injustiça. É preciso libertar-se dos fanatismos existentes nas várias esferas de atividades humanas, como já observamos na política e na religião (que tanto pode contribuir, positiva ou negativamente, na edificação do ser humano), por exemplo, para se conseguir enxergar a realidade, nosso mundo, nossa existência. Tantas coisas necessárias. Como fazê-las? Tantos problemas. Quantas soluções? Há soluções? Certamente.
Assim, chegamos à questão abordada por Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido que, na minha opinião, é a mais importante da obra. Trata-se da educação, sua contribuição na transformação da concepção do homem por si mesmo e suas relações no ambiente em que vive. Não seria necessário explicar e descrever todo o método proposto por Paulo Freire, considerando que já o conhecemos e considerando que conhecemos a realidade que vivenciamos. Bastaria dizer que uma pedagogia libertadora deve ser construída por todos, e não a partir de uns para outros, sem se levar em consideração a realidade destes outros, sem se estimular a busca e a reflexão inovadoras, criativas, dinâmicas e não estáticas. Os homens serão livres para exercer sua humanidade, em todos os sentidos que esta palavra pode ter, quando estiverem esclarecidos. Certamente, o futuro deve ser construído por mãos trabalhadoras e transformadoras, por meio de sua reflexão e de sua atuação. Subjetividade e objetividade, como ensinou Paulo Freire.
É preciso interação e atividade de todos. É preciso consciência. É preciso liberdade. É fantástico pensar em mudanças tão desejadas pela maioria dos povos, e certamente esta maioria está formada pelos oprimidos e pelos “esfarrapados do mundo”, os companheiros de causa e luta, à luz da educação. Eis o porquê de Pedagogia do Oprimido conter tanto de minha própria opinião.
Finalmente aponta-se uma solução e não mais uma causa para os problemas que nos afligem. E como diria dois grandes sábios: “em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve
parecer impossível de mudar”
[1] pois “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”[2] e “Não estamos perdidos. Ao contrário, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”[3].
[1] Bertolt Brecht
[2] Rosa Luxemburgo
[3] Rosa Luxemburgo

sábado, 3 de julho de 2010

SOB A MAQUIAGEM DA COPA: A OUTRA ÁFRICA!

Por Valter Machado da Fonseca
Quase todas as atenções do mundo se voltam para o segundo maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol, que perde apenas para os Jogos Olímpicos. Pela primeira vez na história da copa, ela está sendo realizada no continente africano. Mas, isto não é novidade para ninguém, pois esse evento já estava anunciado há mais de quatro anos. Como todo brasileiro, também gosto de futebol, porém, o que pretendo com este breve artigo não é tecer nenhum comentário sobre o futebol em si, muito menos analisar os jogos.
O que quero é chamar a atenção sobre o continente no qual o evento se realiza: a África. O que temos assistido até o presente momento é uma verdadeira festa [de todas as cores], com um grande número de torcedores [turistas] dos diversos países que participam da competição. É interessante verificar que todos os estádios que recebem a competição são construções suntuosas, com estruturas de causar inveja às principais potências capitalistas do planeta. É interessante ainda, observar que a maioria dos estádios fica com sua lotação esgotada, às vezes de uma hora para outra. Também é importante verificar que a grande maioria dos torcedores é bem vestida, rostos corados, sadios e esbanjam alegria. Em nenhum momento se consegue perceber a realidade social do continente africano, nem mesmo no momento da eliminação dos “Bafana Bafana”.
Aí surge uma interrogação: será que essa competição é mesmo na África. Será que ela se realiza no mesmo continente, acerca do qual sempre acompanhamos notícias da enorme desigualdade social, subnutrição, fome, mortalidade infantil, guerra civil, miséria? Por incrível que pareça, as redes de TV, as rádios e jornais, em nenhum momento tocaram nos graves problemas sociais da Etiópia, da Somália, de Serra Leoa, dentre inúmeros outros países marcados pela população em estado de miséria absoluta. A ostentação da arquitetura e suntuosidade dos estádios e da infra-estrutura que os atendem está em gritante contradição com a situação econômica da maioria dos países que compõem o continente, inclusive a própria África do Sul, que passa por uma enorme crise econômica.
É fato também que a FIFA andou distribuindo milhares de ingressos para uma parcela da população [obedecendo a critérios de seleção, que priorizam as regiões menos miseráveis e setores menos pobres da população sul africana], para que a África esteja presente nos estádios e prestigie o evento em seu país. Ficaria, no mínimo estranho, um evento esportivo desta magnitude na África, sem a presença dos africanos. A rede de comunicação noticiou, in passim, a greve dos trabalhadores africanos que participaram da construção das obras dos estádios e da infra-estrutura básica exigida pela FIFA [e que segundo consta, até agora não receberam seus salários]. Outra pergunta levantada pela rede de comunicação foi: Quem irá pagar os custos dessas suntuosas construções, estimadas em bilhões de dólares? Ao mesmo tempo, mostrou a população sul africana apreensiva acerca de quem irá arcar com esses gastos milionários. A propósito: Por que será que Nelson Mandela não compareceu a nenhum jogo? Será apenas devido ao falecimento de sua neta ou pela sua saúde debilitada? E a grande maioria dos chefes de Estado que comparecem a todo evento esportivo de grande magnitude, por que não deram as caras?
Este evento esportivo pode ser comparado ao terremoto do Haiti, só que o terremoto serviu para trazer à tona as mazelas decorrentes da desigualdade social e da situação de miséria da grande maioria da população haitiana, ao passo que a copa do mudo de futebol na África, está sendo usada para esconder, maquiar a triste e cruel realidade social do continente. Para mostrar ao mundo que a África conseguiu “bancar” um dos maiores eventos esportivos do planeta. Mas, com o dinheiro de quem?
Por fim, a FIFA conseguiu mostrar ao mundo que a África que há poucos meses atrás era chamada de “Terceiro Mundo”, na época da copa retoma seu “legítimo lugar” de berço da humanidade. Finalmente, é preciso enfatizar a “importância” da realização desta copa no continente africano que, embora tenha todas as suas seleções eliminadas do torneio, a população está “feliz” [sempre entre aspas]. Para a FIFA, ao término do torneio, quando todos forem embora e o continente for novamente esquecido, principalmente pelas nações desenvolvidas, o povo pobre ficará imensamente feliz, pois restará a eles um punhado de estádios magníficos e suntuosos [combinando com seus elefantes brancos] que a população terá imenso prazer em deixar de se alimentar, para bancar o “pequeno investimento” gasto em sua construção. Afinal, qual foi o ganho que a África teve ao realizar tão importante evento? Provavelmente ela ficará na história, figurando no Guines Book, como um continente ousado que em apenas um mês terá conseguido aumentar em, pelo menos dez vezes, o índice de miséria de sua população. Um recorde verdadeiramente difícil de ser batido.