domingo, 22 de agosto de 2010

A cultura e a contracultura

Por Valter Machado da Fonseca
Caros (as) leitores (as)!
Hoje, me dirijo a vocês para falar de uma angústia que vem crescendo, continuamente, nos tempos presentes. Gostaria de falar um pouco acerca dos meus devaneios, quase frequentes nas madrugadas frias de inverno. O assunto que ora me atormenta é o processo cultural [ou contracultural] no qual estamos submersos até o pescoço. O que é cultura, afinal? Na sociedade moderna é difícil [para não dizer impossível] respondermos a esta indagação. Observando os noticiários, a música, a dança, enfim, as diversas formas de expressões atístico-culturais, vemos uma pseudocultura construída sob o marketing da sociedade de consumo. Uma "cultura enlatada"! Acho que essa é a expressão correta.
Quando Caetano Veloso se referia ao “lixo ocidental” em suas belas canções, ele se referia ao rejeito, à sucata, aos dejetos, às sobras de uma produção cultural americanizada e europeizada, de forma forçada e, cujo destino final eram as mentes e os corações africanos e latinoamericanos. Caetano, Gil, Chico Buarque, Edu lobo, João Bosco, Belchior, dentre outros, chamavam à atenção num movimento pós Tropicália, para os perigos de nos deixarmos engolir por essa contracultura que surgiu da lama gosmenta americanizada e europeizada. Uma cultura que não servia para eles, mas que queriam empurrar para nós, assim com tentaram fazer, recentemente, com seus containers de lixo. Quero deixar claro que defendo a ideia de uma cultura universal, sem fronteiras, enfim, uma cultura para a liberdade. A arte é universal, não tem fronteiras. Porém, nunca defendi o acolhimento universal ou localizado de rejeitos da contracultura estrangeira.
Hoje, basta olhar os enlatados da TV, do rádio, das revistas e dos jornais para percebermos a invasão sistemática não da cultura originada simplesmente do “lixo ocidental”, mas advinda do “lixo”, proveniente do “lixo ocidental”, ou seja, “o lixo do lixo ocidental”. Os perigos sobre os quais nos alertavam Chico Buarque e seus amigos estão aí, invadindo, escancaradamente, nossas casas, nossos corações e nossas mentes. Na barbárie da sociedade atual, assistimos à gestação de uma sociedade acéfala e aculturada, reprodutora da contracultura, do culto ao consumismo e ao descartável. Presenciamos o nascimento de uma sociedade, na qual os valores culturais se edificam sobre a podridão de um sistema necrosado e decadente, onde o inimigo mortal do homem é o próprio homem.
Mas, será que tudo está perdido? Eu afirmo que não. No meio de toda essa contracultura gosmenta, em meio ao “lixo do lixo ocidental” podemos verificar que existem pessoas que criam a boa música, a boa literatura, a boa pintura, a boa fotografia, a boa dramaturgia. Em nossa região e, em especial em nossa cidade, temos legítimos representantes de uma cultura autêntica e que reflete os valores artístico-culturais originais de nosso povo. Mas, para isso é necessário que saibamos garimpar. Esses expoentes culturais de nossa gente estão perdidos no meio do “lixo do lixo ocidental”. É preciso que os encontremos e estendamos-lhes as mãos, antes que eles sejam tragados pelo “buraco negro”, pegajoso, obscuro, sem fim, da contracultura gosmenta americanizada e europeizada. Faz-se urgente que os salvemos do “lixo do lixo ociedental”.

sábado, 14 de agosto de 2010

A ciência e a prática da ciência nas bordas da modernidade: Prefácio livro "O SUJEITO & O OBJETO"

É também com grande orgulho e satisfação que apresentamos o posfácio do livro "O SUJEITO & O OBJETO", de autoria de Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga. Este prefácio foi uma gentil contribuição do Prof. PhD. Humberto Guido, docente do Programa de Mestrado/Doutorado da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (PPGED/FACED/UFU).

PREFÁCIO
Por Humberto Guido
O título deste livro remete ao feixe de questões que dão expressão ao modelo de ciência produzido pelos modernos, cuja obra coletiva vem sempre à mente quando se discute os impasses do tempo presente, a devastação do planeta, o envenenamento da mesa (daqueles que a tem), a concentração de riqueza e a disseminação da miséria em escalas jamais constatadas pelos estatísticos. O problema não é etimológico, como se a simples interpretação da palavra ciência pudesse descerrar o mistério do mal que avança sobre a humanidade, tornando plausível a destruição precoce do planeta e com ele todas as formas de vida.
O conteúdo dos capítulos deste livro levará o leitor a entender que a crise não é interpretativa, a pergunta elementar “o que é a ciência afinal?” abordada no primeiro artigo (O DISCURSO HEGEMÔNICO NAS ENTRELINHAS DO SABER) informa que o problema não é semântico, o que se deve discutir é a prática da ciência, uma situação que de saída sugere que o problema ainda não foi captado pelas instituições formadoras de professores: as universidades e os centros de educação superior. A prática da ciência ainda se faz desconhecida para grande parte dos profissionais da educação, seja a básica, seja a superior, e por vezes até mesmo na pós-graduação.
A percepção da realidade não muda apenas com interpretações, é preciso uma nova atitude para o enfrentamento dos velhos problemas, para isso é preciso repensar a formação dos agentes sociais, desde a criança até os professores formadores de professores, esta situação foi destaca por Marx em uma simples afirmação categórica, uma tese em pouco mais de três linhas: “A doutrina materialista sobre a mudança das contingências e da educação se esquece de que tais contingências são mudadas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado” . É preciso, portanto, refletir sobre a prática educativa, também nas escolas, pensar sempre! Esta orientação aparece em todos os artigos do livro, com maior intensidade nestes: Degradação ambiental e exclusão social: interfaces de um problema da cidade (e da sala de aula), Globalização, crise da educação e falência da modernidade: notas para uma ação ética na escola, Uma escola para além do capital: o currículo como instrumento de controle ideológico.
Os outros artigos percorrem a mesma via que conduzirá o leitor na discussão da educação ambiental, cuja reflexão contribuirá na elucidação dos impasses epistemológicos e didáticos, que quando ignorados dão oportunidade para a reprodução o modelo pedagógico alienado e distante da prática da ciência contemporânea, o que na maioria das vezes reforça a visão ingênua da ciência como portadora da verdade definitiva para o progresso e prosperidade, de maneira que todo produto da ciência é necessariamente bom e deve ser recebido com aplauso. A educação ambiental é o grande desafio da sociedade capitalista e o seu sistema de ensino.
A leitura dos artigos é oportuna, não apenas pelo alerta dado pelos autores, mas, a contribuição significativa do conjunto de artigos aqui reunidos é a proposição da atitude crítica frente aos problemas gerados pelo modelo de desenvolvimento capitalista, que é sustentado pelo consumo em larga escala e cujo resultado ultrapassa a reprodução das forças de produção. O resultado visível do modelo é a devastação do ambiente, não somente os ecossistemas, o ambiente humano também é contaminado, sendo assim, a educação ambiental é atravessada pelas questões éticas: do indivíduo, do grupo, da sociedade.
A característica marcante dos escritos de Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga é a abordagem do problema em sua complexidade, suas análises evitam o imediatismo da leitura de superfície, as ponderações e digressões analíticas escavam a realidade, para deixar visível o cerne dessas questões que se entrelaçam o que inviabiliza a conduta tipicamente positivista de responder aos desafios, porque no velho paradigma o diagnóstico quer insistir na simplicidade das situações-problema, como se a realidade estivesse destituída da multiplicidade que lhe dá forma.
É preciso uma nova atitude educativa, que demanda a mudança de paradigma no âmbito da educação, deixando para trás o ensino formal calcado nos conhecimentos inertes e incapazes de elucidar o mundo. A mudança na esfera da educação uma possibilidade de revisão da prática da ciência, porque não existe a ciência sem o cientista, logo, a ciência é uma prática social, que até o momento esteve submetida ao modelo econômico, mas que pode mudar e fazer mudar o modelo, instaurando em seu lugar uma nova mentalidade, comprometida com a conservação da natureza e igualmente engajada na preservação do humano em harmonia com todas as formas de vida.
Não é por outra razão que o livro se encerra com um ensaio sensível dedicado a Paulo Freire (Paulo Freire e a educação libertadora: Um modelo para a construção de uma nova escola), educador brasileiro cuja teoria alcançou o mundo e pode ser identificada ao lado de outras práxis empenhadas na refutação do autoritarismo científico e da alienação escolar. Com esta certeza, renovo a esperança de que o mundo ainda é viável, que a humanidade ainda pode ser educada.
Boa leitura!

Posfácio livro "O SUJEITO & O OBJETO"

É com imensa satisfação que apresentamos a todos (as) que acompanham o Blog do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS), que apresentamos o Brilhante posfácio escrito pelo nosso querido professor Décio Bragança, docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE).

POSFÁCIO
Por Décio Bragança
É uma honra para mim posfaciar uma obra que se propõe discutir assuntos tão importantes, como educação, modernidade, ecologia, cuidados com o planeta Terra e cuidados com os homens neste planeta. É uma honra posfaciar uma obra de tão importantes professores: Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga.. foi deveras um dos grandes prazeres ler uma obra complexa, concisa, reflexiva e proativa.
Urge uma revolução nos destinos do país. A revolução a que se pretende começa nas escolas. A escola é o lugar de explosão de idéias, onde se planejam as ações transformadoras e de ruptura, onde se conjugam todas as inteligências nacionais, porque na escola está a massa humana de todos os destinos e um projeto organizado. Há de se fazerem aliados, companheiros, estradeiros, caminhantes, utópicos, idealistas, entusiásticos, inquietos, rebeldes e sonhadores. Caso contrário, a revolução não sai do papel.
É dever de todos trabalharem. O trabalho assalariado é algo muito novo e já está prestes a morrer, a acabar. Afinal, já sobreviveu por, mais ou menos, duzentos anos, no mundo. No Brasil, sobrevive, mais ou menos, há uns cem anos, século XX. Associado à idéia desse tipo de trabalho, houve a expansão desordenada de escolas, de universidades, do ensino superior no Brasil. Isso é coincidência? Claro que não! Não existe coincidência! Só isso prova que as escolas estão preparando e formando mão-de-obra barata ao mercado explorador, a serviço do capital humilhante e discriminatório.
A sociedade brasileira atual se espelha num modelo neoliberal, capitalista, legalista, punitivo, individualista, onde cada um se salva, cada um é o que é, porque assim quer. “Muita gente não melhora de vida, porque não quer, porque não trabalha” – sabemos que isso é uma das maiores mentiras, assimiladas por todos como verdade inquestionável. Ninguém quer ser mau, bandido, vagabundo, preguiçoso, lixeiro, servente, ajudante do ajudante que limpa o cocô do cavalo do bandido. Sem chances e oportunidades, sem saúde e educação, sem alimentos e satisfação das necessidades básicas, vivendo o descaso e desprezo de todos, torna-se quase impossível ainda alguém reagir na luta pelo bem, pela verdade, pela beleza!
As cadeias, penitenciárias, delegacias estão superlotadas e amontoadas de pessoas pobres, de pouca escolaridade, de pouco poder aquisitivo, com poucas chances e oportunidades, negras e mulatas... Será que pessoas ricas, de boa escolaridade, com todas as chances e oportunidades, brancas e claras... não traficam drogas, não cometem crimes, não assaltam, não estupram, não roubam, não dão grandes e pequenas golpes? Claro que sim. E por que não vão presas? Há muitas razões. Uma delas é que os primeiros vivem em morros e favelas, e porque não têm atestado, certidão de posse, de propriedade do terreno e do barraco, a área é considerada pública. Consequentemente, seus crimes acontecem, para as autoridades, em lugares públicos. É só a polícia, as forças de segurança, o exército com seus tanques chegarem e levarem as pessoas que julgam suspeitas. No outro caso, o crime é cometido em lugares privados, condomínios, apartamentos, escritórios... e a polícia, as forças de segurança, o exército com seus tanques não podem entrar sem ordem judicial. Uma ordem judicial não é assim dada de uma hora para outra, principalmente sem uma causa, sem um motivo, sem um indício ou suspeita ou prova de crime. Nas escolas e nas universidades, professores e estudantes acham tudo isso muito normal, que deve ser assim mesmo, que deve ser protegido e divinizado o direito de propriedade.
Flagrantes espetaculares vão para os meios de comunicação de massa e a massa – que não pensa, segundo alguns – acha que todo pobre, que todo desempregado, que todo negro, que todo analfabeto, que todo homossexual, que todo favelado... é criminoso. Há força de segurança, exército, polícias... invadindo os morros, mas não invadem condomínios fechados e com segurança particular. Diante de tamanha insensatez, professores, mestres, doutores, phd’s... se calam e acham que tudo isso é muito normal. Diante de tanta injustiça, nenhuma escola protesta, nenhuma universidade protesta, levanta a voz.
Não existe educação sem cumplicidade. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que há cumplicidade de todos em todas as relações humanas e sociais. Essa cumplicidade poderá ser entendida como omissão. A título de exemplificação: se há traficante, há usuários de drogas, e vice-versa. Ambos são culpados, ou ambos são inocentes, mas as nossas leis, feitas por alguns poucos que freqüentaram escolas, em sua maioria, criam uma cara para o traficante e outra cara para os usuários, vivendo em estratos sociais bem definidos e diferentes. É um absurdo! As escolas não conseguem mudar o modo de pensar de pessoas que, proximamente, serão legisladores, juízes, promotores, procuradores... As escolas usam um discurso sem efeito – um sino que toca! O interessante é que esta mesma sociedade quer penas maiores para os traficantes e tratamento médico para os usuários, gratuitamente. Será que tanto um quanto outro não precisam de tratamento médico? Será que tanto um quanto outro não precisam de penas maiores e mais rigorosas? Infelizmente, nunca as escolas foram culpadas por essa situação! Quando as escolas e as universidades se calam, os discursos da mídia eletrônica e impressa criam as soluções de todos os problemas.
A expansão de escolas superiores foi muito maior que a oferta de empregos. A indústria, o comércio, os postos de serviços... não conseguem absolver todos os estudantes diplomados. O diploma, hoje, não garante absolutamente nada e muitos diplomados ficam sem emprego. A sociedade tem de entender que melhor do que um diploma, as pessoas têm de viver com dignidade e encanto. É triste observar a fila de desempregados com um diploma de curso superior na mão! Se o trabalho é um dever de todos, não será a escola, a universidade que vão resolver a questão de desemprego.
O desemprego, talvez, hoje, seja o nosso maior problema social. O interessante é que todos sabemos que ainda no Brasil tudo está para ser feito, para ser construído. Qualquer e todo país subdesenvolvido se oferece e oferece oportunidades maiores do que os desenvolvidos, onde quase tudo já está pronto, construído. E por que isso não acontece, aqui? Somos e fomos aculturados para ser empregados e não para ser trabalhadores! Somos e fomos aculturados para ser submissos e não decidir! Somos e fomos aculturados para ser obedientes e não empreendedores! Somos e fomos educados para obedecer, para fazer e não para pensar, para decidir!
A escola é, sim, a grande responsável pela mediocrização e alienação, pela massificação e humilhação, pela imbecilização e exploração do homem pelo homem. Uma pessoa com vinte anos de escola, de escolarização, passando por todos os níveis e graus, não pode se sentir um zero à esquerda, um nada. É uma afronta a todos os deuses e deusas de qualquer fé.
Não precisamos de heróis, nem vítimas, nem salvadores da pátria, mas precisamos, sim, de uma revolução que se faz com todos e com cada um. É preciso que todos e cada um opte pela revolução, apóie suas lutas e conquistas, participe da feitura de um novo destino.
Uma revolução é um momento mágico, porque é um mergulho na existência e nas razões da existência. O mágico, a magia faz parte da vida. De uma célula-ovo, um ser! Não há de haver maior transformação, mudança, revolução do que a própria vida! E o ciclo revolucionário da vida não tem fim, não termina.

Centro de Uberaba: planejamento urbano e revitalização


Por valter Machado da Fonseca

Foto: Concha acústica
Às vezes fico me perguntando o que será que falta aos administradores e legisladores de nossa cidade: bom senso, vontade política ou será mesmo falta de compreensão e informação sobre assuntos referentes a um efetivo planejamento urbano-ambiental? Quando me deparo com algumas entrevistas com diversas autoridades, representantes do poder executivo e/ou legislativo de nossa cidade fico estarrecido diante de algumas análises, explanações e informações referentes aos problemas urbanos e ambientais de nossa querida Uberaba. Se prestarmos atenção às entrelinhas dessas entrevistas conseguiremos perceber a completa desinformação e incompetência para tratar de determinados assuntos, em especial àqueles referentes às questões urbanas e ambientais.

A partir dessas considerações, quero me deter em alguns comentários acerca da urbanização do centro de nossa cidade de Uberaba. Esquecendo, momentaneamente, do problema crônico das enchentes, podemos verificar que as áreas centrais de nossa cidade são especialmente belas, porém, muito mal urbanizadas, planejadas e utilizadas. A começar pelo nosso patrimônio histórico-arquitetônico, que vem sendo sistematicamente destruído para dar lugar a nada. Falta informação [ou não] aos nossos administradores e legisladores, quando permitem que edificações antigas e belíssimas sejam levadas ao chão, para dar lugar a estacionamentos. Esses senhores demonstram total incompetência ou desinformação acerca dos fatores e aspectos que contam a história e registram a nossa cultura. O patrimônio arquitetônico das cidades são registros fundamentais de nossa história.

Outro aspecto que vem incomodando a população se refere ao planejamento [ou falta dele] de nosso trânsito. O trânsito de Uberaba tem se tornado cada vez mais caótico. O número de veículos, nos últimos anos, quase se equipara ao número de habitantes. Nos horários de pico, em especial nas áreas centrais da cidade tem se transformado num verdadeiro inferno. O mais grave é que não se vê nenhuma ação eficaz e efetiva visando a solucionar tal problema.

O centro de nossa cidade torna-se extremamente desorganizado nos dias úteis e totalmente morto nos finais de semana. É preciso planejar ações efetivas objetivando a revitalização correta da parte central de Uberaba. Quando se trata de arborização, o problema se agrava ainda mais. A vegetação das áreas centrais foi quase que totalmente removida. Isto, aliado à queimada da palhada da cana-de-açúcar já produz diferenciações climáticas nas áreas centrais, o que se denomina bolsões ou ilhas de calor. Uberaba talvez seja uma das cidades menos arborizadas do Brasil e, isto é extremamente desagradável para as condições da qualidade de vida de nossa população.

Por fim, gostaria de destacar a necessidade de revitalização do centro de nossa cidade. Podemos observar uma quantidade considerável de espaços ociosos, como a praça da concha acústica que não são utilizados para absolutamente nada, a não ser para a ação de vândalos que destroem o nosso patrimônio arquitetônico. Por que não revitalizar o centro de nossa cidade, aproveitando os espaços ociosos para atividades culturais de nosso povo. Dessa forma, além de otimizarmos e revitalizarmos o centro urbano de Uberaba, estaremos dando vazão ao potencial criativo de nossos artistas e auxiliando no combate ao vandalismo em nossa cidade. Tudo depende de bom senso e da vontade política de nosso poder público e nossos legisladores. É preciso parar de discutir o “sexo dos anjos” e voltar os olhos para os problemas reais de nosso povo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O MUNDO, “IMUNDO”, ONDE VIVEMOS

Por Valter Machado da Fonseca
Não faz tanto tempo, as pessoas costumavam sentar-se à tardinha no passeio de suas casas para um dedo de prosa, para falarem do dia a dia, ou, simplesmente, para curtirem um momento com a família ou com os amigos. Hoje, essas cenas, corriqueiras há alguns anos atrás, nem são cogitadas. Corre-se o risco de serem atropeladas, assaltadas, ou até mesmo assassinadas. Não faz tanto tempo, as crianças soltavam pipas nos lugares apropriados, brincavam de esconde-esconde, de amarelinha, de pique, dentre outras brincadeiras saudáveis. Elas corriam livres atrás de uma bola, sem se preocuparem com os problemas dos adultos. Hoje, elas ficam trancafiadas em seus quartos à frente de um computador, se relacionado, virtualmente, com pessoas irreais em espaços virtuais.
Não faz tanto tempo, crianças e adultos saíam juntos aos domingos para um piquenique, uma pescaria, ou simplesmente pelo puro prazer de passear, de curtir o bairro, a comunidade, a natureza. Hoje, os filhos saírem com os país é caretice. O mundo das crianças não pode ser compartilhado com os adultos. E aí, justifica-se: o mundo mudou, são os tempos modernos, é preciso se adaptar aos novos tempos. Não faz tanto tempo, o domingo era dia de curtir a vida, a família, os amigos, de colocar a prosa em dia, viajar para descansar o corpo e a mente. Hoje, o domingo é dia de ficar em frente à TV [desprovida de qualquer conteúdo] assistindo aos enlatados [sempre os mesmos]. Hoje, o domingo [todo domingo] é dia de ir ao Shopping Center e, consumir, consumir, consumir... Depois voltar para casa, carregado [sempre] de embrulhos e sacolas, que dentro de pouco tempo irão diretamente para o lixo.
Não faz tanto tempo, o ato de sair para a rua era prazeroso, hoje é perigoso. O domingo era divertido, hoje é pervertido. Os adultos trocavam idéias, hoje se agridem, mata-se por dez reais, o sexo virou pornografia, pedofilia, verborragia. As crianças, outrora inocentes, viraram marginais, trocaram a pipa pelo revólver, trocaram as brincadeiras pelas drogas, pela alucinação de uma ilusão sem projetos, sem conteúdo, sem essência.
Os tempos modernos criam valores fictícios, o culto ao consumismo, ao supérfluo, ao descartável. Trabalha-se simplesmente para consumir, para manter a expansão e reprodução do capital. O trabalho perde a centralidade de justificar a existência humana para virar apenas alienação. As religiões se multiplicam em milhares, às vezes a diferença está na vírgula da bíblia. Vêem-se inúmeras pessoas que saem do culto, da missa ou de outra coisa que o valha, batendo no peito, com a consciência do dever cumprido. Mas, no dia a dia, são incapazes de um aperto de mão, de um sorriso, de uma simples palavra de conforto para seus semelhantes.
Os prazeres autênticos da vida, os projetos maiores de felicidade, de mundo, de vida, são substituídos pela hipocrisia, pela covardia, pela violência, pelo consumismo. Os valores éticos e morais foram soterrados pela ganância, pela corrupção, pelas maracutaias, pelo poder das elites conservadoras. Estes valores supérfluos, imorais tornaram-se letais, mortais: são a essência do conteúdo do mundo, “imundo”, onde vivemos.

sábado, 7 de agosto de 2010

EM BUSCA DA ÉTICA PERDIDA

Por Valter Machado da Fonseca

Às vezes me vejo perdido, absorto em meus pensamentos sobre valores humanos e morais. Observando as notícias que povoam os meios de comunicação de massa (jornais, revistas rádio e TV) verificamos a repetição insistente e cotidiana de matérias acerca de violência para todos os gostos, como por exemplo, filhos assassinando pais e vice-versa, estupros, assaltos, esportistas envolvidos em seqüestros e assassinatos, enfim um turbilhão de mortes e atentados tanto físicos, quanto morais às pessoas envolvidas, quanto aos que acompanham as notícias na mídia.
Essas cenas de barbárie generalizada trazem à tona a velha discussão sobre os valores que deveriam ser inerentes ao caráter do ser humano, como o respeito, a solidariedade e a ética. Vários são os estudos e pesquisas existentes sobre a temática. Inúmeros são os estudiosos que se dedicam ao assunto. Grande maioria deles acaba associando a violência, falta de limites, a prática de delitos tão aviltantes, à origem pobre de alguns envolvidos. Outros a associa a aspectos sociais e educacionais. Porém, quase ninguém associa a violência ao modelo econômico que domina a sociedade da modernidade: o capitalismo.
O atual modelo econômico da produção nasceu da Revolução Francesa sob a égide de três palavras: liberdade, igualdade e fraternidade. Três palavras que apontavam para um modelo de sociedade que seria a solução para os problemas da humanidade, que apontavam para a promessa de felicidade do homem. Ironicamente, o que se vê é exatamente o contrário, assistimos, nos tempos presentes à desgraça humana, ao início da barbárie generalizada, ou seja, ao extermínio do homem pelo próprio homem. O ser humano não tem projetos de vida, não tem projetos de sociedade, nem projetos de mundo. Seus projetos são produzidos de acordo com os interesses dos grandes grupos e conglomerados multi/transnacionais, potentes ferramentas a serviço da plena expansão e reprodução do capital, a serviço da mais-valia a qualquer custo e qualquer preço.
As nossas crianças e jovens se enjaulam em seus quartos, vivendo mundos e vidas virtuais. Não entram em contato com seus semelhantes, a não ser por intermédio da grande rede mundial de computadores. Seus desejos são construídos segundo os interesses do consumismo, do culto ao supérfluo e ao descartável. Essas tendências e cenários mundiais além de produzir o lixo sólido e líquido que contamina as águas, a atmosfera e o solo, ainda produz o lixo moral que contamina as mentes e os corações da humanidade. Onde o ser humano vai parar com essa barbárie? Para onde caminha a humanidade no limiar do século XXI? Onde foram parar a liberdade, a igualdade e fraternidade?