sábado, 20 de março de 2010

O “ETERNO” PROBLEMA DO LIXO EM UBERABA

Por Valter Machado da Fonseca

A problemática da superprodução e superacumulação de efluentes domésticos e industriais tem sido uma das maiores preocupações da humanidade nos tempos modernos. Esse problema, fruto do processo de industrialização/urbanização desordenado, tem se alastrado por todos os cantos do planeta. No Brasil, em especial, essa questão assume dimensões gigantescas, principalmente nas médias e grandes cidades do país, devido, principalmente, à desinformação que atinge os gestores e legisladores das principais cidades brasileiras. Na grande maioria delas, aliada ao parco entendimento do assunto por parte dos poderes públicos e legisladores locais, existe o problema real da falta de planejamento urbano-ambiental. O problema está diretamente vinculado ao uso, gestão e manejo incorretos do solo urbano.
Em Uberaba, o problema, talvez seja ainda mais grave, devido às frequentes enchentes no centro da cidade [fruto da falta de planejamento] que se vincula, dentre outros fatores determinantes, também ao problema da má destinação e disposição do lixo doméstico e industrial. A deposição incorreta desse lixo urbano acaba por destruir e contaminar a vegetação do entorno da cidade, além de sacrificar a fauna, o que agrava ainda mais o problema das enchentes e inundações.
Nesta semana [17/03/2010] tive oportunidade de, por intermédio de verificação in locu, analisar com mais profundidade o problema da deposição de resíduos [que seriam da construção civil] na denominada “Pedreira da Lea”. Fiquei estarrecido com o que vi. Não é preciso ser um exímio observador para perceber a gravidade do crime ambiental praticado naquela área. Apenas por meio da análise visual e superficial, dá para se perceber que não se trata apenas de resíduos da construção civil.
No local existe todo tipo de material [conforme registrado pela rede de TV que me acompanhou] misturado aos entulhos. São peças de eletrodomésticos, restos de comida e outros tipos de lixo orgânico, embalagens plásticas, metais, pneus e, pasmem! Registramos embalagens de agrotóxicos e inseticidas, além de pilhas e baterias. Sabe-se lá se não existe lixo hospitalar sob os entulhos. Verifica-se que não existe nenhuma preocupação com a fiscalização e, muito menos com a separação e seleção do material ali depositado.
Aliado a todos esses problemas, o lixão localiza-se acima do ponto da captação de águas do Rio
Uberaba, há aproximadamente vinte metros de um córrego, um de seus afluentes. O chorume produzido por esse tipo de lixo infiltra-se no solo e vai direto para o lençol freático, atingindo a zona de recarga desse corpo d’água, que deságua no Rio Uberaba. Além do chorume, o escoamento superficial das águas das chuvas carreia, diretamente, para o leito do córrego todo o material poluído. Com isso, não temos a mínima ideia da quantidade de coliformes fecais, além de outros germes e bactérias que podemos estar ingerindo no nosso dia a dia, por intermédio do consumo de água.
A grande pergunta que se faz é: Quem autorizou a deposição de lixo num local que, inclusive, faz parte de Área de Proteção Ambiental (APA), tão próximo [em cima] dos mananciais que abastecem a cidade? Essa pergunta eu deixo para a reflexão dos leitores. Devemos ficar alertas, pois, das torneiras de nossas residências, podemos esperar qualquer “coisa”, por mais estranha que seja, quando a abrirmos para fazer uso da “água nossa de cada dia”. Água, com a qual a natureza sabiamente nos presenteou e que tratamos de poluir dia após dia.

Película sobre Chico Xavier instiga debate cultural

Por Valter Machado da Fonseca

Um grande evento cultural marcou a cidade de Uberaba no dia de ontem (12/03/2010): trata-se do lançamento do filme acerca da vida do médium espírita Chico Xavier. À primeira vista parece-nos uma homenagem simples de reconhecimento pelos memoráveis serviços prestados pelo líder espiritual à nossa cidade. Porém, se atentarmos para as entrelinhas do evento, conseguiremos perceber que ele transcende [e muito] esse caráter de apenas mais uma homenagem a um ilustre cidadão uberabense.
Não quero aqui discutir o relevante papel que o Chico assumiu na história de Uberaba, da mesorregião do Triângulo Mineiro, do Estado de Minas Gerais, do Brasil e até em nível internacional, pois todos nós sabemos da importância e da grandeza de sua obra. Mas, ao meu entender o que de mais relevante esse evento suscita, refere-se ao debate que se pode estabelecer a partir de sua realização. A película que inicialmente foi alvo de polêmica e de rejeição por parte de alguns que não possuem a visão de todo um contexto, mas sim a visão particularizada e fragmentada, em detrimento do controle de gastos, e com isso deixando em segundo plano a história da cidade com todas suas nuances e riquezas, tem o mérito de abrir o debate a respeito da produção cultural na cidade de Uberaba.
Assim como o nosso querido Chico Xavier, que por vaidades pessoais e interesses particulares de alguns, quase foi riscado da história de nossa cidade, por intermédio da quase recusa de financiamento e patrocínio do filme, muitos uberabenses que militam seriamente na área da cultura, permanecem anônimos ou, na melhor das hipóteses, têm suas atividades reduzidas a espaços cada vez mais restritos.
Uberaba possui um grande potencial cultural composto por uma gama de expoentes que militam na área e que tem importantes trabalhos a serem apresentados para o grande público. São intelectuais, escritores, poetas, escultores, músicos, atores, dramaturgos, artesãos, dentre inúmeros outros profissionais da área das expressões artísticas que permanecem no anonimato devido a algumas visões estreitas que não valorizam a arte e não abrem oportunidades para os expoentes locais.
Pois bem! A película sobre o inestimável Chico Xavier, com certeza, fará com que os olhos do mundo se voltem para a cidade de Uberaba. Serão milhares de fãs da arte cinematográfica que se incumbirão de divulgar a película, a vida e a obra de Chico. Portanto, a partir desse importante evento cultural, milhares de olhares se voltarão para a nossa cidade, oportunidade impar para que possamos alavancar um inédito processo de dar a devida visibilidade ao nosso potencial artístico e cultural. Só esperamos que não esbarremos nas visões estreitas e bairristas que tanto atravancam e emperram a divulgação de nossa cultura.


quinta-feira, 4 de março de 2010

Terremotos, furacões, enchentes e inundações: eventos naturais?

Por Valter Machado da Fonseca

Nessa década de 2000, em especial nesse início de 2010, o planeta Terra tem apresentado vários indícios de acomodação de suas estruturas internas. Essas evidências, que vêm na forma de grandes eventos geológicos e/ou climáticos reafirmam a ideia de que o planeta dá nova configuração em sua dinâmica interna e externa, trazendo, dessa forma, diversos elementos que servem de parâmetro para nossa reflexão sobre o futuro climático e geológico do planeta azul.
Nesse início de ano temos presenciado vários eventos que o homem costuma classificar de “naturais”. Mas, aqui cabem as indagações: O que é natural? Será que todos esses fenômenos são mesmo naturais? O que tem de natural e/ou de antrópico nesses eventos?
Esse texto tem a finalidade de suscitar esse debate, visa levantar a reflexão acerca do que tem sido veiculado na mídia sobre as catástrofes que assolam diversas regiões da Terra. Por exemplo, só nos meses de janeiro e fevereiro desse ano, os jornais, o rádio, a TV e a Internet, têm noticiado tragédias de grande envergadura, relacionadas a eventos climáticos e/ou geológicos.
No mês de janeiro vivenciamos grandes e violentas nevascas que atingiram quase que a totalidade do continente europeu. Nesse mesmo mês também vivenciamos um aumento exponencial do índice de precipitações pluviométricas [chuvas] no hemisfério sul. O mês de fevereiro foi marcado pelos terremotos que voltam a atuar com força total em diversas regiões do globo terrestre. Aqui vale destacar os terremotos do Haiti e do Chile, com 8,5 e 9,5 na escala Richter, respectivamente. Enquanto isso, a chuva que veio por intermédio de grandes ciclones e furacões, assola violentamente a Europa, causando inundações sem precedentes na França e deixando um saldo de 48 mortos. Aliado a tudo isso uma placa de gelo de vários quilômetros de extensão e espessura se descola da Antártida e vaga à deriva pelo Oceano Pacífico. No dia 03/03/2010 foi registrado outro terremoto de 6,4 na escala Richter, nas proximidades de Taiwan e, réplicas que chegaram à marca de 6,5 na escala Richter voltam a assolar o território chileno.
O Brasil, considerado por muitos a salvo desses eventos geológicos, também sentiu o gostinho dos reflexos do terremoto chileno, em especial na cidade de São Paulo, que registrou pequenos tremores, decorrentes do evento sísmico do Chile. Mas, o território brasileiro, mesmo não sendo afetado diretamente pelos terremotos, tem sido magnificamente afetado pelos eventos climáticos. As chuvas intensas, frequentes e torrenciais que afetam o país já trazem inúmeras consequências: assistimos a enchentes e inundações que afetaram o Estado de Santa Catarina e agora, quase que cotidianamente a cidade de São Paulo. O volume de precipitações no Sul e Sudeste do país já faz com que as concessionárias responsáveis pelos reservatórios das hidrelétricas fiquem em estado de alerta. Os reservatórios de diversas usinas hidrelétricas já atingiram sua capacidade máxima, o que faz com que tenham que abrir suas comportas, visando controlar seu volume de águas.
O que se pode concluir diante dessas evidências?
Diante do conjunto de evidências que surgiram em nível global, podemos tirar algumas conclusões. Estamos diante de um conjunto de acontecimentos que indicam uma acomodação natural das forças e elementos que compõem a dinâmica interna da Terra, conjugados com eventos climáticos que possuem interferência da ação antropogênica [do homem] sobre os recursos da natureza.
Analisando esse conjunto de aspectos e fatores que marcam esta série de eventos geológicos e climáticos, diferentemente do que defende uma parcela significativa de cientistas e estudiosos, que desconsideram a ação humana em suas análises, não se podem analisar esses fenômenos sem levar em consideração a ação antrópica, uma vez que o homem, hoje, não poder ser desconsiderado enquanto uma força ativa, que interfere, diretamente, no equilíbrio do ecossistema planetário. Assim, a conclusão mais plausível a que se pode chegar é que, conjugado com um processo natural de acomodação das estruturas geológicas da Terra, se alia uma série de ações antropogênicas que acabam por intensificar, de maneira nada desprezível, o processo de mudanças e alterações climáticas que marcam os tempos modernos.
Neste sentido, cabe ao homem, mais uma vez, voltar seu olhar para suas ações sobre os recursos da natureza, pois esta, sabiamente, mostra-nos uma série de indícios de que ela é infinitamente mais poderosa que a espécie humana. Assim, o que está em risco não é o destino da Terra enquanto planeta vivo, mas a própria continuidade da existência do homem enquanto espécie na face do planeta Terra.