terça-feira, 20 de abril de 2010

PREFÁCIO: Entre o Ambiente e as Ciências Humanas

Por Vânia Rúbia de Farias Vlach

Sociedade, Natureza, Ser humano: fenômenos que se desdobram em processos e originam conceitos que entram em contradição uns com os outros, se contrapõem e se complementam na teia da vida no e do planeta Terra. Em “ENTRE O AMBIENTE E AS CIÊNCIAS HUMANAS”, algumas questões centrais da modernidade são objeto de uma reflexão pautada por seu caráter político e geopolítico. Neste prefácio, muito me honra registrar tal caráter, pois a abordagem exposta nas próximas páginas se afasta da tradição de uma suposta neutralidade científica da geografia. Tal a priori nos confinou, durante muito tempo, a uma análise fragmentada do mundo, não obstante honrosas exceções.
Na organização do espaço geográfico, tantas vezes evocado como objeto de estudo desta ciência, os sujeitos eram abstraídos, como se suas motivações, necessidades e seus interesses pudessem ser eliminados. Ou seja, ignorando que o Ser humano só se realiza na dimensão do social. Assim, são as relações de poder entre os homens, divididos em grupos e classes sociais, que explicam a configuração do espaço, em todas as escalas. Em outras palavras, no coração do viver/conviver do Ser humano na Terra (e além dela), a política entra em cena!
Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga discutem questões vinculadas ao sócio-ambiental no Brasil e no mundo, e ao urbano, especificamente nas cidades médias brasileiras, sempre atentos aos laços entre o global e o local. Ponderam o significado político e geopolítico da biodiversidade, sobretudo na Amazônia, as várias Amazônias, e no cerrado, e como os projetos do agronegócio, ao se apropriarem dela como mercadoria, degradam tais espaços e a empobrecem. Paralelamente, consideram a complexidade das consequências que sua mercantilização acarreta na dinâmica social, principalmente no cotidiano dos povos da floresta amazônica, do pequeno produtor no cerrado, do trabalhador da cana de açúcar no Triângulo Mineiro e no interior de São Paulo, dos habitantes de cidades médias.
Nesse sentido, o recente avanço da monocultura no Brasil é reavaliado. E o discurso dos biocombustíveis, a “energia limpa” como solução para a crise energética mundial, do “projeto etanol”, assim como a concepção de desenvolvimento sustentável, são criticados adequadamente. Ao abordarem a biotecnologia e a biopirataria, duas faces da natureza mercantilizada, desmistificam a neutralidade da tecnologia. O mesmo ocorre quando enfatizam que os transgênicos demandam a definição de políticas públicas tendo em vista a saúde humana, o que deve ser precedido pela democratização da informação à população em geral (consumidores, pesquisadores etc.), e exige forte mobilização popular. A água, hoje caracterizada enquanto commodity, por conseguinte, não mais como parte inalienável das condições que permeiam o direito à vida, é analisada como fator geopolítico decisivo para a conquista da paz no Oriente Médio, e como responsável pela integração do continente americano, na proposta “Panamérica”. Observa-se que, nas cidades, a escassez de água agrava a precariedade da vida dos mais desfavorecidos. Ainda nas cidades, o lixo é problematizado na ótica de um consumismo desenfreado por parte dos mais privilegiados, o que acarreta sequelas para todos os moradores.
Não lhes escapa a separação entre a pesquisa científica e os saberes populares, entre o meio científico e os gestores ambientais. Por isso, defendem o resgate dos saberes populares, e a educação. Seu objetivo, que pode ser sintetizado na formação da cidadania, reclama a inclusão da dimensão ambiental no seu fazer cotidiano, uma prática política por excelência. Em relação à ciência, reivindicam seu compromisso com a dignidade do Ser humano.
Explicitando o significado geopolítico dos conflitos e rivalidades de poder que se manifestam no território, no capítulo final, Sandra Rodrigues Braga apresenta uma contribuição fundamental para uma análise do urbano sob esta perspectiva, apoiada em sólida fundamentação teórica. Dessa maneira, reexamina a denominada geopolítica clássica, cujas diretrizes originais explicam porque, até hoje, no meio acadêmico, tende-se a desconsiderar a possibilidade de se avançar além do que seus estudiosos propuseram há pouco mais de um século. Ou seja, a geopolítica também pode contribuir para a disseminação da democracia na sociedade contemporânea. E no urbano, dado que a organização de seu território é objeto da mobilização dos vários sujeitos, muitos dos quais privados de moradia, um direito elementar do Ser humano. Que não se dissocia dos demais direitos à cidade: educação, saúde, ambiente, participação na vida pública etc.
Enfim, os autores convidam à leitura, por meio de indagações, propostas, formulações teórico-metodológicas, em aberto e devidamente contextualizadas, outro destaque deste livro. E instigam ao debate, vital para a democracia, no Brasil e no mundo.
Vânia Vlach
São Paulo, março de 2010!
Vânia Vlach é Graduada e Mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo. Doutora em Geopolítica - Université Paris VIII. Docente, do Programa de Posgraduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Autora de diversos livros na área de ensino de Geografia. Assessora ad hoc sem vínculo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (2003). Bolsista Produtividade em Pesquisa-PQ/Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico/CNPq

sábado, 17 de abril de 2010

Membro do NEEFICS marca lançamento de novo livro




O Prof. Valter Machado da Fonseca, membro do NEEFICS, concluiu seu novo livro, que já tem o lançamento marcado para o dia 28 de maio de 2010, às 20 horas, no Centro Cultural Cecília Palmério, no Campus I, da Universidade de Uberaba, situado na Avenida Guilherme Ferreira, no centro de Uberaba. A obra intitulada “ENTRE O AMBIENTE E AS CIÊNCIAS HUMANAS: artigos escolhidos, ideias compartilhadas” foi escrita em parceria com a Profª. Drª. Sandra Rodrigues Braga, coordenadora do COSAE/CNPq.

A obra é um meticuloso apanhado das pesquisas mais significativas, publicadas pelos dois autores nos últimos seis anos de investigações científicas, sendo, todas elas, publicadas em Congressos, Seminários e periódicos científicos nacionais e internacionais. As pesquisas presentes na obra tratam de temas que assumem a centralidade do debate, tanto no meio científico quanto na mídia, nos dias atuais. Numa perspectiva crítica e contextualizada, Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga discutem relevantes temáticas, tais como: a Amazônia brasileira, atual estágio de degradação e conservação, o Cerrado, as unidades de conservação e a expansão da fronteira agrícola, o espaço urbano e agrário, a polêmica questão da transgenia, a gestão de resíduos sólidos nas médias e grandes cidades brasileiras, a problemática do “Aquecimento Global’, a Geopolítica dos recursos hídricos, a questão da biopirataria, os biocombustíveis, a crise energética e as fontes de energia alternativa, a monocultura canavieira no Brasil, dentre outras relevantes temáticas.

Trata-se, portanto, de uma obra de grande densidade teórica, especialmente dirigida a professores e estudantes universitários, pesquisadores e estudiosos dos campos das ciências da Terra e ciências socioambientais. Enfim, trata-se de um livro endereçado a todos aqueles que se preocupam com os grandes temas socioambientais que tanto afligem a humanidade, neste limiar de século XXI.

Sobre os autores:

Valter Machado da Fonseca: é natural de Lagoa Formosa (MG), fixou residência em Uberaba (MG) há 30 anos, é Técnico em Mineração pela Escola Técnica Federal de Ouro Preto (MG), Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (MG) – UFU, Mestre e Doutorando em Educação pelo Programa de Posgraduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia – PPGED/FACED/UFU. É professor dos cursos de Graduação em Geografia, Pedagogia e Engenharias de Produção, Civil e Ambiental da Universidade de Uberaba (UNIUBE). É coordenador da Associação dos Geógrafos Brasileiros, seção Uberaba – AGB/Uberaba. Possui inúmeros trabalhos relativos às áreas de Educação, Geografia e Geociências, publicados em Congressos e Seminários nacionais e internacionais, além de vários artigos em periódicos científicos. É pesquisador das áreas de “Alterações Climáticas” e “Impactos socioambientais das monoculturas Sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. É membro-fundador e coordenador do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS). É autor do livro “A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: entrelaçando saberes, unificando conteúdos”. Contatos:machado04fonseca@gmail.com

Sandra Rodrigues Braga: é natural de Uberaba, onde, além de professora, atuou como ativista dos movimentos sociais, aos quais atribui todo seu aprendizado. Após anos de autodidatismo, concluiu a licenciatura plena em Geografia. Pouco depois, ingressou no mestrado e, logo depois, concluiu seu doutorado em Geografia, percurso todo calcado pela Universidade Federal de Uberlândia. Prestou concurso para analista em C&T do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o que a levou a mudar-se para Brasília. Atualmente, é Coordenadora do Programa de Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas e Educação (COSAE/ CNPq). Mesmo fora da academia, continua a publicar em periódicos nacionais e estrangeiros e a participar de eventos da área de Geografia, na qual sua experiência se concentra em Geopolítica, com ênfase nos temas políticas públicas, Brasil e América Latina, geografia urbana e poder. Possui diversos trabalhos em periódicos e anais de eventos científicos nacionais e internacionais. Contatos: sandrarbraga@terra.com.br

ENTRE O AMBIENTE E AS CIÊNCIAS HUMANAS


Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca

Por
Valter Machado da Fonseca
Sandra Rodrigues Braga
Ao pensar na publicação desta obra, fizemos uma profunda reflexão, que vem sendo amadurecida há tempos, acerca das grandes temáticas que têm preocupado a humanidade neste início de milênio. Neste sentido, este livro nasce do esforço de tentar reunir as nossas produções mais significativas desses últimos seis anos e que estão, diretamente, relacionadas com as grandes questões levantadas pela humanidade nos tempos presentes. Dessa forma, ele não nasce do vazio, mas, sobretudo, tenta englobar o conjunto de preocupações que ocupam a centralidade conjuntural de nossos dias.
O título “ENTRE O AMBIENTE E AS CIÊNCIAS HUMANAS” surge da necessidade de observação do ambiente com a preocupação de dialogar com os diversos atores que compõem o cenário de nosso tecido social, sob a ótica das ciências humanas. Acreditamos que é possível e se faz, profundamente, necessário analisar as questões ambientais e socioespaciais, trazendo à tona os aspectos das ciências sociais. Com esta preocupação, compartilhamos a ideia de que a produção do conhecimento científico é um meio que visa atender a determinadas finalidades, ou seja, ela está a serviço de um fim. Se a ciência está a serviço de um fim, ela é carregada de interesses, portanto expressa uma determinada ideologia.
Se ela expressa uma ideologia, então, não pode ser analisada com um olhar superficial, ingênuo. Por isso, esta obra procura analisar o texto miúdo, silencioso, murmurante, o não dito [como diria Michel Foucault], as entrelinhas do que não está expresso nos signos e nas representações do discurso científico dos tempos modernos. Ao analisar as grandes temáticas dos tempos presentes, faz-se necessário uma leitura crítica dessas questões e, para isso, não existe nada mais eficiente do que a utilização da análise embasada na Geopolítica. A análise geopolítica é uma potente ferramenta, capaz de dar conta de decifrar o discurso capitalista que se tornou hegemônico na atualidade. Tal discurso abandona qualquer forma de escrúpulo, de ética ou de verdade, para atender uma finalidade absoluta e dogmática: a necessidade imperiosa da construção intensiva da mais valia, para fazer florescer o fetiche do consumo, que rega a essência do modelo capitalista de produção. Tudo vale para garantir os interesses que servem à plena reprodução e expansão do capital.
Diante disso, os textos expressos nesta obra têm em comum essa criticidade, tão necessária, para o entendimento do discurso que permeia a produção do conhecimento científico da época presente. Eles têm, em comum, a preocupação com a construção de saberes e conhecimentos que fujam da racionalidade puramente técnica, mas uma construção que busque um embasamento sob bases na racionalidade social, que tenha como norte a preocupação com a reconquista dos valores que justifiquem a essência da existência humana, de valores que se voltem para a construção de uma ciência a serviço da humanidade.
Por fim, esta obra busca dialogar com todos aqueles que se preocupam com os rumos que a humanidade deve trilhar, visando à construção de outros paradigmas que resgatem a dignidade humana. As pesquisas trabalhadas neste livro buscam contribuir com o conjunto das pessoas preocupadas com os destinos da humanidade, do planeta e com a própria continuidade da espécie humana.
Uberaba, MG, abril de 2010.
Os autores

domingo, 4 de abril de 2010

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO: algumas reflexões

Por Zaida Siufi Pereira
Em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire faz referência à opressão contida na sociedade e na construção do modelo educacional. Esta opressão se caracteriza pela aceitação dos oprimidos sobre o que lhes é imposto, muitas vezes por medo da mudança ou desinformação do direito de se conscientizarem e manterem atitudes transformadoras em seu desenvolvimento, sendo assim transformadores de suas realidades diante do mundo em que vivem, realizando assim a pedagogia da libertação. A partir do método estabelecido por Paulo Freire, chamado “método de conscientização”, o homem tem o direito de redescobrir–se, através da reflexão do próprio processo em que vive desta maneira ao se descobrir, manifesta e configura seu mundo.
A superação da condição de oprimido, faz com que estes reflitam, indague, sobre as condições de “servil” a que foram impostos, a fim de se libertarem e libertarem a seus opressores. Para o opressor é cômodo que o oprimido continue estagnado em sua condição de aceitação, pois desta maneira os seres oprimidos não terão uma relação conscientes do mundo e não terão ações transformadoras. Na condição de libertadores, a classe dos oprimidos estará exercendo a luta através da restauração de sua humanidade, fazendo assim cada vez mais proliferadoras idéias de generosidade verdadeira, praticando o trabalho transformador da realidade do mundo, onde homem x mundo se mantém em um processo de interrelação.
Como instrumento de opressão, o autor demonstra a “educação bancária”, onde esta visualiza o educando como ser que não possui nenhum conhecimento, vazio, e o educador como detentor total do conhecimento, onde este irá depositar informações no intuito de preencher o vazio existente no aluno, sua intenção se torna depositar uma maior quantidade de informação possível, com isto este ser, vazio, se torna oprimido, aceitando o que lhe é imposto, sem indagação, criatividade e dinamismo na relação educacional.
Sendo a educação como prática da liberdade, os homens se encontram desafiados a encontrar esta liberdade através da reflexão, indagação e diálogo, o que não ocorre na “educação bancária”, desta maneira, no processo de libertação do sistema opressor, o oprimido deve conhecer, identificar as características do opressor, para que não se torne também um opressor. Em muitos casos, o oprimido visa ter o que possui o opressor, fugindo da intenção de libertar-se, não seguindo assim o processo do ser mais em detrimento da lúdica relação do “ter para ser” imposta no sistema opressor.
Diante desta realidade, Paulo Freire propõem uma educação problematizadora, cuja finalidade é desenvolver o senso crítico do educando, onde a realidade é inserida no contexto educativo desde a escolha dos temas a serem abordados, sendo valorizado desde o princípio o diálogo, a reflexão e a criatividade de modo a construir a ibertação.
O conteúdo programático não deve ser imposto e sim propor a situação existencial, concreta, presente, como problema que irá desafiar e assim exigir respostas a nível intelectual e de ação transformadora da parte do educando, visto que a reflexão conduz a prática.
Tendo o diálogo como base primordial na relação ensino aprendizagem, o novo modelo de educação considera que somente na educação a vida humana tem sentido, pois “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação – reflexão.” Dizer a palavra é direito de todos, não privilégio de alguns poucos homens, como era imposto na “educação bancária”. A partir do momento que o homem reconquista este direito, ele se transforma como ser e sua relação com o ambiente.
Neste contexto de diálogo como base da fundamentação educacional libertadora, questões como o amor, a fé e a humildade são consideradas, visto que o amor e a fé no poder transformador do homem, como ser criador de sua condição de ser mais, fortifica a confiança no sujeito e os tornam mais companheiros na questão ideológica de libertação. Sem a humildade, não há diálogo, sem o diálogo não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.
A linguagem e pensar tanto de educadores como educandos deverá existir baseada na realidade a que se referem. Com isso, o conteúdo programático, na educação não pode ser exclusivamente eleição do educador, mas discutido em diálogo dele com o povo, mantendo assim a prática da liberdade.
Pretende–se com isso, desenvolver o pensamento - linguagem referindo-se à realidade, a relação do povo com seu nível de envolvimento em relação aos temas geradores.
Para se alcançar estes objetivos, é proposto ao povo, uma análise de suas realidades, culturais, sociais, analisando ações do cotidiano, a fim de levantarem informações quanto aos temas relevantes na investigação de suas problemáticas, para com isso aprofundarem na tomada de consciência em torno desta realidade.
Cada envolvido nesta investigação irá desenvolver um projeto, que será analisado em diálogo com os demais envolvidos, propondo soluções quanto a estas temáticas.
Após a elaboração deste programa, com o agrupamento destas informações, são elaborados então os materiais didáticos, sejam eles em forma de textos, filmes, fotos, entrevistas, onde após apresentado realizam–se debates sobre o conteúdo, desta maneira a temática se torna problemas a serem decifrados, jamais conteúdos a serem depositados. Com este desenvolvimento, o povo se encontrará não de uma maneira estranha, alienada, mas sim de uma maneira integrada e participativa, visto que toda a temática problematizadora surgiu de sua realidade vivenciada.
“Se nada ficar deste modelo educacional, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar.”
Zaida Siufi Pereira é graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade de Uberaba (Uniube), Membro do Instituto Curupira de ecologia e do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS).

sábado, 3 de abril de 2010

II Encontro do Ensino de Geografia, História, Sociologia e Filosofia - I Jornada Prof. Paulo Freire de Debates em Ciências Humanas e Ambientais

1. APRESENTAÇÃO

O novo milênio desvela o universo de insegurança e incertezas que marcam a história da humanidade neste limiar de século XXI. Vive-se um período marcado, de um lado, pelo avanço sem precedentes das tecnologias e das ciências e, de outro, as opacidades, a coisificação do homem e da natureza, o aumento exponencial das desigualdades sociais, da segregação socioespacial e racial. A sociedade que surgiu sob a égide de promessa da felicidade humana, sob as palavras de ordem de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, não encontrou respaldo nos tempos modernos. Dessa promessa restou apenas um murmúrio, um sussurro que não passa de um eco perdido na prática da natureza, dos saberes, dos valores, da cultura e do conhecimento mercantilizados, em prol da mais valia que se edifica na sociedade do culto ao supérfluo e ao consumo sem qualquer base de fundamentação.
No campo do pensamento e elaboração de um projeto maior de vida para justificar a essência da existência humana, encontra-se uma ciência abortada da Filosofia. Ou seja, uma ciência acéfala que afasta a humanidade de um projeto maior, que castra da humanidade um de seus direitos mais sagrados, o de pensar livremente. O pensamento positivista/cartesiano fragmenta o conhecimento em gavetas, em compartimentos estanques, onde se justifica o processo de ultra-especialização em favor da superprodução de supérfluos, em detrimento da construção de um paradigma que resignifique a essência da existência humana.
A fragmentação dos saberes e dos conhecimentos aparta as ciências, confina-as no catre da ausência de criatividade, da fabricação de valores artificiais e de desejos supérfluos. Assim, neste início de século, aprofunda-se a crise de projetos de homem e de natureza. A natureza e o homem coisificados descortinam a enorme crise que afeta a educação, a Geografia, a História, a Filosofia as Artes, enfim, uma crise que tem sua expressão maior na desconstrução dos valores morais, dos conhecimentos significativos, de um novo modelo de sociedade que resgate a dignidade e a essência do ser humano e de sua relação com a natureza.
A sociedade dos tempos modernos aprofunda as contradições e os conflitos, banaliza as relações humanas, destroi a essência do pensamento e da vida. Assiste-se nos tempos modernos, o aprofundamento do abismo que separa a concentração da riqueza no Hemisfério Norte, da concentração da miséria no Hemisfério Sul. A sociedade autofágica da modernidade está cambaleante e, junto com ela, o conjunto das ciências, em especial as ciências humanas. E é para debater e refletir acerca dessa série de considerações que se propõe a realização desse evento. É para buscar soluções que apontem para outro modelo de paradigma que prime não pela racionalidade técnica, mas, que valorize, sobretudo, uma racionalidade social, é que se busca a construção desse encontro regional.
2. Justificativa
O Triângulo Mineiro não pode ser pensado separadamente dos contextos global, nacional e estadual. A mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba passa pelos mesmos problemas que afetam a humanidade em escala mundial. Diante disso, é preciso aliar o “pensar e agir” globalmente com o “pensar e agir” localmente.
A cada ano que passa o discurso acerca da centralidade da educação e da construção do conhecimento, para a reconquista dos valores morais, dos princípios da autêntica cidadania e da construção de um novo paradigma que valorize a existência humana se repete. Mas, esse discurso se perpetua justamente pela ausência de ações práticas e de propostas que representem um salto no sentido da construção de uma educação que seja, efetivamente, de qualidade, de conhecimentos que sejam, de fato, significativos para a melhoria das condições de vida da humanidade.
Esse evento tem a pretensão de dar as bases para a construção de um núcleo que venha oxigenar a produção científica em nossa região. A construção de um núcleo que dialogue numa perspectiva de ações práticas que visem, senão à solução, pelo menos à minimização dos problemas ambientais, educacionais, filosóficos e socioculturais a partir de nossa região. Por fim, esse projeto se justifica pela tentativa de um diálogo multi/transdisciplinar dos diversos campos de pensamento que compõem o conjunto das ciências humanas.
3. Objetivo Geral:
  • Construir um espaço de diálogos e debates, visando à edificação de um núcleo permanente que venha formular, por intermédio de diálogos multi/transdisciplinares, propostas para sanar a crise no campo das ciências humanas.
4. Objetivos Específicos:
  • Construir um núcleo de pensamento e elaboração de propostas para os diversos campos de atuação das ciências humanas;
  • Debater os principais problemas educacionais de nossa região, seja em sala de aula, seja no campo das políticas públicas educacionais;
  • Propiciar as condições para a oxigenação do pensamento científico nas áreas da Sociologia, Filosofia, Geografia, História, artes, dentre outros campos das ciências sociais;
  • Criar as condições para a construção de meios para a divulgação do pensamento científico na região (revistas, jornais, sites, blogs, etc.).

5. Eixos temáticos para inscrição de trabalhos

I - Educação e sociedade moderna:
a) Políticas públicas educacionais;
b) Ensinoaprendizagem e práticas didaticopedagogicas;
c) História da Educação.
II - O ensino de Geografia e História na sociedade globalizada;
III - O pensamento sociológico na sociedade moderna;
IV - A Filosofia e a construção do conhecimento nos tempos atuais;
V - As ciências humanas, as artes e os grandes problemas da modernidade;
VI - Natureza e sustentabilidade socioambiental.
6. Data do evento
De 21 a 23 de outubro de 2010 ou de 28 a 30 de outubro de 2010.

6.1 Programação do evento
1º Dia: Abertura
Atividade cultural e mesa redonda
2º dia: Comunicação de trabalhos
Espaços de diálogos e debates
3º dia: grupos de trabalhos/encerramento
Minicursos e oficinas temáticas
Palestra de encerramento e atividade cultural.
7. Entidades envolvidas:
Núcleo de Estudos em educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS), Instituto Curupira, Associação dos Geógrafos do Brasil, seção Uberaba/MG (AGB/Uberaba).