segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O caminho das letras: beber da fonte

Por Valter Machado da Fonseca
Caro (a) Leitor (a)!
Ao longo deste ano, minhas contribuições ao NEEFICS, na maioria das vezes, veio na forma de uma leitura crítica de temáticas globais, nacionais e regionais. A leitura crítica demanda uma forma de escrever que, muitas vezes, desagrada a muitos e agrada a poucos ou, desagrada a poucos e agrada a muitos. O fato é que sempre tem alguém que fica incomodado com as críticas, tão necessárias, para a compreensão deste mundo: o mundo da modernidade. Fazer uma crítica apropriada a determinadas questões, demanda, em grande parte das vezes, “colocar o dedo na ferida”, “cutucar a onça com vara curta” e falar de muitas coisas feias e desagradáveis. Pois bem, meus caros (as) leitor (as)! Hoje vou poupá-los das coisas desagradáveis que muitas vezes tive que tratar ao longo deste ano. Não só de críticas vive a humanidade. Hoje, vou deixar de lado as críticas e falar de algo extremamente positivo. O assunto que trago, hoje, à baila é, sinceramente, importante e relevante para todos nós de Uberaba e porque não dizer, da região do Triângulo Mineiro, quiçá de todas as Gerais, ou, até mesmo em nível de país.
Recentemente, lancei meu último livro na Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães. E foi com imenso prazer e carinho que preparei aquele lançamento. Para mim, assim como para todas as pessoas que estiveram presentes, foi um evento memorável. E, só foi, de fato, extraordinário, devido ao espaço magnífico que é a nossa biblioteca pública. Na ocasião, um dos meus ilustres convidados, o Prof. Mestre e doutorando Serigne Ababacar Cisse BA, natural de Dakar (Senegal) e docente da Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão (UFG/Catalão), me chamou a atenção para quão precioso é aquele espaço para a valorização de nossa cultura. Nas palavras dele: “esse é um espaço de dar inveja a muitos países do denominado primeiro mundo”. E ele continuou: “não se trata apenas de um espaço, é um espaço preenchido com um acervo riquíssimo e de valor inestimável”.
Muitas vezes, nós que somos do lugar não temos a dimensão da importância de algo grandioso que construímos. É preciso que alguém, com “o olhar de fora” nos chame à atenção, muitas vezes, para símbolos e aspectos fundamentais de nossa própria cultura. Ainda bem que essas pessoas existem, estão atentas e nos alertam. Depois de minha conversa com o Prof. Serigne, apesar de eu já ter me apercebido da importância do espaço e do acervo de nossa biblioteca, ainda talvez não tivesse a devida dimensão e proporção dessa importância. O fato é que, depois daquele dia, nunca mais eu consegui olhar para aquela biblioteca com o mesmo olhar. Aí pensei: ela é como se fosse uma trilha para a nossa cultura, para a construção de nossa identidade. Ela é o caminho das letras, é a fonte que pode saciar muita gente sedenta de novos conhecimentos, novos aprendizados e saberes.
Mas, aquele espaço não está assim por mero acaso. Ele é o resultado de muito trabalho, da soma de muitos esforços, é o resultado do trabalho de toda uma equipe. Não quero aqui me deter na citação de nomes, pois isto poderia me induzir a erros, equívocos e injustiças. Mas, todos que se empenharam na construção do projeto dessa biblioteca, saberão que, com certeza, o reconhecimento que teço, tem uma parcela para cada um. É uma grande obra, real, construída com a soma de muitas mãos. Ela é uma realidade cujo resultado é a soma de vários fragmentos do sonhos de muitos. Por fim, quero, por intermédio deste singelo artigo, agradecer e prestar uma homenagem especial a todos [direção, funcionários e voluntários] que transformaram um sonho em uma realidade magnífica. Parabéns a todos (as) que construíram o caminho das letras. Portanto, como brinde, vamos todos beber da generosa fonte produtora eterna de novos conhecimentos e saberes.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lixo: o problema emblemático do século XXI

Por Valter Machado da Fonseca
Há poucos meses atrás, o Brasil foi surpreendido com containers de lixo vindos da Europa e descarregados em nossos portos. É um acontecimento constrangedor, porém emblemático. O fato serviu, como uma luva, para fazer suscitar e revitalizar os debates e as discussões acerca da superprodução de efluentes domésticos e industriais, além de trazer o questionamento sobre o lugar dos países “em desenvolvimento” [ou subdesenvolvidos] diante dos olhos da denominada “sociedade civilizada” ou ocidental. Na verdade, as grandes conferências internacionais que têm “brincado” de debater os grandes e graves problemas socioambientais que tanto assolam e assustam a humanidade, não apontam nenhuma solução séria para a superprodução de efluentes e do lugar que ocupam os países pobres nestes debates. Eu insisto em ligar a produção de efluentes ao papel desempenhado pelas nações pobres, porque acredito que são questões interdependentes e interligadas.
Na verdade, os países pobres sempre se utilizaram e ainda se utilizam do rejeito, da sucata originada da tecnologia em desuso, ultrapassada e já abandonada pelas principais potências capitalistas industrializadas em nível mundial, em especial pelas nações europeias e norte-americanas. Essas potências industriais enxergam os países pobres como locais propícios para depositarem o rejeito de sua tecnologia, juntamente com seus efluentes domésticos e industriais. E, pasmem! Enxergam-nos, inclusive, como depósito de seus resíduos nucleares. Eis porque a questão dos containers europeus foi emblemática.
Por outro lado, ao analisarmos a sociedade do consumo, que para a parcela majoritária dos cientistas é igual à “sociedade do conhecimento”, podemos verificar uma série de conflitos e contradições que envolvem o discurso da superprodução de mercadorias, que justificam o ponto nevrálgico, o epicentro do capitalismo: a mais valia [o lucro]. Hoje, virou modismo os discursos “ecologicamente e politicamente” corretos da coleta seletiva e da reciclagem de resíduos. Não estou dizendo que esta prática é incorreta. O que afirmo é que este discurso, sorrateiramente e estrategicamente, foi apropriado pelos setores mais poluidores da indústria para justificar a superprodução de mercadorias e, consequentemente, maior consumo de recursos naturais, inclusive os “não renováveis”, o que vai gerar mais resíduos. Ironicamente, hoje, quem mais defende o discurso da coleta seletiva e da reciclagem são os setores mais poluidores dos grandes conglomerados agroindustriais. Com isso, eles conseguem a tão cobiçada certificação ambiental, o que vai agregar valores “ecológicos” a seus produtos e, em consequência, promover o aumento de seus já exorbitantes lucros e, ao mesmo tempo justificar o aumento exponencial de sua produção. Se existe quem recicla, podem produzir à vontade. Essa é sua “lógica”.
As grandes questões colocadas para a humanidade são: como frear a superprodução de mercadorias? Como planejar ações sustentáveis numa sociedade que cultua o lucro acima de qualquer outro valor? O que fazer com tanto lixo, cuja produção aumenta, de forma exponencial, à custa de recursos naturais que são potencialmente finitos? De que forma e onde armazenar estes resíduos? Na sociedade da modernidade, além do acúmulo dos efluentes domésticos e industriais mais comuns, verificamos também o aumento desenfreado dos resíduos tóxicos, a exemplo do lixo hospitalar, pilhas e baterias, metais pesados, resíduos nucleares e, até mesmo lixo espacial que viaja em torno do Planeta Terra [rejeitos e sucatas de foguetes, de satélites, de sonares, de radares, etc.]. A grande certeza que temos é que a maior parte desses resíduos possuem destinos certos: irão contaminar as principais fontes de vida no planeta ainda azul, como as águas, os solos, a atmosfera. Com isso, o futuro que nos espera, o planeta já anuncia desde os anos 60, com o aumento das catástrofes, às quais o homem chama de “naturais” como o “Buraco na camada de ozônio” [que felizmente já está sendo controlado], os grandes terremotos, maremotos, tsunamis, as “chuva ácidas”, as grandes enchentes e inundações [vide a chuva de granizo em Uberaba], o aumento da poluição atmosférica, as alterações climáticas, o aparecimento de novas doenças e a volta de antigas, o aquecimento global, dentre outros eventos altamente preocupantes para a humanidade.
Caro (a) Leitor (a)!
Diversas pesquisas apontam para a extinção da espécie humana em apenas mais alguns segundos (em tempo geológico) de existência sobre a face da Terra em decorrência de sua prática destruidora. Após a extinção do homem, a terra, com certeza, se recomporá de uma forma mais saudável, sem a ameaça da existência humana. Aí, a Terra terá conseguido levar a cabo sua reação, terá expulsado de seu organismo, da forma mais dolorosa, o vírus pernicioso da prepotência humana, o grande responsável por suas enfermidades e seu estado febril.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Uma humanidade de “não humanos”

Por Valter Machado da Fonseca
Os destaques da mídia nas últimas semanas, em sua imensa maioria, referem-se à disputa territorial entre as Forças Armadas e as facções que controlam a indústria do narcotráfico no conjunto de favelas que compõem o Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro.
Ao analisarmos os acontecimentos na periferia da cidade ainda maravilhosa, ficamos perplexos, pois começamos a refletir acerca da luta do “bem” contra o “mal”, da “solidariedade” contra a “covardia”, enfim da “racionalidade” contra a “irracionalidade”. Na verdade, podemos sintetizar estes episódios como a disputa do Estado brasileiro contra o poder paralelo instalado pelos narcotraficantes nas periferias das grandes e médias cidades brasileiras. Estes episódios refletem a falta do debate, tão necessário, sobre a podridão, o estado de necrose das instituições, que dão sustentação ao Estado brasileiro.
O que estamos presenciando são cenas de barbárie, de terror, de uma autêntica guerra civil no principal ponto turístico do território brasileiro. Presenciamos a troca aberta de tiros e mísseis de armamentos pesados [inclusive uma bazuca] entre o crime organizado e as tropas da PM e do exército brasileiro. E, no meio do fogo cruzado está a população aterrorizada [trabalhadores, homens, mulheres e crianças], enfim pessoas honestas e de bem. Aliás, há quem defenda que na periferia das grandes cidades [nas favelas] só moram bandidos. Grande parte da opinião pública não tem consciência que a imensa maioria da população que habita as favelas é constituída de trabalhadores, marginalizados, segregados sócio e espacialmente, em decorrência da má distribuição de renda, da especulação imobiliária, da falta de empregos e de condições dignas de sobrevivência. Como dizia o saudoso Paulo Freire: são os “demitidos da vida”, “os esfarrapados do mundo”.
O Estado brasileiro, infelizmente, vem adotando uma política de bombeiro, de “apagador de incêndio”. Tardiamente começaram uma ofensiva para tomar o controle do território ocupado pelos narcotraficantes no Rio de Janeiro, não pela vontade de acabar com a violência urbana e restabelecer a paz na periferia. Mas, o fazem porque a imagem do Brasil vem sendo, sistematicamente, bombardeada pela opinião pública mundial e o país vai sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta: a copa do mundo de futebol em 2014 e os jogos olímpicos de 2016. Como a cidade maravilhosa é o nosso principal cartão postal é preciso “limpar” os morros cariocas. Não estou aqui tentando dizer que a indústria do narcotráfico não precisa ser destruída, muito pelo contrário, precisa ser desmontada com urgência.
O que defendo é uma ação efetiva, organizada e planejada [que não coloque em risco a vida de pessoas honestas e trabalhadoras], em nível nacional e não ações meramente pontuais. É preciso também varrer do congresso nacional os representantes dos narcotraficantes [que a cada dia mais, vem elegendo um número expressivo de representantes]. É preciso repensar a nossa política carcerária, cada vez mais infiltrada por funcionários do narcotráfico.
Não é preciso irmos longe, basta olharmos para a nossa cidade. Passear pela cidade depois das 23 horas, inclusive pela região central, já se torna um desafio e uma ameaça à nossa própria vida. Enfim, é preciso repensar nossas leis, nossa educação, nosso sistema prisional, nossa polícia. Torna-se urgente e extremamente necessário repensar nossa nação, pois o homem está trocando seus valores morais pela superfluidade da sociedade do consumo. Estamos vivendo um período no qual a perda total dos princípios humanos faz ressurgir das cinzas os tempos bárbaros e cruéis, uma humanidade de “não humanos”.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lançamento da obra “O SUJEITO & O OBJETO” foi um grande sucesso

Por NEEFICS


Mostra dos três livros já publicados por Valter Machado da Fonseca
Apresentação musical de Emerson Lino e Sandra Helena

“O SUJEITO & O OBJETO; Educação e outros ensaios” é o título do livro lançado dia 29 de outubro de 2010, às 19 horas, na Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães. A obra é de autoria do professor Mestre e doutorando em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE), Valter Machado da Fonseca e de Sandra Rodrigues Braga, Mestre e Doutora em Geografia pela UFU e Coordenadora do COSAE/CNPq.
O evento foi uma realização conjunta da Uniube e Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães encerrando as comemorações da “Semana Nacional do Livro e da Biblioteca”. O lançamento contou com a presença de 60 pessoas, entre as quais se destacaram professores universitários, professores das Redes Municipal e Estadual de ensino, professores do curso de Geografia/colaboradores EAD/Uniube, estudantes universitários e integrantes da comunidade uberabense, além de professores e pessoas do Estado de São Paulo.
É importante destacar as brilhantes palestras do Prof. Décio Bragança (UNIUBE), do Professor mestre em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), doutorando em Educação pela UFU e Professor Assistente da Universidade Federal de Goiás, Campus de Catalão (UFG/Catalão) Serigne Ababacar Cisse BA, natural de Dakar, capital do Senegal. Estiveram presentes ainda as seguintes entidades: SABI (Sociedade Amigos da Biblioteca), NEEFICS (Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro), Fórum Municipal de Educação de Uberaba, Instituto Curupira de Ecologia e (AGB/Uberaba) Associação dos Geógrafos Brasileiros, sessão Uberaba.
ESPETACULAR!!!
Não existe palavra mais apropriada que esta para definir a apresentação musical da dupla Emerson Lino (músico/violonista da Banda da polícia Militar do 4º BPM/MG) e Sandra Helena (pedagoga da Rede Municipal de Ensino e aluna do curso de Direito da Uniube). A dupla interpretou clássicos de Chico Buarque (Geni e o Zepelim), Monsueto (Mora na Filosofia, consagrada por Caetano Veloso), Belchior (Divina Comédia Humana), Michael Sullivan e Paulo Massadas (Um dia de domingo, eternizada por Tim Maia e Gal Costa), Grupo “Nenhum de Nós” (Astronauta de mármore), dentre outras belíssimas canções. Foi um Show maravilhoso.
Ao final do evento, Sandra Helena e Kelly Fernanda (colaboradora da Uniube) foram homenageadas com dois arranjos de flores, devido às magníficas contribuições que prestaram à realização do evento. O enceramento se deu com um coquetel e sessão de autógrafos. Enfim, o evento foi um grande e agradável acontecimento social, artístico, científico e cultural.

20 DE NOVEMBRO: DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Por Valter Machado da Fonseca

A história do Brasil é repleta de contradições, inverdades, conflitos e lacunas. Pode-se dizer que a história de nossa nação é carente de líderes, de heróis. Analisando, criteriosamente, as entrelinhas das narrativas que compõem os anais da nossa história pode-se perceber que, ao longo desses nossos quinhentos anos sempre se tentaram fabricar heróis fictícios para justificar as contradições e lacunas presentes na história do Brasil. Como, por exemplo, a tentativa de enaltecer a figura de Caxias ou Duque de Caxias, como se ele fosse o exemplo máximo do patriotismo. Porém, a verdadeira História nos mostra que ele não passou de mercenário, um assassino a serviço da Inglaterra que, em conluio com nossos hermanos uruguaios e argentinos, fez as maiores atrocidades com nossos também hermanos paraguaios. Tudo para sufocar o forte desenvolvimento econômico que florescia no Paraguai e que ameaçava a supremacia britânica. Assim, a nossa escola, vem incutindo na cabeça de nossas crianças, jovens e adultos, as inverdades produzidas na fantasiosa fábrica brasileira de heróis.
Recorro ao exemplo de Caxias, ironicamente patrono do nosso exército, para iniciar uma reflexão sobre o “Dia Nacional da Consciência Negra”, comemorada neste dia 20 de novembro. Até bem pouco tempo o nosso povo e nossos afrodescendentes eram enganados com a farsa do “treze de maio”. Aliás, muitos continuam a ser enganados com esta data. A princesa Isabel, assim como o nosso Caxias, não passa de mais uma enganação da nossa história. Ela [figura meramente decorativa da monarquia portuguesa] não passou de um “pau mandado” do capital internacional. Aliás, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a “abolir” a escravidão. A tal princesa não foi a grande heroína, da qual se rejubila nossa fábrica de heróis. Na verdade, a tão comemorada Lei Áurea foi assinada a contragosto pela monarquia portuguesa; ela foi uma forma menos vergonhosa de o Império não se curvar, abertamente, diante dos movimentos abolicionistas internos e externos ao país.
E quem, de fato, a Lei Áurea libertou?
Ao contrário do que divulga a nossa história, a “Lei Áurea” foi a única solução encontrada para a saída honrosa dos “Barões do Café”, da oligarquia rural oriunda dos “Senhores de Engenhos” e dos latifundiários, da enrascada política em que se meteram perante o movimento abolicionista mundial e, até mesmo dentro do país. Então, a Monarquia portuguesa, em crise, libertou por intermédio da promulgação da “Lei Áurea”, não os afrodescendentes, mas sim os representantes da oligarquia rural e dos “Barões do Café” no Brasil. Mas, e os negros? O que ganharam com isso? Nada! Absolutamente nada! Aliás, a escravidão já dava seus últimos suspiros no Brasil; a abolição se consolidaria pela própria força da resistência negra e do movimento abolicionista. Isto significaria a derrota da monarquia e a vitória da resistência negra. Então, para eles [os negros] o que restou foi o abandono à própria sorte. Foram despejados nas cidades [ambiente ao qual não estavam adaptados] sem recursos e sem quaisquer condições de sobrevivência, somando-se assim, ao exército de desempregados das metrópoles. Surgiam em nosso país os primeiros núcleos de favelas, aprofundando em seu nascedouro, a desigualdade social no país. Aí, é importante ressaltar a indagação: Por que pagar salários aos italianos e não aos nossos irmãos africanos?
E a chamada “dívida social” que temos com a etnia africana?
Em primeiro lugar é preciso indagar: quem, de fato, fez a tal dívida com nossos irmãos africanos? Foram os trabalhadores ou as elites? Foi o Brasil Colônia ou o Império português? O discurso da “Dívida social”, arduamente defendida pelo setor majoritário de nossos governantes, tem como “pano de fundo” a tentativa de mascarar a imensa desigualdade social que marca nosso país. Trata-se de um subterfúgio para fragmentar, dividir a classe trabalhadora brasileira, colocando nas costas de toda a população, os desmandos, torturas, estupros e assassinatos cometidos pelas elites representantes do Império português. É importante salientar que, o preconceito se dá em função da exclusão social e não pela cor da pele. Na “linha de pobreza” todos os marginalizados possuem a mesma cor da pele: não existe negro, branco, indígena, mulher, amarelo. Todos possuem a mesma cor, ou seja, ninguém possui nenhuma cor, todos são marcados pela névoa opaca da fome, do desemprego, da miséria.
Então, este dia 20 de novembro é importante não somente para nossos irmãos negros, mas para o conjunto dos marginalizados do Brasil. Ele deve servir como um dia de reflexão, de luta e debates sobre a emancipação dos dizimados, dos despossuídos, dos mutilados, dos invadidos de quaisquer cores. É preciso preencher as lacunas de nossa história com os verdadeiros heróis oriundos dos milhares de quilombos e dos infinitos Palmares existentes em nossa terra. O “treze de maio” é uma data que deve ser esquecida e a Resistência Negra é uma realidade que deve ser sempre revivida e reavivada em nossas mentes e nossos corações.

sábado, 16 de outubro de 2010

No limiar do século XXI: para onde caminha a humanidade?

Por Valter Machado da Fonseca
Na semana passada procurei analisar mais detidamente os noticiários dos jornais e da TV. Observei que mais de 50% das notícias veiculadas nesses órgãos da imprensa referem-se a crimes como estupros, roubos, assassinatos, corrupção, tráfico de entorpecentes, assassinatos, dentre outros. Percebi que grande parte dos delitos veiculados na grande mídia acontece sem quaisquer motivos, pelo menos aparentemente. Ceifam-se vidas de pessoas por motivos irrisórios e, até mesmo sem nenhuma causa aparente. Aí é importante indagar: para onde caminha a humanidade neste limiar de século XXI? Será que o ser humano está evoluindo ou involuindo (retrocedendo, regredindo)? O que move o ser humano a cometer tamanhas atrocidades?
Por outro lado, a tal “Globalização Econômica” vem aniquilando a cultura dos povos, eliminando as etnias e gerando um conjunto de populações amorfas, sem identidade cultual. Em nome da unidade planetária, eliminam-se as particularidades e singularidades do ser humano. Transformam-no em um objeto talhado e moldado por um instrumento qualquer. Da mesma forma assiste-se a mercantilização da natureza e seus recursos. Pregam uma sociedade acéfala, na qual o homem perde suas características singulares, particulares, como se todos fossem idênticos e produzidos em série. Tudo em nome da chamada “Sociedade Globalizada”. Em nome da tal globalização, invadem-se os dialetos, produzindo uma verdadeira americanização da língua, com seus hot dogs, Shopping Centers, Feed Backs, marketings, dentre inúmeros outros vocábulos estrangeiros que invadem nosso vocabulário cotidiano. É a banalização da língua! Mas, tudo se justifica em nome da tal globalização.
Voltando às mídias quentes, em especial a TV, você já cronometrou o tempo de propaganda que toma conta dos intervalos da programação? É um tal de compre isso! Compre aquilo! Vende-se isso! Liquidação total, etc., etc. . O resultado a gente vê nas ruas. Se observarmos com critério, veremos jovens com dois, três, quatro, ... dez aparelhos celulares. Veremos famílias com três, quatro, cinco automóveis, em pleno ápice do aquecimento global. Aí perguntamos: para que tudo isso? Verificamos que o homem já não tem nenhum projeto maior de vida, pois, o fetiche da sociedade do consumo leva o ser humano a se contentar e supervalorizar os bens materiais, aqueles mesmos que a TV manda a gente comprar. Então, o fetiche e a sedução do consumismo fazem com que esses bens matérias ocupem o centro de nossa existência, de nossa vida. Assim, somos capazes de matar nossos semelhantes pela posse desses bens supérfluos. É a banalização da vida, o início da sociedade da barbárie, que conduz o à exploração selvagem do homem pelo próprio homem.
Portanto, é com pesar que verificamos que a humanidade, em pleno limiar do século XXI, está trocando a ética, a honradez, a solidariedade. Trocam-se, os valores humanos, pelo supérfluo, pelo descartável, pelo irrisório e ilusório. Infelizmente, esta é a grande marca da “Globalização Econômica”, uma sociedade “altamente (des)envolvida”. Será mesmo desenvolvida ou estamos promovendo, em nome da modernidade, uma volta à idade das cavernas? O Brilhante Geógrafo, Prof. Milton Santos acreditava que outro mundo é possível, que é preciso lutar “Por uma outra globalização”. Diante de tudo que temos visto na grande mídia e nas próprias ruas, precisamos reconstruir nossas esperanças. Esperanças em um tempo que há de vir, onde o homem reconquiste sua dignidade, seus valores e uma razão que dê à vida um motivo real para continuidade da existência humana neste planeta. Caso contrário, deveremos nos preparar para a grande tempestade que se anuncia pelas nuvens negras que já estão à vista no horizonte da humanidade, neste limiar de século XXI.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia do professor: o que temos a comemorar?

Por Valter Machado da Fonseca
Neste dia 15 de outubro comemora-se o dia do professor. Mas, aqui cabe a indagação: o que comemorar? É com tristeza e decepção que refletimos sobre nossa profissão e chegamos à desoladora conclusão que não temos nenhum motivo para qualquer comemoração.
A profissão docente tem sido enxovalhada, colocada em segundo plano, enquanto a educação tem sido, sistematicamente, transformada em mera mercadoria a serviço do lucro. É notório que toda a sociedade passa, necessariamente, pela escola e, consequentemente, pelas mãos dos professores. No entanto, esta honrada profissão é humilhada, subjugada, como se fosse um mero acessório, um bem descartável a serviço da reprodução do capital. Os governos e os “especialistas” dos currículos das escolas, em todos os níveis, vêm substituindo os conteúdos necessários para a compreensão do mundo, para o enfrentamento da vida, por valores superficiais e/ou meramente técnicos. A escola tem sido transformada em mais uma ferramenta que serve apenas para capacitar para o mercado de trabalho. É a “lógica” da técnica substituindo os valores humanos. Esta é a escola do século XXI que se preocupa com a formação dos sujeitos apenas para saciar a ganancia da mais valia e não para prepará-los para enfrentar sua aventura maior: o mundo, a vida.
Por isso as disciplinas que tratam das ciências humanas, como a Filosofia, Geografia, Artes, Antropologia e a Sociologia, dentre várias outras, têm sido relegadas a segundo plano. As disciplinas que tratam dos valores humanos são perigosas para os detentores do poder político, pois elas ensinam os sujeitos a pensar e, ao capital, aos donos do poder não interessam formar sujeitos pensantes, pois estes vão questionar seu poder, sua “justiça”, seus valores hipócritas, oriundos da sociedade do consumo e do culto ao supérfluo, ao descartável. Trata-se da relação saber/poder, conforme enfatiza Michel Foucault em sua “Microfísica do Poder”.
Dentro desta lógica, a profissão docente é subjugada aos anseios dos donos do poder. A eles interessam a formação de professores que não pensam, não questionam. Interessam a eles formar professores “enlatados”, “enquadrados”, “acomodados” dentro de seus projetos de perpetuação do modelo de reprodução do capital, de manutenção do status quo da ganancia exponencial da mais valia capitalista. Seguindo esta lógica, a formação de professores para atender uma educação que, a cada dia mais, se transforma em mercadoria, também têm que se submeter aos salários aviltantes do mercado da “indústria do vestibular”, dos governos capituladores, ou dos grandes grupos inter/multi/transnacionais que tomam conta das escolas e das universidades brasileiras.
Por fim, neste dia 15 de outubro, mesmo não tendo o que comemorar, fica o convite aos colegas professores: vamos partir para uma séria reflexão sobre a nossa prática em sala de aula e nossa profissão. Faz-se urgente que ergamos a cabeça e comecemos a olhar a escola para além de seus muros, repensando seu papel social. Faz-se urgente que entendamos nosso papel enquanto sujeitos formadores de valores éticos, morais e de sujeitos que podem ser agentes, cidadãos transformadores da dura realidade socioeconômica e cultural em que vivemos. É urgente que percebamos qual é o nosso relevante papel, no interior de uma sociedade cada vez mais carcomida, deteriorada pela imoralidade em todos os níveis e que caminha, a passos largos, para a barbárie. Vamos passar a limpo nossa profissão e a escola no Brasil, visando à formação de sujeitos que sejam agentes de transformação social, ao longo de um processo histórico e cultural.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Eleições, educação e promessas eternas

Por Valter Machado da Fonseca
Aproxima-se mais um pleito eleitoral, no qual o povo brasileiro é chamado a eleger o presidente da república, governadores dos Estados, senadores e deputados (federais e estaduais). Como de costume, o processo que antecede às eleições, também denominado de propaganda eleitoral, é recheado de promessas. Assistem-se desde promessas sensatas e executáveis, até mentiras mirabolantes, totalmente fora do contexto e da realidade conjuntural de nossa população.
Como em todos os processos eleitorais brasileiros, o centro da disputa passa por um turbilhão de promessas em torno das áreas de saúde, moradia, educação, transportes, dentro de outros assuntos. É interessante verificar que nesta hora, todos os candidatos: desde os postulantes à presidência da nação, passando pelos governadores e senadores, até deputados, tornam-se verdadeiros especialistas nestes assuntos, tão importantes para o povo brasileiro. Lançam mão de diversos dados estatísticos para mostrarem seu “vasto” entendimento nessas relevantes questões. Todos têm propostas para resolverem definitivamente esses problemas. Mas, o que mais chama à atenção é que, assim que terminado o pleito, essas propostas praticamente somem, evaporam, esmaecem como fumaça no ar, para retornar após quatro anos no próximo pleito.
Quero aproveitar esse espaço para chamar à atenção para a educação brasileira. Causa-nos constrangimento falar do salário dos nossos professores, principalmente na Educação Básica. Esses educadores assumem uma responsabilidade gigantesca, pois toda a sociedade passa pela Educação Básica. No entanto, recebem salários aviltantes. Aqui não estou fazendo comparações nem falando de um município nem Estado em particular. Refiro-me ao conjunto dos municípios e Estados brasileiros.
Além dos péssimos salários, os docentes enfrentam uma série de problemas como: falta de material didático, salas de aula superlotadas, violência e ameaças dentro da escola, preconceitos e discriminações, problemas de consumo e tráfico de drogas no ambiente escolar, dentre inúmeros outros problemas. No entanto, as eleições vêm e vão e os mesmos problemas continuam. No ensino superior vemos inúmeros problemas que não estão tão distantes dos da Educação Básica.
Um dos grandes problemas que atingem frontalmente a educação superior refere-se aos concursos públicos. Neste último período em especial, inclusive em nossa cidade de Uberaba, nos deparamos com a tentativa de fraude escandalosa em concursos que visam à contratação de docentes para o magistério superior. Foi necessária a intervenção do Ministério Público Federal para frear as falcatruas. É preciso que o governo federal seja ele qual for que vier a assumir o Palácio do Planalto, tome medidas severas no sentido de moralização dos concursos públicos no Brasil. Neste sentido, temos propostas práticas de elaboração de documentos que comprovem as fraudes escandalosas nos concursos públicos que deverão ser entregues diretamente ao MEC e ao ministro da educação, exigindo providências que visem punir os responsáveis pelas fraudes nos concursos, além de garantir ética e transparência na gestão e no trato da coisa pública no Brasil.
Esperamos que este pleito eleitoral sirva, pelo menos, para dar início a um novo processo que tenha como norte a transparência e a ética na gestão dos recursos da população que são investidos na educação, visando a moralizar todo o processo que rege os concursos públicos no país. É preciso, urgentemente, passar a limpo a educação no Brasil.

sábado, 18 de setembro de 2010

MEMBRO DO NEEFICS LANÇA SEU NOVO LIVRO EM OUTUBRO


Por NEEFICS
“O SUJEITO E O OBJETO” é o título do mais recente livro de autoria do professor mestre e doutorando em Educação e docente da Universidade de Uberaba, Valter Machado da Fonseca. Esta obra, assim como a anterior, foi produzida em parceria com a Profª. Drª. Sandra Rodrigues Braga, coordenadora do COSAE/CNPq.

O livro já tem o lançamento agendado para o dia 29 de outubro de 2010, na Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães, localizada no centro de Uberaba (MG). O evento será realizado às 19 horas e contará com a presença do autor de seu prefácio, Prof. PhD. Humberto Guido do Programa de mestrado em Filosofia da UFU e de Doutorado em Educação também da UFU, além do Prof. Décio Bragança, da Uniube e autor do posfácio da obra.
O evento é uma realização conjunta da UNIUBE/Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães, da cidade de Uberaba. Ele terá, ainda, o apoio cultural do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS), da seção uberabense da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB/Uberaba) e do Instituto Curupira (ONG ambientalista de Uberaba).
O evento será perpassado em diversos momentos por uma bela apresentação musical, que terá como vocalista a pedagoga Sandra Helena, também aluna do curso de direito da Uniube. Ela interpretará diversos clássicos da MPB, além de canções de compositores contemporâneos. Enfim, o evento se constituirá em uma bela oportunidade de debater as grandes questões relacionadas à área da Educação, em um ambiente embalado pela magia da boa música popular brasileira.

domingo, 22 de agosto de 2010

A cultura e a contracultura

Por Valter Machado da Fonseca
Caros (as) leitores (as)!
Hoje, me dirijo a vocês para falar de uma angústia que vem crescendo, continuamente, nos tempos presentes. Gostaria de falar um pouco acerca dos meus devaneios, quase frequentes nas madrugadas frias de inverno. O assunto que ora me atormenta é o processo cultural [ou contracultural] no qual estamos submersos até o pescoço. O que é cultura, afinal? Na sociedade moderna é difícil [para não dizer impossível] respondermos a esta indagação. Observando os noticiários, a música, a dança, enfim, as diversas formas de expressões atístico-culturais, vemos uma pseudocultura construída sob o marketing da sociedade de consumo. Uma "cultura enlatada"! Acho que essa é a expressão correta.
Quando Caetano Veloso se referia ao “lixo ocidental” em suas belas canções, ele se referia ao rejeito, à sucata, aos dejetos, às sobras de uma produção cultural americanizada e europeizada, de forma forçada e, cujo destino final eram as mentes e os corações africanos e latinoamericanos. Caetano, Gil, Chico Buarque, Edu lobo, João Bosco, Belchior, dentre outros, chamavam à atenção num movimento pós Tropicália, para os perigos de nos deixarmos engolir por essa contracultura que surgiu da lama gosmenta americanizada e europeizada. Uma cultura que não servia para eles, mas que queriam empurrar para nós, assim com tentaram fazer, recentemente, com seus containers de lixo. Quero deixar claro que defendo a ideia de uma cultura universal, sem fronteiras, enfim, uma cultura para a liberdade. A arte é universal, não tem fronteiras. Porém, nunca defendi o acolhimento universal ou localizado de rejeitos da contracultura estrangeira.
Hoje, basta olhar os enlatados da TV, do rádio, das revistas e dos jornais para percebermos a invasão sistemática não da cultura originada simplesmente do “lixo ocidental”, mas advinda do “lixo”, proveniente do “lixo ocidental”, ou seja, “o lixo do lixo ocidental”. Os perigos sobre os quais nos alertavam Chico Buarque e seus amigos estão aí, invadindo, escancaradamente, nossas casas, nossos corações e nossas mentes. Na barbárie da sociedade atual, assistimos à gestação de uma sociedade acéfala e aculturada, reprodutora da contracultura, do culto ao consumismo e ao descartável. Presenciamos o nascimento de uma sociedade, na qual os valores culturais se edificam sobre a podridão de um sistema necrosado e decadente, onde o inimigo mortal do homem é o próprio homem.
Mas, será que tudo está perdido? Eu afirmo que não. No meio de toda essa contracultura gosmenta, em meio ao “lixo do lixo ocidental” podemos verificar que existem pessoas que criam a boa música, a boa literatura, a boa pintura, a boa fotografia, a boa dramaturgia. Em nossa região e, em especial em nossa cidade, temos legítimos representantes de uma cultura autêntica e que reflete os valores artístico-culturais originais de nosso povo. Mas, para isso é necessário que saibamos garimpar. Esses expoentes culturais de nossa gente estão perdidos no meio do “lixo do lixo ocidental”. É preciso que os encontremos e estendamos-lhes as mãos, antes que eles sejam tragados pelo “buraco negro”, pegajoso, obscuro, sem fim, da contracultura gosmenta americanizada e europeizada. Faz-se urgente que os salvemos do “lixo do lixo ociedental”.

sábado, 14 de agosto de 2010

A ciência e a prática da ciência nas bordas da modernidade: Prefácio livro "O SUJEITO & O OBJETO"

É também com grande orgulho e satisfação que apresentamos o posfácio do livro "O SUJEITO & O OBJETO", de autoria de Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga. Este prefácio foi uma gentil contribuição do Prof. PhD. Humberto Guido, docente do Programa de Mestrado/Doutorado da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (PPGED/FACED/UFU).

PREFÁCIO
Por Humberto Guido
O título deste livro remete ao feixe de questões que dão expressão ao modelo de ciência produzido pelos modernos, cuja obra coletiva vem sempre à mente quando se discute os impasses do tempo presente, a devastação do planeta, o envenenamento da mesa (daqueles que a tem), a concentração de riqueza e a disseminação da miséria em escalas jamais constatadas pelos estatísticos. O problema não é etimológico, como se a simples interpretação da palavra ciência pudesse descerrar o mistério do mal que avança sobre a humanidade, tornando plausível a destruição precoce do planeta e com ele todas as formas de vida.
O conteúdo dos capítulos deste livro levará o leitor a entender que a crise não é interpretativa, a pergunta elementar “o que é a ciência afinal?” abordada no primeiro artigo (O DISCURSO HEGEMÔNICO NAS ENTRELINHAS DO SABER) informa que o problema não é semântico, o que se deve discutir é a prática da ciência, uma situação que de saída sugere que o problema ainda não foi captado pelas instituições formadoras de professores: as universidades e os centros de educação superior. A prática da ciência ainda se faz desconhecida para grande parte dos profissionais da educação, seja a básica, seja a superior, e por vezes até mesmo na pós-graduação.
A percepção da realidade não muda apenas com interpretações, é preciso uma nova atitude para o enfrentamento dos velhos problemas, para isso é preciso repensar a formação dos agentes sociais, desde a criança até os professores formadores de professores, esta situação foi destaca por Marx em uma simples afirmação categórica, uma tese em pouco mais de três linhas: “A doutrina materialista sobre a mudança das contingências e da educação se esquece de que tais contingências são mudadas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado” . É preciso, portanto, refletir sobre a prática educativa, também nas escolas, pensar sempre! Esta orientação aparece em todos os artigos do livro, com maior intensidade nestes: Degradação ambiental e exclusão social: interfaces de um problema da cidade (e da sala de aula), Globalização, crise da educação e falência da modernidade: notas para uma ação ética na escola, Uma escola para além do capital: o currículo como instrumento de controle ideológico.
Os outros artigos percorrem a mesma via que conduzirá o leitor na discussão da educação ambiental, cuja reflexão contribuirá na elucidação dos impasses epistemológicos e didáticos, que quando ignorados dão oportunidade para a reprodução o modelo pedagógico alienado e distante da prática da ciência contemporânea, o que na maioria das vezes reforça a visão ingênua da ciência como portadora da verdade definitiva para o progresso e prosperidade, de maneira que todo produto da ciência é necessariamente bom e deve ser recebido com aplauso. A educação ambiental é o grande desafio da sociedade capitalista e o seu sistema de ensino.
A leitura dos artigos é oportuna, não apenas pelo alerta dado pelos autores, mas, a contribuição significativa do conjunto de artigos aqui reunidos é a proposição da atitude crítica frente aos problemas gerados pelo modelo de desenvolvimento capitalista, que é sustentado pelo consumo em larga escala e cujo resultado ultrapassa a reprodução das forças de produção. O resultado visível do modelo é a devastação do ambiente, não somente os ecossistemas, o ambiente humano também é contaminado, sendo assim, a educação ambiental é atravessada pelas questões éticas: do indivíduo, do grupo, da sociedade.
A característica marcante dos escritos de Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga é a abordagem do problema em sua complexidade, suas análises evitam o imediatismo da leitura de superfície, as ponderações e digressões analíticas escavam a realidade, para deixar visível o cerne dessas questões que se entrelaçam o que inviabiliza a conduta tipicamente positivista de responder aos desafios, porque no velho paradigma o diagnóstico quer insistir na simplicidade das situações-problema, como se a realidade estivesse destituída da multiplicidade que lhe dá forma.
É preciso uma nova atitude educativa, que demanda a mudança de paradigma no âmbito da educação, deixando para trás o ensino formal calcado nos conhecimentos inertes e incapazes de elucidar o mundo. A mudança na esfera da educação uma possibilidade de revisão da prática da ciência, porque não existe a ciência sem o cientista, logo, a ciência é uma prática social, que até o momento esteve submetida ao modelo econômico, mas que pode mudar e fazer mudar o modelo, instaurando em seu lugar uma nova mentalidade, comprometida com a conservação da natureza e igualmente engajada na preservação do humano em harmonia com todas as formas de vida.
Não é por outra razão que o livro se encerra com um ensaio sensível dedicado a Paulo Freire (Paulo Freire e a educação libertadora: Um modelo para a construção de uma nova escola), educador brasileiro cuja teoria alcançou o mundo e pode ser identificada ao lado de outras práxis empenhadas na refutação do autoritarismo científico e da alienação escolar. Com esta certeza, renovo a esperança de que o mundo ainda é viável, que a humanidade ainda pode ser educada.
Boa leitura!

Posfácio livro "O SUJEITO & O OBJETO"

É com imensa satisfação que apresentamos a todos (as) que acompanham o Blog do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS), que apresentamos o Brilhante posfácio escrito pelo nosso querido professor Décio Bragança, docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE).

POSFÁCIO
Por Décio Bragança
É uma honra para mim posfaciar uma obra que se propõe discutir assuntos tão importantes, como educação, modernidade, ecologia, cuidados com o planeta Terra e cuidados com os homens neste planeta. É uma honra posfaciar uma obra de tão importantes professores: Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga.. foi deveras um dos grandes prazeres ler uma obra complexa, concisa, reflexiva e proativa.
Urge uma revolução nos destinos do país. A revolução a que se pretende começa nas escolas. A escola é o lugar de explosão de idéias, onde se planejam as ações transformadoras e de ruptura, onde se conjugam todas as inteligências nacionais, porque na escola está a massa humana de todos os destinos e um projeto organizado. Há de se fazerem aliados, companheiros, estradeiros, caminhantes, utópicos, idealistas, entusiásticos, inquietos, rebeldes e sonhadores. Caso contrário, a revolução não sai do papel.
É dever de todos trabalharem. O trabalho assalariado é algo muito novo e já está prestes a morrer, a acabar. Afinal, já sobreviveu por, mais ou menos, duzentos anos, no mundo. No Brasil, sobrevive, mais ou menos, há uns cem anos, século XX. Associado à idéia desse tipo de trabalho, houve a expansão desordenada de escolas, de universidades, do ensino superior no Brasil. Isso é coincidência? Claro que não! Não existe coincidência! Só isso prova que as escolas estão preparando e formando mão-de-obra barata ao mercado explorador, a serviço do capital humilhante e discriminatório.
A sociedade brasileira atual se espelha num modelo neoliberal, capitalista, legalista, punitivo, individualista, onde cada um se salva, cada um é o que é, porque assim quer. “Muita gente não melhora de vida, porque não quer, porque não trabalha” – sabemos que isso é uma das maiores mentiras, assimiladas por todos como verdade inquestionável. Ninguém quer ser mau, bandido, vagabundo, preguiçoso, lixeiro, servente, ajudante do ajudante que limpa o cocô do cavalo do bandido. Sem chances e oportunidades, sem saúde e educação, sem alimentos e satisfação das necessidades básicas, vivendo o descaso e desprezo de todos, torna-se quase impossível ainda alguém reagir na luta pelo bem, pela verdade, pela beleza!
As cadeias, penitenciárias, delegacias estão superlotadas e amontoadas de pessoas pobres, de pouca escolaridade, de pouco poder aquisitivo, com poucas chances e oportunidades, negras e mulatas... Será que pessoas ricas, de boa escolaridade, com todas as chances e oportunidades, brancas e claras... não traficam drogas, não cometem crimes, não assaltam, não estupram, não roubam, não dão grandes e pequenas golpes? Claro que sim. E por que não vão presas? Há muitas razões. Uma delas é que os primeiros vivem em morros e favelas, e porque não têm atestado, certidão de posse, de propriedade do terreno e do barraco, a área é considerada pública. Consequentemente, seus crimes acontecem, para as autoridades, em lugares públicos. É só a polícia, as forças de segurança, o exército com seus tanques chegarem e levarem as pessoas que julgam suspeitas. No outro caso, o crime é cometido em lugares privados, condomínios, apartamentos, escritórios... e a polícia, as forças de segurança, o exército com seus tanques não podem entrar sem ordem judicial. Uma ordem judicial não é assim dada de uma hora para outra, principalmente sem uma causa, sem um motivo, sem um indício ou suspeita ou prova de crime. Nas escolas e nas universidades, professores e estudantes acham tudo isso muito normal, que deve ser assim mesmo, que deve ser protegido e divinizado o direito de propriedade.
Flagrantes espetaculares vão para os meios de comunicação de massa e a massa – que não pensa, segundo alguns – acha que todo pobre, que todo desempregado, que todo negro, que todo analfabeto, que todo homossexual, que todo favelado... é criminoso. Há força de segurança, exército, polícias... invadindo os morros, mas não invadem condomínios fechados e com segurança particular. Diante de tamanha insensatez, professores, mestres, doutores, phd’s... se calam e acham que tudo isso é muito normal. Diante de tanta injustiça, nenhuma escola protesta, nenhuma universidade protesta, levanta a voz.
Não existe educação sem cumplicidade. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que há cumplicidade de todos em todas as relações humanas e sociais. Essa cumplicidade poderá ser entendida como omissão. A título de exemplificação: se há traficante, há usuários de drogas, e vice-versa. Ambos são culpados, ou ambos são inocentes, mas as nossas leis, feitas por alguns poucos que freqüentaram escolas, em sua maioria, criam uma cara para o traficante e outra cara para os usuários, vivendo em estratos sociais bem definidos e diferentes. É um absurdo! As escolas não conseguem mudar o modo de pensar de pessoas que, proximamente, serão legisladores, juízes, promotores, procuradores... As escolas usam um discurso sem efeito – um sino que toca! O interessante é que esta mesma sociedade quer penas maiores para os traficantes e tratamento médico para os usuários, gratuitamente. Será que tanto um quanto outro não precisam de tratamento médico? Será que tanto um quanto outro não precisam de penas maiores e mais rigorosas? Infelizmente, nunca as escolas foram culpadas por essa situação! Quando as escolas e as universidades se calam, os discursos da mídia eletrônica e impressa criam as soluções de todos os problemas.
A expansão de escolas superiores foi muito maior que a oferta de empregos. A indústria, o comércio, os postos de serviços... não conseguem absolver todos os estudantes diplomados. O diploma, hoje, não garante absolutamente nada e muitos diplomados ficam sem emprego. A sociedade tem de entender que melhor do que um diploma, as pessoas têm de viver com dignidade e encanto. É triste observar a fila de desempregados com um diploma de curso superior na mão! Se o trabalho é um dever de todos, não será a escola, a universidade que vão resolver a questão de desemprego.
O desemprego, talvez, hoje, seja o nosso maior problema social. O interessante é que todos sabemos que ainda no Brasil tudo está para ser feito, para ser construído. Qualquer e todo país subdesenvolvido se oferece e oferece oportunidades maiores do que os desenvolvidos, onde quase tudo já está pronto, construído. E por que isso não acontece, aqui? Somos e fomos aculturados para ser empregados e não para ser trabalhadores! Somos e fomos aculturados para ser submissos e não decidir! Somos e fomos aculturados para ser obedientes e não empreendedores! Somos e fomos educados para obedecer, para fazer e não para pensar, para decidir!
A escola é, sim, a grande responsável pela mediocrização e alienação, pela massificação e humilhação, pela imbecilização e exploração do homem pelo homem. Uma pessoa com vinte anos de escola, de escolarização, passando por todos os níveis e graus, não pode se sentir um zero à esquerda, um nada. É uma afronta a todos os deuses e deusas de qualquer fé.
Não precisamos de heróis, nem vítimas, nem salvadores da pátria, mas precisamos, sim, de uma revolução que se faz com todos e com cada um. É preciso que todos e cada um opte pela revolução, apóie suas lutas e conquistas, participe da feitura de um novo destino.
Uma revolução é um momento mágico, porque é um mergulho na existência e nas razões da existência. O mágico, a magia faz parte da vida. De uma célula-ovo, um ser! Não há de haver maior transformação, mudança, revolução do que a própria vida! E o ciclo revolucionário da vida não tem fim, não termina.

Centro de Uberaba: planejamento urbano e revitalização


Por valter Machado da Fonseca

Foto: Concha acústica
Às vezes fico me perguntando o que será que falta aos administradores e legisladores de nossa cidade: bom senso, vontade política ou será mesmo falta de compreensão e informação sobre assuntos referentes a um efetivo planejamento urbano-ambiental? Quando me deparo com algumas entrevistas com diversas autoridades, representantes do poder executivo e/ou legislativo de nossa cidade fico estarrecido diante de algumas análises, explanações e informações referentes aos problemas urbanos e ambientais de nossa querida Uberaba. Se prestarmos atenção às entrelinhas dessas entrevistas conseguiremos perceber a completa desinformação e incompetência para tratar de determinados assuntos, em especial àqueles referentes às questões urbanas e ambientais.

A partir dessas considerações, quero me deter em alguns comentários acerca da urbanização do centro de nossa cidade de Uberaba. Esquecendo, momentaneamente, do problema crônico das enchentes, podemos verificar que as áreas centrais de nossa cidade são especialmente belas, porém, muito mal urbanizadas, planejadas e utilizadas. A começar pelo nosso patrimônio histórico-arquitetônico, que vem sendo sistematicamente destruído para dar lugar a nada. Falta informação [ou não] aos nossos administradores e legisladores, quando permitem que edificações antigas e belíssimas sejam levadas ao chão, para dar lugar a estacionamentos. Esses senhores demonstram total incompetência ou desinformação acerca dos fatores e aspectos que contam a história e registram a nossa cultura. O patrimônio arquitetônico das cidades são registros fundamentais de nossa história.

Outro aspecto que vem incomodando a população se refere ao planejamento [ou falta dele] de nosso trânsito. O trânsito de Uberaba tem se tornado cada vez mais caótico. O número de veículos, nos últimos anos, quase se equipara ao número de habitantes. Nos horários de pico, em especial nas áreas centrais da cidade tem se transformado num verdadeiro inferno. O mais grave é que não se vê nenhuma ação eficaz e efetiva visando a solucionar tal problema.

O centro de nossa cidade torna-se extremamente desorganizado nos dias úteis e totalmente morto nos finais de semana. É preciso planejar ações efetivas objetivando a revitalização correta da parte central de Uberaba. Quando se trata de arborização, o problema se agrava ainda mais. A vegetação das áreas centrais foi quase que totalmente removida. Isto, aliado à queimada da palhada da cana-de-açúcar já produz diferenciações climáticas nas áreas centrais, o que se denomina bolsões ou ilhas de calor. Uberaba talvez seja uma das cidades menos arborizadas do Brasil e, isto é extremamente desagradável para as condições da qualidade de vida de nossa população.

Por fim, gostaria de destacar a necessidade de revitalização do centro de nossa cidade. Podemos observar uma quantidade considerável de espaços ociosos, como a praça da concha acústica que não são utilizados para absolutamente nada, a não ser para a ação de vândalos que destroem o nosso patrimônio arquitetônico. Por que não revitalizar o centro de nossa cidade, aproveitando os espaços ociosos para atividades culturais de nosso povo. Dessa forma, além de otimizarmos e revitalizarmos o centro urbano de Uberaba, estaremos dando vazão ao potencial criativo de nossos artistas e auxiliando no combate ao vandalismo em nossa cidade. Tudo depende de bom senso e da vontade política de nosso poder público e nossos legisladores. É preciso parar de discutir o “sexo dos anjos” e voltar os olhos para os problemas reais de nosso povo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O MUNDO, “IMUNDO”, ONDE VIVEMOS

Por Valter Machado da Fonseca
Não faz tanto tempo, as pessoas costumavam sentar-se à tardinha no passeio de suas casas para um dedo de prosa, para falarem do dia a dia, ou, simplesmente, para curtirem um momento com a família ou com os amigos. Hoje, essas cenas, corriqueiras há alguns anos atrás, nem são cogitadas. Corre-se o risco de serem atropeladas, assaltadas, ou até mesmo assassinadas. Não faz tanto tempo, as crianças soltavam pipas nos lugares apropriados, brincavam de esconde-esconde, de amarelinha, de pique, dentre outras brincadeiras saudáveis. Elas corriam livres atrás de uma bola, sem se preocuparem com os problemas dos adultos. Hoje, elas ficam trancafiadas em seus quartos à frente de um computador, se relacionado, virtualmente, com pessoas irreais em espaços virtuais.
Não faz tanto tempo, crianças e adultos saíam juntos aos domingos para um piquenique, uma pescaria, ou simplesmente pelo puro prazer de passear, de curtir o bairro, a comunidade, a natureza. Hoje, os filhos saírem com os país é caretice. O mundo das crianças não pode ser compartilhado com os adultos. E aí, justifica-se: o mundo mudou, são os tempos modernos, é preciso se adaptar aos novos tempos. Não faz tanto tempo, o domingo era dia de curtir a vida, a família, os amigos, de colocar a prosa em dia, viajar para descansar o corpo e a mente. Hoje, o domingo é dia de ficar em frente à TV [desprovida de qualquer conteúdo] assistindo aos enlatados [sempre os mesmos]. Hoje, o domingo [todo domingo] é dia de ir ao Shopping Center e, consumir, consumir, consumir... Depois voltar para casa, carregado [sempre] de embrulhos e sacolas, que dentro de pouco tempo irão diretamente para o lixo.
Não faz tanto tempo, o ato de sair para a rua era prazeroso, hoje é perigoso. O domingo era divertido, hoje é pervertido. Os adultos trocavam idéias, hoje se agridem, mata-se por dez reais, o sexo virou pornografia, pedofilia, verborragia. As crianças, outrora inocentes, viraram marginais, trocaram a pipa pelo revólver, trocaram as brincadeiras pelas drogas, pela alucinação de uma ilusão sem projetos, sem conteúdo, sem essência.
Os tempos modernos criam valores fictícios, o culto ao consumismo, ao supérfluo, ao descartável. Trabalha-se simplesmente para consumir, para manter a expansão e reprodução do capital. O trabalho perde a centralidade de justificar a existência humana para virar apenas alienação. As religiões se multiplicam em milhares, às vezes a diferença está na vírgula da bíblia. Vêem-se inúmeras pessoas que saem do culto, da missa ou de outra coisa que o valha, batendo no peito, com a consciência do dever cumprido. Mas, no dia a dia, são incapazes de um aperto de mão, de um sorriso, de uma simples palavra de conforto para seus semelhantes.
Os prazeres autênticos da vida, os projetos maiores de felicidade, de mundo, de vida, são substituídos pela hipocrisia, pela covardia, pela violência, pelo consumismo. Os valores éticos e morais foram soterrados pela ganância, pela corrupção, pelas maracutaias, pelo poder das elites conservadoras. Estes valores supérfluos, imorais tornaram-se letais, mortais: são a essência do conteúdo do mundo, “imundo”, onde vivemos.

sábado, 7 de agosto de 2010

EM BUSCA DA ÉTICA PERDIDA

Por Valter Machado da Fonseca

Às vezes me vejo perdido, absorto em meus pensamentos sobre valores humanos e morais. Observando as notícias que povoam os meios de comunicação de massa (jornais, revistas rádio e TV) verificamos a repetição insistente e cotidiana de matérias acerca de violência para todos os gostos, como por exemplo, filhos assassinando pais e vice-versa, estupros, assaltos, esportistas envolvidos em seqüestros e assassinatos, enfim um turbilhão de mortes e atentados tanto físicos, quanto morais às pessoas envolvidas, quanto aos que acompanham as notícias na mídia.
Essas cenas de barbárie generalizada trazem à tona a velha discussão sobre os valores que deveriam ser inerentes ao caráter do ser humano, como o respeito, a solidariedade e a ética. Vários são os estudos e pesquisas existentes sobre a temática. Inúmeros são os estudiosos que se dedicam ao assunto. Grande maioria deles acaba associando a violência, falta de limites, a prática de delitos tão aviltantes, à origem pobre de alguns envolvidos. Outros a associa a aspectos sociais e educacionais. Porém, quase ninguém associa a violência ao modelo econômico que domina a sociedade da modernidade: o capitalismo.
O atual modelo econômico da produção nasceu da Revolução Francesa sob a égide de três palavras: liberdade, igualdade e fraternidade. Três palavras que apontavam para um modelo de sociedade que seria a solução para os problemas da humanidade, que apontavam para a promessa de felicidade do homem. Ironicamente, o que se vê é exatamente o contrário, assistimos, nos tempos presentes à desgraça humana, ao início da barbárie generalizada, ou seja, ao extermínio do homem pelo próprio homem. O ser humano não tem projetos de vida, não tem projetos de sociedade, nem projetos de mundo. Seus projetos são produzidos de acordo com os interesses dos grandes grupos e conglomerados multi/transnacionais, potentes ferramentas a serviço da plena expansão e reprodução do capital, a serviço da mais-valia a qualquer custo e qualquer preço.
As nossas crianças e jovens se enjaulam em seus quartos, vivendo mundos e vidas virtuais. Não entram em contato com seus semelhantes, a não ser por intermédio da grande rede mundial de computadores. Seus desejos são construídos segundo os interesses do consumismo, do culto ao supérfluo e ao descartável. Essas tendências e cenários mundiais além de produzir o lixo sólido e líquido que contamina as águas, a atmosfera e o solo, ainda produz o lixo moral que contamina as mentes e os corações da humanidade. Onde o ser humano vai parar com essa barbárie? Para onde caminha a humanidade no limiar do século XXI? Onde foram parar a liberdade, a igualdade e fraternidade?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O SUJEITO & O OBJETO é o título do mais recente livro de Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga




Por NEEFICS

Mais uma vez, o professor mestre e doutorando em Educação Valter Machado da Fonseca, membro do NEEFICS, brinda a comunidade acadêmica, professores, pesquisadores, estudantes e sociedade em geral, com outra obra de relevante significação. Como na última obra, este livro resulta de um trabalho do autor em parceria com a Profª. Drª. Sandra Rodrigues Braga, analista de projetos e coordenadora do COSAE/CNPq. “O SUJEITO & O OBJETO: educação e outros ensaios” faz o resgate de uma série de artigos trabalhados nos últimos cinco anos, individualmente e em parceria com a Profª. Drª. Sandra Braga. A obra reúne uma diversidade de artigos acerca de assuntos como Educação Ambiental, produção do conhecimento científico, currículo, ecologia, Filosofia, ensino/aprendizagem e outros artigos voltados para a teoria da educação, além de ensaios em diversas áreas das ciências humanas.
Sobre a obra:
O SUJEITO & O OBJETO
é um livro que visa instigar o debate acerca dos principais aspectos e abordagens que permeiam a teoria da educação, em especial na sociedade da modernidade. Este livro faz um apanhado de importantes artigos que tratam das temáticas educacionais, em especial, daquelas, diretamente, ligadas à produção do conhecimento. As análises encontradas nos diversos artigos que compõem esta obra têm em comum a preocupação com a discussão metodológica do ato de fazer ciência. Fazer ciência, a nosso ver, é muito mais que propiciar as condições favoráveis para a plena expansão e reprodução do capital. Significa, sobretudo, indagar sobre os métodos, os objetivos e as finalidades do fazer na ciência e com a ciência. Significa, acima de tudo, indagar a quem é dirigida a produção do conhecimento, quem se apropria do conhecimento produzido e de que forma esse conhecimento é apropriado. Por fim, este livro trata dessas discussões no terreno educacional, filosófico, histórico, social e ambiental. A indagação que se coloca é: no longo processo de produção do conhecimento, quem são, de fato, o sujeito e o objeto?
A obra foi prefaciada pelo Prof. PhD Humberto Guido da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia e posfaciada pelo Prof. Décio Bragança Silva da Universidade de Uberaba.
O Prof. PhD. Humberto Guido é associado do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia – DEFIL-UFU, pesquisador dos Programas de Posgraduação em Filosofia (mestrado) e Educação (doutorado) da UFU. Licenciado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, doutorou-se em Educação na área de Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Pós Doutor (PhD) pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é o diretor da Editora da Universidade Federal de Uberlândia EDUFU. É importante destacar duas de suas relevantes obras: “Giambattista Vico: a filosofia e educação da humanidade” e “A Arte de Aprender: metodologia do trabalho escolar para a Educação Básica”.
Já o Prof. Décio Bragança Silva é professor de Português e Literatura, docente da universidade de Uberaba – UNIUBE. Dedicou grande parcela de sua vida em prol de uma educação de qualidade em todos os níveis. É um ferrenho batalhador das causas sociais e acredita na educação enquanto instrumento de formação de sujeitos que sejam agentes de transformação social.
A obra foi concluída e já pode ser adquirida por intermédio do site da editora (abaixo), na área de Educação:
http://24.233.183.33/cont/login/Index_Piloto.jsp?ID=bv24x7br. O lançamento oficial da obra está em fase planejamento e organização e deverá ocorrer na segunda quinzena de setembro.

EVENTO DE “AMIGOS DA BIBLIOTECA” VALORIZA A CULTURA LOCAL

Por Valter Machado da Fonseca

Na época da realização do filme sobre a vida de Chico Xavier, escrevi um pequeno artigo, publicado na imprensa local, exaltando a importância da película e, concomitantemente, chamando a atenção para a necessidade de se proporcionar maior valorização e visibilidade à cultura local. Naquele momento eu reafirmava que a película sobre o nosso saudoso Chico Xavier iria atrair os olhares de todo o país para a nossa cidade e que, deveríamos aproveitar aquele evento para pensarmos num movimento de renovação e oxigenação da cultura local em todas as áreas: cinema, teatro, música, literatura, dança, escultura, artesanato, enfim, criar espaços e condições para a livre manifestação cultural dos artistas de Uberaba.
Pois bem! No dia 26 de julho recebi um amável convite da Sociedade Amigos da Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães (SABI/Uberaba) convidando-me a participar de um evento na biblioteca, cujo objetivo era ao mesmo tempo em que se comemoraria o dia do escritor, realizar-se-ia também a entrega de um importante acervo literário, adquirido pela SABI, à nossa biblioteca municipal. O evento que reuniu ilustres escritores e representantes da cultura de nossa cidade, apesar de singelo, trazia intrínseco em sua essência uma proposta fantástica. Por intermédio de uma proposta singela, porém essencialmente rica em suas reflexões, proporcionou a todos os presentes, naquela tarde/noite, momentos extremamente prazerosos. Por meio dos bate-papos e depoimentos de diversos escritores pudemos beber um pouco da saborosa história cultural de Uberaba e região.
Como à época da película do Chico Xavier, novamente viajei nas reflexões acerca da renovação do movimento cultural de Uberaba e região. Nossa cidade possui enorme potencial em todas as áreas das expressões artísticas que, na maioria das vezes, fica à mercê da contracultura e do marketing do consumismo. A grande maioria dos artistas locais fica à margem da produção cultural que marca a criatividade do povo brasileiro. Os nossos artistas necessitam de oportunidades e espaços para mostrarem seu potencial.
Aquele singelo evento da SABI foi, para mim, de grande significação, pois, além de proporcionar momentos memoráveis de intenso prazer, chama à reflexão sobre a necessidade de dar visibilidade à produção cultural de nossos artistas. O evento serviu, sobretudo, para mostrar que se quisermos podemos alavancar em Uberaba um poderoso movimento de renovação e revitalização da cultura uberabense, o que pode colocar nossa cidade no patamar artístico e cultural que lhe é de direito. Parabéns à SABI, à direção e funcionários da Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães por nos proporcionar momentos tão agradáveis, além de grande relevância para a reflexão sobre a história cultural de nosso povo.

domingo, 4 de julho de 2010

Nossa sociedade e a Pedagogia do Oprimido: impressões pessoais

Foto: Prof. Paulo freire (2010)
Por Karina da Costa Sousa

O texto que se segue foi escrito predominantemente em primeira pessoa, pois, ao escrevê-lo, tentei expor as impressões pessoais que tive após o contato com a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Trata-se de um pedaço de meu pensamento, e um pouco de meus sentimentos e idéias sobre nossa sociedade, nosso modo de vida.
Sempre pensei que a raiz de todos os problemas existentes no planeta Terra está na educação e
esclarecimento dos seres humanos. Isto é, a ausência da educação e do esclarecimento. Todavia, penso, por ora, que talvez seja muito radical atribuir uma “culpa” apenas à educação, ou sua ausência. Isto pois a própria natureza, e todas as relações vivas comportadas por ela, incluindo obviamente as humanas, são nada mais que um conjunto de partes integrantes (e integradas) de uma enorme teia, onde todas coexistem. Assim, não se pode atribuir uma razão isolada a qualquer fenômeno. Este mesmo raciocínio pode ser empregado ao observamos os problemas pelos quais a sociedade tem passado. E estes problemas aos quais me refiro não são apenas de âmbito social. Eles vão desde problemas do homem consigo mesmo, até em relação ao homem e sua percepção existencial.
Conhecendo a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, encontrei nela muito de minha opinião sobre semelhantes questões. Estamos em face de uma situação de profunda alienação intelectual e ignorância subsidiada. Valores fundamentais para a vida, convivência e evolução humanas estão se perdendo (para não ser novamente radical e dizer mesmo que já se encontram perdidos). Assaltos e roubos e assassinatos, intolerância, desrespeito. Onde estará a fraternidade, a compaixão? E como ouso eu falar estas palavras, quando elas estão tachadas de caretas, e quando eu mesma poderei ser tachada assim? Isso não importa a mim, nem a outros bons espíritos, tenho certeza. Talvez essa seja outra causa a ser apontada para a situação que se tem vivido. E mais, o que pode ter acontecido com o amor à natureza e as formas de vida consideradas hierarquicamente inferiores por nós, seres que se afirmam pensantes! Raciocínio humano? Como? Onde ele se manifesta, se a natureza e os animais nos dão mais valorosos e numerosos exemplos e lições de (con) vivência e equilíbrio? Em minha opinião de iniciante na reflexão filosófica e intelectual, porém atenta a tais questionamentos, este é o pior quadro que se pode apreciar na sociedade, na natureza, na vida. Por que nos tornamos assim? Por que agora já é tão difícil voltar a atrás e refazer o caminho, o modo de vida?
O ser humano se mostra impulsionado por outros desejos, não só atualmente, como em qualquer capítulo de nossa história, desejos que fazem de uns dominantes e outros dominados. Ou como sugere Paulo Freire, uns oprimidos e outros opressores.
Sim, como se não fosse o bastante a falta de valores morais e éticos, há ainda a falta de esclarecimento, a falta da consciência do verdadeiro, singelo e ao mesmo tempo complexo significado da expressão humanidade.
Segundo Freire aponta, estamos vivendo em tempos de humanidade roubada. O que parece é que os homens já nascem assim, ou opressores, ou oprimidos. De fato, este é um processo que acompanha todo o desenvolvimento do indivíduo. Estamos condicionados, não apenas os que têm sua humanidade roubada, como aqueles que a roubam. É preciso recuperar a humanidade, pois só assim será possível se alcançar a liberdade, algo que há séculos se busca, mas acredito que até os dias atuais não se entende (e se pensa possuir). É preciso tomar consciência desta situação. É preciso que os homens tenham vontade, desejo por alcançar esta humanidade. É preciso se entender também esta humanidade. É preciso se tomar consciência da situação e da realidade que vivemos, de nossos opressores e sua “falsa generosidade”. Aquela generosidade que se alimenta da injustiça, e que teme o desaparecimento desta injustiça. É preciso libertar-se dos fanatismos existentes nas várias esferas de atividades humanas, como já observamos na política e na religião (que tanto pode contribuir, positiva ou negativamente, na edificação do ser humano), por exemplo, para se conseguir enxergar a realidade, nosso mundo, nossa existência. Tantas coisas necessárias. Como fazê-las? Tantos problemas. Quantas soluções? Há soluções? Certamente.
Assim, chegamos à questão abordada por Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido que, na minha opinião, é a mais importante da obra. Trata-se da educação, sua contribuição na transformação da concepção do homem por si mesmo e suas relações no ambiente em que vive. Não seria necessário explicar e descrever todo o método proposto por Paulo Freire, considerando que já o conhecemos e considerando que conhecemos a realidade que vivenciamos. Bastaria dizer que uma pedagogia libertadora deve ser construída por todos, e não a partir de uns para outros, sem se levar em consideração a realidade destes outros, sem se estimular a busca e a reflexão inovadoras, criativas, dinâmicas e não estáticas. Os homens serão livres para exercer sua humanidade, em todos os sentidos que esta palavra pode ter, quando estiverem esclarecidos. Certamente, o futuro deve ser construído por mãos trabalhadoras e transformadoras, por meio de sua reflexão e de sua atuação. Subjetividade e objetividade, como ensinou Paulo Freire.
É preciso interação e atividade de todos. É preciso consciência. É preciso liberdade. É fantástico pensar em mudanças tão desejadas pela maioria dos povos, e certamente esta maioria está formada pelos oprimidos e pelos “esfarrapados do mundo”, os companheiros de causa e luta, à luz da educação. Eis o porquê de Pedagogia do Oprimido conter tanto de minha própria opinião.
Finalmente aponta-se uma solução e não mais uma causa para os problemas que nos afligem. E como diria dois grandes sábios: “em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve
parecer impossível de mudar”
[1] pois “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”[2] e “Não estamos perdidos. Ao contrário, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”[3].
[1] Bertolt Brecht
[2] Rosa Luxemburgo
[3] Rosa Luxemburgo

sábado, 3 de julho de 2010

SOB A MAQUIAGEM DA COPA: A OUTRA ÁFRICA!

Por Valter Machado da Fonseca
Quase todas as atenções do mundo se voltam para o segundo maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol, que perde apenas para os Jogos Olímpicos. Pela primeira vez na história da copa, ela está sendo realizada no continente africano. Mas, isto não é novidade para ninguém, pois esse evento já estava anunciado há mais de quatro anos. Como todo brasileiro, também gosto de futebol, porém, o que pretendo com este breve artigo não é tecer nenhum comentário sobre o futebol em si, muito menos analisar os jogos.
O que quero é chamar a atenção sobre o continente no qual o evento se realiza: a África. O que temos assistido até o presente momento é uma verdadeira festa [de todas as cores], com um grande número de torcedores [turistas] dos diversos países que participam da competição. É interessante verificar que todos os estádios que recebem a competição são construções suntuosas, com estruturas de causar inveja às principais potências capitalistas do planeta. É interessante ainda, observar que a maioria dos estádios fica com sua lotação esgotada, às vezes de uma hora para outra. Também é importante verificar que a grande maioria dos torcedores é bem vestida, rostos corados, sadios e esbanjam alegria. Em nenhum momento se consegue perceber a realidade social do continente africano, nem mesmo no momento da eliminação dos “Bafana Bafana”.
Aí surge uma interrogação: será que essa competição é mesmo na África. Será que ela se realiza no mesmo continente, acerca do qual sempre acompanhamos notícias da enorme desigualdade social, subnutrição, fome, mortalidade infantil, guerra civil, miséria? Por incrível que pareça, as redes de TV, as rádios e jornais, em nenhum momento tocaram nos graves problemas sociais da Etiópia, da Somália, de Serra Leoa, dentre inúmeros outros países marcados pela população em estado de miséria absoluta. A ostentação da arquitetura e suntuosidade dos estádios e da infra-estrutura que os atendem está em gritante contradição com a situação econômica da maioria dos países que compõem o continente, inclusive a própria África do Sul, que passa por uma enorme crise econômica.
É fato também que a FIFA andou distribuindo milhares de ingressos para uma parcela da população [obedecendo a critérios de seleção, que priorizam as regiões menos miseráveis e setores menos pobres da população sul africana], para que a África esteja presente nos estádios e prestigie o evento em seu país. Ficaria, no mínimo estranho, um evento esportivo desta magnitude na África, sem a presença dos africanos. A rede de comunicação noticiou, in passim, a greve dos trabalhadores africanos que participaram da construção das obras dos estádios e da infra-estrutura básica exigida pela FIFA [e que segundo consta, até agora não receberam seus salários]. Outra pergunta levantada pela rede de comunicação foi: Quem irá pagar os custos dessas suntuosas construções, estimadas em bilhões de dólares? Ao mesmo tempo, mostrou a população sul africana apreensiva acerca de quem irá arcar com esses gastos milionários. A propósito: Por que será que Nelson Mandela não compareceu a nenhum jogo? Será apenas devido ao falecimento de sua neta ou pela sua saúde debilitada? E a grande maioria dos chefes de Estado que comparecem a todo evento esportivo de grande magnitude, por que não deram as caras?
Este evento esportivo pode ser comparado ao terremoto do Haiti, só que o terremoto serviu para trazer à tona as mazelas decorrentes da desigualdade social e da situação de miséria da grande maioria da população haitiana, ao passo que a copa do mudo de futebol na África, está sendo usada para esconder, maquiar a triste e cruel realidade social do continente. Para mostrar ao mundo que a África conseguiu “bancar” um dos maiores eventos esportivos do planeta. Mas, com o dinheiro de quem?
Por fim, a FIFA conseguiu mostrar ao mundo que a África que há poucos meses atrás era chamada de “Terceiro Mundo”, na época da copa retoma seu “legítimo lugar” de berço da humanidade. Finalmente, é preciso enfatizar a “importância” da realização desta copa no continente africano que, embora tenha todas as suas seleções eliminadas do torneio, a população está “feliz” [sempre entre aspas]. Para a FIFA, ao término do torneio, quando todos forem embora e o continente for novamente esquecido, principalmente pelas nações desenvolvidas, o povo pobre ficará imensamente feliz, pois restará a eles um punhado de estádios magníficos e suntuosos [combinando com seus elefantes brancos] que a população terá imenso prazer em deixar de se alimentar, para bancar o “pequeno investimento” gasto em sua construção. Afinal, qual foi o ganho que a África teve ao realizar tão importante evento? Provavelmente ela ficará na história, figurando no Guines Book, como um continente ousado que em apenas um mês terá conseguido aumentar em, pelo menos dez vezes, o índice de miséria de sua população. Um recorde verdadeiramente difícil de ser batido.

sábado, 19 de junho de 2010

Em nome da humanidade! Obrigado José Saramago!

Por Valter Machado da Fonseca

Neste dia 18 de junho de 2010, a humanidade perdeu um de seus membros mais ilustres. Morreu José Saramago, escritor português que fazia da pena uma poderosa arma contra as injustiças e em favor dos injustiçados do mundo. Apesar de nascer em Portugal, Saramago era cidadão do mundo. Era um homem para além desse tempo de “barbárie”, era um homem cuja visão simples, própria da origem camponesa, não se concentrava nos detalhes, mas na totalidade da essência do mundo, conseguindo perceber os detalhes e suas ligações com a totalidade do mundo, com a harmonia e desarmonia da vida. Assim era Saramago, assim ele foi durante toda sua existência. Polemizava quando era necessário, brigava quando tinha convicção de sua causa, porém, nunca abandonava uma causa nobre.
Esse adorável escritor passou toda sua existência entre o amor e o ódio. Era amado pelos que possuíam nobreza de caráter e odiado pelos covardes, pelos assassinos, pelos injustos, pelos escravagistas, pelos censores. Saramago examinava o mundo com a lupa da honradez, da retidão de seus valores, da luta contra todas as formas de preconceito e discriminação [das maiorias e das minorias]. Mais que escritor, ele era um militante em favor das causas justas, por isso, ele examinava os fatos e suas consequências e não seus autores. Elogiava quando se merecia e criticava quando necessário. Não importavam a quantos nem a quem eram dirigidas suas críticas ou elogios. Esse era o homem português, escritor, lutador, desbravador, pesquisador, poeta de muitos ou de poucos homens.
Sua obra tinha o traço da crítica severa, mas não da crítica pela crítica, mas da crítica propositiva, que buscava alternativas, que vislumbrava novos horizontes, novos rumos, novos caminhos. Acreditava que para “para se descobrir novos caminhos é necessário sair dos trilhos”, pois eles [os trilhos] determinam um único caminho, já conhecido. Sua obra se destaca pela ironia verdadeira, pela contundência de sua crítica, pelo apelo que faz em nome da construção de outro mundo, de outra sociedade. Sua filosofia era a filosofia da liberdade, do amor à vida e aos homens justos, acima de tudo.
Sua obra se destaca, mais que nunca, pela simplicidade de sua escrita. Mas não é uma simplicidade qualquer, é a simplicidade que destaca o complexo, o contexto. É uma simplicidade que se aprofunda desnudando a verdade de suas crenças, metendo medo nos covardes, dando o verdadeiro nome às coisas, não importando a quem ou a quantos iria agradar ou desagradar. Diferente de alguns que se dizem escritores, Saramago não escrevia para vender. Não fazia da literatura mera mercadoria a serviço da mais valia. Sua obra objetivava a construção de uma filosofia de vida, da edificação de um mundo e de uma sociedade mais humanos. Esses traços, contundentes em sua literatura o assemelham a Paulo Freire.
Ao analisarmos, com profundidade, seus trabalhos, podemos perceber diversos pontos comuns com os trabalhos do professor Paulo Freire. Assim como Freire, Saramago acreditava que a utopia de hoje será a realidade de amanhã, que a esperança é o tênue fio que une o sonho à realidade. Assim como o nosso brilhante Paulo Freire, ele também acreditava na emancipação dos “Demitidos da vida”, dos “Esfarrapados do mundo”. Por isso, defendia os indígenas, os negros, os mendigos, as prostitutas, os homossexuais, enfim, fazia sua a causa dos oprimidos, dos “De baixo”, nas palavras de Freire. Assim como Freire, Saramago acreditava no poder de transformação presente em cada ser humano, acreditava na essência entre a forma e o conteúdo. Enfim, os dois acreditavam com veemência na emancipação dos oprimidos diante dos opressores. A “Pedagogia crítico-libertadora” de Paulo Freire é a mesma “Filosofia da liberdade” de Saramago.
Por fim, a humanidade não perdeu apenas um escritor ilustre. Mais que isso! A humanidade perdeu um militante em favor da justiça, dos oprimidos. Perdeu um homem que desafiava, com a mesma intensidade tanto o Vaticano quanto a Casa Branca. Perdeu um homem que, acima de tudo, nunca se deixou fascinar pelo poder que emana das elites, das falcatruas, das maracutaias, da desonestidade e da injustiça.
Enfim, pelo homem que foi e pelas ideias que construiu, por intermédio de sua escrita simples, cuja obra se assemelha à batuta que rege uma grande sinfonia, em nome da humanidade, eu brado em alto e bom som: sua obra percorrerá a eternidade. Obrigado! Grande José Saramago!