quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

COP 15 – O grande teatro global.


Por Aristóteles Teobaldo Neto.



A proposta da COP 15 – Copenhagem.


A COP – 15, ou 15ª. Conferência das Partes, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) foi realizada neste mês em Copenhagem (Dinamarca), apresentando o tema central a questão ambiental mais debatida na atualidade – o aquecimento global.
Veja uma síntese de todas as reuniões intergovernamentais antes da COP 15.
1995
COP 1 – Berlim (Alemanha)
É sugerida a criação de um protocolo para diminuição da emissão de gases estufa
1996
COP 2 – Genebra (Suíça) – Declaração de Genebra (redução de gases estufa)
1997

COP 3 – Quioto (Japão) – Protocolo de Quioto
1998

COP 4 – Buenos Aires (Argentina) – Ratificação do protocolo de Quioto.
1999

COP 5 – Bonn (Alemanha) – Continuidade aos trabalhos

2000
COP 6 – Haia (Holanda) – Impasse entre União Européia e EUA
2001

COP 6 – 2ª. Fase
COP 7 – Marrakech (Marrocos)
– EUA deixam a mesa de discussão. Novo impasse.
2002

COP 8 – Nova Delhi (Índia) – Discussão de metas para uso de fontes energéticas renováveis.
2003

COP 9 – Milão (Itália) – Discussão Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e sumidouros de CO2
2004
COP 10 – Buenos Aires (Argentina)
– Regulamentação MDL e Quioto
2005

COP 11 – Montreal (Canadá) – Destaque para emissão de CO2 pelos desmatamentos e necessidade de mudanças no uso da terra
2006

COP 12 – Nairóbi (África) – Revisão do protocolo de Quioto
2007

COP 13 – Bali (Indonésia) -
2008
COP 14 – Poznan (Polônia)
– Países subdesenvolvidos assumem metas de redução de carbono.
2009
COP 15 – Copenhagem (Dinamarca)


Desde 1995 ela é promovida e reúne representantes de diversos países, desenvolvidos e subdesenvolvidos. Apesar disso, outras tantas reuniões intergovernamentais foram realizadas para discutir a relação do Homem com a Natureza. Os esforços globais em torno deste tema comum começaram a partir da década de 1970.

O foco das discussões é o aquecimento global e a definição de um documento de ações comum que visem diminuir a emissão de gases estufa que saem pelos escapamentos de veículos automotores, das indústrias e até mesmo da pecuária.
A questão ambiental é uma questão global, não respeita nem reconhece as fronteiras políticas. Uma poluição local pode gerar conseqüências local e globalmente.

Neste ano a COP 15 reuniu representantes de mais de 190 países, diferentes em vários aspectos: etnicamente, culturalmente, politicamente e economicamente. Discutir uma agenda comum em meio a tanta diversidade é uma tarefa complexa e exige um esforço muito além do que se demonstrou nesta mais recente conferência.

Apesar de tantas reuniões ainda não existe um consenso, muito menos metas efetivas com relação à questão ambiental. Interesses geopolíticos diversos estão em jogo. O discurso preservacionista soa bem aos ouvidos dos líderes dos países ditos desenvolvidos, com destaque aos EUA e União Européia, pelo freio que impõe à economia dos países em desenvolvimento e com forte potencial industrial, com destaque para China e Brasil.

Por outro lado estes países reclamam a hipocrisia nas vozes dos países do norte que pagaram um alto custo sócio-ambiental para ostentar tanto vigor econômico que os colocaram no domínio geopolítico global. Esgotaram seus ambientes e agora estão de olho nos recursos naturais dos países pobres industrializados e não industrializados. Esgotaram também seus espaços e agora buscam no mundo sub-desenvolvido lugar para depositar seus lixos de diversas naturezas: doméstico, industrial, dentre outros.

Mas sem dúvida, o pior tipo de lixo exportado foi seu modelo de produção e modelo de vida que é a essência da problemática ambiental. A sociedade optou por um modelo de desenvolvimento econômico degradante que transformou a Natureza, fonte da vida, em um armazém de recursos naturais.

1. A origem da problemática ambiental: a separação Homem – Natureza.

A ligação genética da vida com a Natureza é reconhecida nas duas maiores teorias que explicam o surgimento da vida no planeta. Na teoria evolucionista Darwin demonstrou que a água foi o ambiente apropriado para o surgimento das primeiras formas de vida.
Já a tese criacionista, cujo livro sagrado, a Bíblia, é o mais vendido do mundo e influencia um grande contingente populacional, mesmo usando uma linguagem metafórica, demonstra esta relação genética entre a vida e a Natureza. No primeiro livro sagrado, o Gênesis, isto é evidente em várias partes:

“E disse Deus, produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra” Gn 1:11
“E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes baleias, e todo réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies, e toda ave de asas conforme a sua espécie...”Gn 1:20,21
“E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado e répteis, e bestas-feras da terra conforme a sua espécie.Gn 1:24”
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Gn 2:7

Duas teorias confrontantes mas que concordam num ponto comum – a vida é fruto da Natureza.

Entretanto, a Natureza foi coisificada e separada do homem que perdeu de vista sua condição natural. Ela virou matéria-prima para industrialização e transformação em mercadorias disponíveis ao consumo.

Neste modelo de sociedade tem valor quem tem poder de consumo. Os valores se inverteram. Para ser reconhecido não é suficiente ser um professor, um médico, um dentista, um comerciante, seja qual for a profissão. Basta ser um consumidor.
Não importa os saberes e o conhecimento acumulado, não importa a conduta ética e socialmente comprometida, importa o quanto se consome.
Quanto maior o poder de consumo, mais valorizado será o indivíduo nesta sociedade.

A individualização é outra forte marca neste sistema, a solidariedade e a amizade perderam o valor.
Para o sistema se sustentar é necessário estimular o consumo, com isso desenvolve-se a economia, mas deteriora-se o ser humano.
Pesquisas demonstram que os índices de felicidade têm decrescido, principalmente em países ricos.

No ranking da pesquisa realizada em 65 países e territórios, foi avaliada a porcentagem da população que diz se sentir feliz. Os sete primeiros colocados são países do terceiro Mundo (Nigéria, México, Venezuela, El Salvador, Porto Rico, Vietnã, Colômbia). Para o Brasil, a idéia de que somos o povo mais feliz do mundo caiu por terra: apenas 30% das pessoas entrevistadas se consideram plenamente felizes.
Giannetti (2004) considera, sobre esta contatação, que entre as causas possíveis deste fato está a perda das raízes culturais, provocadas pela urbanização recente – diferentemente do caso nigeriano, por exemplo. Em segundo lugar estaria a desigualdade social brutal, que faz ricos e miseráveis disputar o espaço gerando, em conseqüência assim uma ansiedade e insatisfações para ambos. (Martinelli, 2004)

Isto demonstra que a riqueza econômica não está diretamente ligada à felicidade. Claro! Criou-se um manicômio social. Criaram-se necessidades desnecessárias e um sentimento de impotência e insatisfação à grande maioria das pessoas que não possuem poder aquisitivo para adquirir o carro do ano ou o tênis da moda. Criaram-se distúrbios psicológicos a uma grande maioria que perdeu de vista seus valores e tentaram suprir suas necessidades afetivas e espirituais com coisas materiais.
A humanidade esqueceu sua condição natural e, com isso, a noção de que tudo que fizer à Natureza será feito a ele mesmo, já que somos apenas um fio na enorme teia da vida.
Aos poucos estamos conduzindo a humanidade à barbárie e à própria extinção, afinal não é a Natureza que pede socorro, não é ela que precisa ser salva, mas uma parte dela – a própria humanidade deve salvar-se de si mesma. É esta contradição que deve ser discutida, este é o ponto crucial. Mas o que se vê nestes encontros é um grande teatro da retórica e dos discursos vãos sem uma medida prática, efetiva.

2. Qual é o problema? Qual é a saída?

O tema central destas discussões é o aquecimento global. O carbono é colocado como o grande vilão da questão ambiental, os holofotes da grande mídia estão direcionados para ele.
Mas outras vozes ecoam em outros espaços lembrando que o carbono é o gás da vida. Ocupa o primeiro nível trófico (alimentar) e tem um papel fundamental na transferência de energia ao longo da cadeia alimentar. Na fotossíntese ele, juntamente com outros compostos, é transformado em substâncias orgânicas que garante a vida nos outros níveis da cadeia alimentar.
Afinal, o gás carbono é um veneno ou um alimento?
Recorrendo a um velho ditado, ‘tudo em excesso faz mal’.

A sociedade consumista, industrial e urbanizada tem produzido artificialmente e emitido para a atmosfera uma grande quantidade de gás carbonico, provocando um desequilíbrio natural.
Mas esta questão é polêmica. A Terra já passou por períodos de aquecimento e de resfriamento global sem qualquer interferência antrópica. Depois da época dos dinossauros houve quatro momentos de glaciação intercalados por períodos inter-glaciais, onde a temperatura global aumentava. Há registros de geleiras que cobriam o cone sul da América Latina até as proximidades da latitude de Itu-SP.

A questão central, a priori, não é identificar em que medida as alterações climáticas são decorrentes das emissões antrópicas e em que medida é resultado de um fator natural! Mas questionar o atual modelo de desenvolvimento vigente e apontar uma sustentabilidade da vida, com mais igualdade, fraternidade, cooperação e amor. Sim, amor!!! Quanta caretice! Mas foi evitando o romantismo e a poesia que o Homem foi perdendo sua condição de humanidade. Foi evitando estes termos piegas, caretas e fora de moda que a humanidade foi se tornando massa de manobra e apenas mais uma peça do sistema capitalista global. Não somos máquinas nem robôs, somos humanos.

Trata-se de uma questão de garantia da sobrevivência da espécie humana. Esta deveria ser a discussão chave nessas conferências. O atual sistema de desenvolvimento garante a sobrevivência da espécie humana? É sustentável?
O que se vê é a exploração cada vez mais voraz dos recursos naturais, destruindo ecossistemas inteiros, fauna e flora, e pior, comunidades inteiras, culturas, tradições são afogadas no lago de uma grande represa ou destruídas no fogo das queimadas para dar espaço a grandes monoculturas, latifúndios e pecuária.

A história brasileira é rica nestes exemplos. Da Mata Atlântica restam menos de 8% da floresta original, o Cerrado, considerado o berço das águas brasileiras, não foi poupado após a descoberta da correção da acidez de seus solos na década de 1960. E, no limiar do século XXI, a Amazônia é o palco da recente fronteira agrícola.

Este filme já rolou nos países desenvolvidos que já destruíram grande parte de seus ecossistemas naturais e não é necessário revivê-lo para conhecer o final - o sistema está em crise, em rota de colisão. A sustentabilidade humana na Terra não admite brincar de conferência.

É necessário questionar um sistema que acumulou tanta riqueza, mas concentrou nas mãos de poucos e deixa tanta gente morrer na miséria. É necessário questionar um sistema que admite riqueza e ostentação de uns países às custas da exploração das riquezas de outros. A história não deixa dúvidas e nem mentir, basta ver a situação sócio-ambiental atual dos países da América Latina, África e Ásia que foram colonizados e explorados no passado.

Apesar de ter acumulado tanta riqueza econômica e desenvolvimento tecnológico não foram extintas a escravidão, a fome e o desemprego. O fosso da desigualdade social é ainda mais agravante.
Para ocupar uma posição social somos estimulados à competição aos moldes da teoria maquiavélica de que ‘os fins justificam os meios’. As melhores escolas e sistemas educacionais são aqueles que preparam para o vestibular e para o mercado de trabalho, por isso disciplinas como filosofia, sociologia, artes, história e outras das áreas humanas, carecem de valorização. Cooperação e solidariedade é uma palavra fora de moda no manicômio social.

Em que momento os paradigmas atuais do desenvolvimento foram questionados na COP-15? O que se viu nesta conferência foi um total descaso e desinteresse pela sustentabilidade humana. Isto ficou evidente na pressa em definir um documento de improviso elaborado por chefes de 25 países para inglês ver e para o mundo ver, na tentativa de expressar um compromisso e ideal comum

Durante a madrugada de hoje, 25 países trabalharam em um texto com o objetivo de que os mais de 100 de chefes de Estado e de governo reunidos em Copenhague pudessem fechar hoje um acordo de redução de emissões. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u668506.shtml 18/12/2009)
O chefe de Estado brasileiro admitiu a incapacidade de definir tal documento:
Lula afirmou ainda que "gostaria de sair daqui com o documento mais perfeito do mundo, mas se não conseguimos fazer até agora não sei se algum anjo ou algum sábio descerá nesse plenário e colocara na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora".
(
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/12/18/ult4477u2173.jhtm)

Falta inteligência? A questão é muito mais complexa e jamais se resolve em uma conferência de uma semana. Aliás uma conferência é realizada para se avaliar as metas propostas para determinado tema e avançar a discussão revendo ou propondo novas metas. Onde estão as metas para a erradicação da pobreza e da miséria? Onde estão as metas para desenvolver mecanismos de desenvolvimento realmente limpos, isentos de custos sociais e ambientais como, por exemplo, o uso da energia solar, tão mal aproveitado e explorado? Quanto foi definido de verbas para pesquisas nesta área? Quanto e quando ficou definida a compensação pelos países ricos dos recursos e mão de obra, explorados dos países pobres? Onde estão as metas para acabar com a desigualdade social? O que ficou definido?
Nada!

Definitivamente não falta inteligência! Falta ética, falta compromisso com o ser humano, falta solidariedade, enfim, falta humanidade.
A ganância econômica tornou a conferência um fiasco desde sua gênese. Assistimos a um grande teatro global, recheado de falácias, retóricas e discursos vazios. Há um desinteresse geral na discussão e no questionamento acerca dos atuais paradigmas de desenvolvimento econômico que está numa relação direta com o (des) envolvimento, ou seja, o não envolvimento humanitário.

3. REFERÊNCIAS


MARTINELLI, Patrícia. Qualidade ambiental urbana em cidades médias: proposta de modelo para o estado de São Paulo. Rio Claro: [s.n.], 2004. 130 f.: il., tabs., quadros, mapas. Dissertação (mestrado). Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Orientador. Roberto Braga. Disponível on line em UOL Notícias. Tudo sobre a COP-15. Disponível on line em http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/especial/2009/conferencia-clima/ dez/2009. Acesso em 28 dez 2009.

sábado, 26 de dezembro de 2009

CONFERÊNCIA DE COPENHAGUE 2009

Foto: fontes de emissão de poluentes para a atmosfera.

COPENHAGUE 2009!
QUE CONFERÊNCIA? QUAL CONFERÊNCIA?
Um balanço geopolítico

Por Valter Machado da Fonseca

1. Introdução
Há poucos dias atrás aconteceu em Copenhague (Dinamarca) a tão esperada conferência mundial do clima. Mas, aqui cabe a pergunta: Que conferência? Qual conferência? Sim! A ironia é necessária, uma vez que supostamente teríamos uma conferência mundial para debater o grande problema das alterações climáticas. Porém, o que se viu em Copenhague foi um circo montado para uma demarcação de posições políticas, uma demonstração de poder político e econômico. Mas, que tipo de poder? O poder pernicioso do discurso enganoso, vazio, obscuro, supérfluo, porém cheio de promessas vagas e superficiais para um futuro incerto e nebuloso.

O mundo inteiro esperava pela tão propalada conferência de Copenhague. O mundo todo esperava ouvir dos chefes de estado, presentes no tão esperado evento, propostas que visassem, pelo menos, minimizar os graves problemas ambientais que angustiam toda a humanidade neste limiar de século XXI. O planeta todo esperava ouvir dos grandes dirigentes das diversas nações, que eles estão de fato preocupados com o futuro da Terra e da humanidade e, que apresentariam propostas palpáveis e executáveis para enfrentar esta importante problemática.

Todos os povos [e quando digo povos não me refiro aos governantes] esperavam que os dirigentes das mais diversas nações tivessem a dignidade e a humildade de se despir da arrogância advinda da ganância pelo lucro a qualquer custo, em detrimento de recuperar a saúde ambiental do planeta. Que deixariam de lado a luxúria, a ostentação e a hipocrisia e, pelo menos uma vez na vida, abandonassem suas vaidades pessoais, o jogo do poder, para dizer ao mundo que, como dirigentes, têm responsabilidades com os destinos da humanidade e com o futuro da Terra e das gerações futuras.

Mas que nada! O que o mundo viu foi um discurso truncado, cheio de armadilhas, carregado de hipocrisia e que, no fim das contas, visava a atender somente os anseios do lucro dos grandes grupos e conglomerados inter/multi/transnacionais. O que se assistiu foi um discurso leviano que reafirmava o poder dos ricos sobre os pobres, que reafirmava a linha que traça a divisória do abismo que separa os países pobres do hemisfério sul, dos países ricos do hemisfério norte. Aí fica uma pergunta: o que os países africanos foram fazer nesta conferência? O que os países da Ásia Central foram fazer nesta conferência? O que os países da América Latina foram fazer lá? Foram justificar o discurso dos países ricos? A resposta é: sim! Foram fazer exatamente isso.

2.1 Qual a contribuição dos EUA e da União Europeia no debate do clima?
Que nada! O que o mundo presenciou foi a prepotência dos EUA tentarem, desesperadamente, recuperar o lugar de destaque outrora conquistado pelo dólar [e os petrodólares], o discurso aflito e ausente, miúdo e caquético de Barack Obama tentando recuperar seu lugar perdido de grande líder mundial. O que o povo viu foi a figura desesperada de uma chefe de Estado norteamericano, totalmente aturdido e ainda abalado pela crise econômica mundial do capitalismo, tentando resgatar seu lugar de principal dirigente da economia mundial.

O que a população de todo o planeta viu foi uma Europa, carcomida, falida, sem nenhum discurso, sem nada a dizer, suplicar, reclamar seu lugar também outrora perdido, de “centro do universo”. Uma Europa que destroçou seus próprios recursos naturais, com uma política de “olhar para o próprio umbigo”, de não saber, jamais, o significado da palavra “planejamento industrial e urbanoambiental”.

Dois polos: EUA e União Europeia, que mostraram, mais uma vez, total incompetência para gerir os recursos do planeta e os destinos da humanidade. Que mostraram que nunca estiveram preparados para assumirem posições de liderança perante o conjunto dos povos do mundo. Dois polos que já demonstram não possuir nenhum discurso que tenha qualquer conteúdo relativo à responsabilidade socioambiental.

2.2 E a China?
A República Popular da China foi o terceiro polo do evento mundial. Considerada uma nação “emergente”, um país que tem seu desenvolvimento econômico calcado na total ausência de quaisquer formas de planejamento urbanoindustrial, a China cresce devorando seus recursos naturais nos moldes das demais nações capitalistas. É considerada, hoje, um dos principais polos de emissão de poluentes para a atmosfera.
Nesta conferência, a China foi duplamente atacada: pelos EUA e pela União Europeia. Apesar das acusações contra a nação chinesa terem como eixo da argumentação o aumento dos gases estufa emitido por ela, esse pretexto visava, principalmente, eliminar sua constante ameaça à supremacia política e econômica dos dois blocos supracitados. A questão da emissão de poluentes para a atmosfera serve, perfeitamente, de pretexto para frear seu processo de crescimento industrial, o que eliminaria a ameaça às supremacias político-econômicas dos EUA e da UE.

Isto vem expor, por completo, a essência das discussões e dos debates que marcaram o evento: o eixo das discussões foi desviado para as disputas geoeconômicas e não para os debates em torno das ações objetivando combater o problema do aquecimento global.

2.3 E os países pobres ou [como prefere a maioria dos estudiosos] países em desenvolvimento?
Esses assumiram atitudes frágeis, inconsistentes, débeis, covardes até, tentando, desesperadamente um lugar, junto a um desses dois polos. Na verdade, os discursos dos governantes dessas nações eram os mais esperados, pois, traziam aquele fio de esperança quanto aos destinos do planeta. Nada disso aconteceu! Os discursos dessas nações serviram, exatamente, para reafirmar as posições dos países ricos, para justificar seus discursos obscuros, ardilosos, vazios.

Isto ficou claro no pronunciamento da delegação brasileira que, num tom abaixo, foi uma reprodução fiel do discurso de Obama. A fala do dirigente brasileiro fez parecer que sua tarefa era chefiar sua delegação numa expedição ao “muro das lamentações” [com todo o respeito à fé muçulmana]. Aliás, o discurso brasileiro na conferência foi orquestrado, de um lado pelo presidente francês [porta voz da União Europeia] Nicolas Sarcozy e de outro por Barack Obama [porta voz norteamericano]. O Brasil se negou a assumir seu papel de líder do bloco dos países pobres, “em desenvolvimento”, não os convocando à unidade de ação no encontro.
A participação desses países foi covarde e submissa. Faltou coragem e ousadia para reivindicar, debater em pé de igualdade com os ricos. Faltou rebeldia para se fazerem ouvir, para dizer que não estão dispostos a tolerar mais o descaso para com a gestão dos recursos naturais. Faltou ousadia para bradar, em alto e bom som, que não aceitam mais em seu território os rejeitos [lixo] de uma sociedade carcomida e decadente. Que podem levar, de volta, seus containers, que não vão gerir resíduos, mas sim os recursos naturais que eles [os ricos] estão cobiçando há muito tempo.

Faltou coesão, unidade em seu discurso. Não atuaram em prol de uma plataforma de ação que estabelecesse metas e construíssem propostas unificadas para fazer cumprir a verdadeira pauta do evento. Pode-se dizer que os países pobres perderam uma excelente oportunidade de unificar seus discursos, reivindicações e propostas dentro do modelo proposto de desenvolvimento sustentável. Foram a reboque do discurso dos blocos econômicos representantes dos países ricos e que mais poluem a atmosfera terrestre. Enfim, nesta conferência (?), mais uma vez, perderam o “bonde da história”.

3. O que se tirou de objetivo? De concreto? De prático?
Nada! Absolutamente nada! O que fora construído nas conferências anteriores, o que restava do Protocolo de Kyoto foi rasgado em público pelos países ricos e jogado no lixo pelos países “em desenvolvimento”. Nenhuma meta decisiva para a redução de poluentes foi construída. Nenhuma ação prática de responsabilidade socioambiental foi edificada. Nada se fixou em relação às queimadas e desmatamentos. Nenhum prazo foi estipulado. Nem parecia que o tema central do evento eram as alterações climáticas.
O que se sabe é que cifras astronômicas foram gastas [jogadas fora] com a preparação da conferência tão esperada. Do que aconteceu nos bastidores do evento, nada se sabe apenas se imagina. O que se pode dizer, com toda certeza, é que tudo se debateu, exceto as problemáticas socioambientais, em especial as alterações climáticas, que foram deixadas para segundo plano.
4. E agora, o que fazer?
Os resultados da conferência não apontaram nada de concreto, nenhum fio de esperança foi tecido. Nas entrelinhas dos discursos dos principais chefes de Estado, o que se pode perceber foi a falta de compromisso, de responsabilidade para com os graves problemas socioambientais que tanto angustiam a humanidade neste início de século.
Pode-se perceber que os dirigentes mundiais não estão nada preocupados com tais problemas, mas extremamente preocupados em manter suas regalias, seu poderio bélico, político e econômico. Que eles trocam e trocarão, sempre, a saúde ambiental do planeta pela mais valia, não importando com as consequências dessa opção. Que não possuem nenhuma proposta para quaisquer formas de planejamento socioambiental, muito menos para a diminuição de poluentes para a atmosfera.

4.1 Qual a esperança daqui em diante?
Por incrível que pareça, existe um fio de esperança. E esta esperança está nas mãos da população mundial, nas mãos do povo. Na verdade, a única forma que restou para se debater as grandes questões ambientais da atualidade passa, exatamente, pela participação direta das populações das diversas nações do mundo.

Se os governos não estão preocupados, o povo está. Só a organização popular, cientistas, estudantes, professores, universidades, movimentos sociais, sociedade civil organizada, possuem o poder de pressionar esses governantes, para que assumam suas responsabilidades em relação aos graves problemas socioambientais da sociedade moderna. Só esses setores podem exigir que os governantes abandonem o discurso superficial e vazio, que abandonem a hipocrisia e a covardia e assumam atitudes corajosas, para fazer valer as funções inerentes aos cargos que seus povos lhes confiaram.

Neste sentido, a organização e pressão populares são fundamentais para que se saia do impasse gerado, principalmente a partir desta conferência. A partir das mobilizações organizadas desde a base, torna-se possível traçar ações práticas e efetivas visando à minimização dos impactos socioambientais que colocam em risco a saúde ambiental do planeta e a continuidade da existência da espécie humana.

5. Como fazer o balanço de algo que nada discutiu, que apontou para o vazio?
O balanço do evento de Copenhague leva a duras e terríveis reflexões. A situação ambiental do planeta está à mercê de especulações paliativas e superficiais, muito próximas dos anseios e do lucro das grandes corporações multi/transnacionais e muito distantes dos anseios e bem estar das populações, de se apresentarem enquanto propostas práticas e concretas para superar os problemas e os desafios socioambientais da atualidade. O rescaldo do encontro de Copenhague foi extremamente negativo.
Um fracasso!Um desastre! Uma decepção! Um fiasco! Essas expressões traduzem bem o que foi a Conferência de Copenhague. O que podemos concluir é que o evento não existiu, mas os problemas existem, o aquecimento global é um fato real, e como tal deve ser combatido. A solução para os problemas socioambientais da sociedade moderna exige ações políticas, mudanças de comportamento, ações que levem a um efetivo planejamento industrial e urbanoambiental global.

Se a Conferência Mundial de Copenhague não apontou nenhuma solução, a ação política passa a ser uma responsabilidade dos diversos setores organizados da sociedade. Portanto, agora é nossa a tarefa de chamar este debate, é tarefa das escolas, dos educadores, universidades, estudantes, movimentos sociais, cientistas, enfim, dos diversos setores da sociedade organizada tomar nas mãos os desafios de construir ações locais/globais e globais/locais, visando à minimização dos graves problemas socioambientais que tanto angustiam a humanidade, nesse limiar do século XXI. Por fim, podemos afirmar que o encontro de Copenhague de dezembro de 2009, pode ser definido como "A Conferência que nunca existiu".

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CONVOCATÓRIA RETOMADA DAS ATIVIDADES: NEEFICS

AOS COLEGAS DO NÚCLEO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS DO TRIÂNGULO MINEIRO – NEEFICS:


Caros colegas;

O nosso grupo de estudos passou por um grande período sem se reunir. Vários foram os motivos: acúmulo de tarefas por parte de muitos integrantes, falta de horários para outros, grande número de compromissos neste último semestre, dentre outros motivos. No meu caso, em particular, foi uma mistura de diversas razões.
Porém, esse período, em que passamos ausentes uns dos outros, teve dois lados; o primeiro foi negativo, pois, o grupo que vinha numa trajetória crescente, elaborando e debatendo importantes temáticas, não conseguiu dar as respostas necessárias aos desafios a nós lançados, além da interrupção de um trabalho que havia começado. Não quero me isentar da culpa e responsabilidade. Uma parcela dessa culpa se deve à minha falta de planejamento e, isto serve de elemento para reflexão. Porém, pelo menos um lado positivo esta pausa apresentou: deu-nos um tempo para refletirmos sobre nossa produção, nossas convicções, nosso vínculo com o grupo e, acima de tudo, de reflexão acerca de nosso vínculo para com a construção de dias melhores, da construção de um pensamento científico voltado para a maioria da humanidade, para os explorados e oprimidos desse modelo econômico excludente e de superexploração.
CAROS COLEGAS!
Entretanto, é chegado o momento de retomada das nossas atividades. É importante, ainda, relembrar que no próximo dia 17 de janeiro o nosso grupo completa seu primeiro ano de existência. Esta data deve ser marcada pelo debate, pela construção de propostas que façam avançar o coletivo do NEEFICS, que façam surgir um pensamento coletivo, forte e coeso, que apontem para propostas de trabalho visando a reconquista do dinamismo de nosso núcleo de estudos.
É com estas preocupações que me vejo no papel de convocar todos os membros do NEEFICS para a retomada de nossas atividades, por intermédio de uma reunião dia 23/01/2010 (sábado). Proponho que esta reunião seja em minha residência, situada à Rua Hélio Santos, nº 155, Conjunto Uberaba I, às 10 horas da manhã.
Um Próspero ano de 2010 e conto com a presença de todos em nossa reunião.

Uberaba, 24/12/2009.

Um grande abraço;
Valter Machado da Fonseca