quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

COP 15 – O grande teatro global.


Por Aristóteles Teobaldo Neto.



A proposta da COP 15 – Copenhagem.


A COP – 15, ou 15ª. Conferência das Partes, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) foi realizada neste mês em Copenhagem (Dinamarca), apresentando o tema central a questão ambiental mais debatida na atualidade – o aquecimento global.
Veja uma síntese de todas as reuniões intergovernamentais antes da COP 15.
1995
COP 1 – Berlim (Alemanha)
É sugerida a criação de um protocolo para diminuição da emissão de gases estufa
1996
COP 2 – Genebra (Suíça) – Declaração de Genebra (redução de gases estufa)
1997

COP 3 – Quioto (Japão) – Protocolo de Quioto
1998

COP 4 – Buenos Aires (Argentina) – Ratificação do protocolo de Quioto.
1999

COP 5 – Bonn (Alemanha) – Continuidade aos trabalhos

2000
COP 6 – Haia (Holanda) – Impasse entre União Européia e EUA
2001

COP 6 – 2ª. Fase
COP 7 – Marrakech (Marrocos)
– EUA deixam a mesa de discussão. Novo impasse.
2002

COP 8 – Nova Delhi (Índia) – Discussão de metas para uso de fontes energéticas renováveis.
2003

COP 9 – Milão (Itália) – Discussão Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e sumidouros de CO2
2004
COP 10 – Buenos Aires (Argentina)
– Regulamentação MDL e Quioto
2005

COP 11 – Montreal (Canadá) – Destaque para emissão de CO2 pelos desmatamentos e necessidade de mudanças no uso da terra
2006

COP 12 – Nairóbi (África) – Revisão do protocolo de Quioto
2007

COP 13 – Bali (Indonésia) -
2008
COP 14 – Poznan (Polônia)
– Países subdesenvolvidos assumem metas de redução de carbono.
2009
COP 15 – Copenhagem (Dinamarca)


Desde 1995 ela é promovida e reúne representantes de diversos países, desenvolvidos e subdesenvolvidos. Apesar disso, outras tantas reuniões intergovernamentais foram realizadas para discutir a relação do Homem com a Natureza. Os esforços globais em torno deste tema comum começaram a partir da década de 1970.

O foco das discussões é o aquecimento global e a definição de um documento de ações comum que visem diminuir a emissão de gases estufa que saem pelos escapamentos de veículos automotores, das indústrias e até mesmo da pecuária.
A questão ambiental é uma questão global, não respeita nem reconhece as fronteiras políticas. Uma poluição local pode gerar conseqüências local e globalmente.

Neste ano a COP 15 reuniu representantes de mais de 190 países, diferentes em vários aspectos: etnicamente, culturalmente, politicamente e economicamente. Discutir uma agenda comum em meio a tanta diversidade é uma tarefa complexa e exige um esforço muito além do que se demonstrou nesta mais recente conferência.

Apesar de tantas reuniões ainda não existe um consenso, muito menos metas efetivas com relação à questão ambiental. Interesses geopolíticos diversos estão em jogo. O discurso preservacionista soa bem aos ouvidos dos líderes dos países ditos desenvolvidos, com destaque aos EUA e União Européia, pelo freio que impõe à economia dos países em desenvolvimento e com forte potencial industrial, com destaque para China e Brasil.

Por outro lado estes países reclamam a hipocrisia nas vozes dos países do norte que pagaram um alto custo sócio-ambiental para ostentar tanto vigor econômico que os colocaram no domínio geopolítico global. Esgotaram seus ambientes e agora estão de olho nos recursos naturais dos países pobres industrializados e não industrializados. Esgotaram também seus espaços e agora buscam no mundo sub-desenvolvido lugar para depositar seus lixos de diversas naturezas: doméstico, industrial, dentre outros.

Mas sem dúvida, o pior tipo de lixo exportado foi seu modelo de produção e modelo de vida que é a essência da problemática ambiental. A sociedade optou por um modelo de desenvolvimento econômico degradante que transformou a Natureza, fonte da vida, em um armazém de recursos naturais.

1. A origem da problemática ambiental: a separação Homem – Natureza.

A ligação genética da vida com a Natureza é reconhecida nas duas maiores teorias que explicam o surgimento da vida no planeta. Na teoria evolucionista Darwin demonstrou que a água foi o ambiente apropriado para o surgimento das primeiras formas de vida.
Já a tese criacionista, cujo livro sagrado, a Bíblia, é o mais vendido do mundo e influencia um grande contingente populacional, mesmo usando uma linguagem metafórica, demonstra esta relação genética entre a vida e a Natureza. No primeiro livro sagrado, o Gênesis, isto é evidente em várias partes:

“E disse Deus, produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra” Gn 1:11
“E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes baleias, e todo réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies, e toda ave de asas conforme a sua espécie...”Gn 1:20,21
“E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado e répteis, e bestas-feras da terra conforme a sua espécie.Gn 1:24”
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Gn 2:7

Duas teorias confrontantes mas que concordam num ponto comum – a vida é fruto da Natureza.

Entretanto, a Natureza foi coisificada e separada do homem que perdeu de vista sua condição natural. Ela virou matéria-prima para industrialização e transformação em mercadorias disponíveis ao consumo.

Neste modelo de sociedade tem valor quem tem poder de consumo. Os valores se inverteram. Para ser reconhecido não é suficiente ser um professor, um médico, um dentista, um comerciante, seja qual for a profissão. Basta ser um consumidor.
Não importa os saberes e o conhecimento acumulado, não importa a conduta ética e socialmente comprometida, importa o quanto se consome.
Quanto maior o poder de consumo, mais valorizado será o indivíduo nesta sociedade.

A individualização é outra forte marca neste sistema, a solidariedade e a amizade perderam o valor.
Para o sistema se sustentar é necessário estimular o consumo, com isso desenvolve-se a economia, mas deteriora-se o ser humano.
Pesquisas demonstram que os índices de felicidade têm decrescido, principalmente em países ricos.

No ranking da pesquisa realizada em 65 países e territórios, foi avaliada a porcentagem da população que diz se sentir feliz. Os sete primeiros colocados são países do terceiro Mundo (Nigéria, México, Venezuela, El Salvador, Porto Rico, Vietnã, Colômbia). Para o Brasil, a idéia de que somos o povo mais feliz do mundo caiu por terra: apenas 30% das pessoas entrevistadas se consideram plenamente felizes.
Giannetti (2004) considera, sobre esta contatação, que entre as causas possíveis deste fato está a perda das raízes culturais, provocadas pela urbanização recente – diferentemente do caso nigeriano, por exemplo. Em segundo lugar estaria a desigualdade social brutal, que faz ricos e miseráveis disputar o espaço gerando, em conseqüência assim uma ansiedade e insatisfações para ambos. (Martinelli, 2004)

Isto demonstra que a riqueza econômica não está diretamente ligada à felicidade. Claro! Criou-se um manicômio social. Criaram-se necessidades desnecessárias e um sentimento de impotência e insatisfação à grande maioria das pessoas que não possuem poder aquisitivo para adquirir o carro do ano ou o tênis da moda. Criaram-se distúrbios psicológicos a uma grande maioria que perdeu de vista seus valores e tentaram suprir suas necessidades afetivas e espirituais com coisas materiais.
A humanidade esqueceu sua condição natural e, com isso, a noção de que tudo que fizer à Natureza será feito a ele mesmo, já que somos apenas um fio na enorme teia da vida.
Aos poucos estamos conduzindo a humanidade à barbárie e à própria extinção, afinal não é a Natureza que pede socorro, não é ela que precisa ser salva, mas uma parte dela – a própria humanidade deve salvar-se de si mesma. É esta contradição que deve ser discutida, este é o ponto crucial. Mas o que se vê nestes encontros é um grande teatro da retórica e dos discursos vãos sem uma medida prática, efetiva.

2. Qual é o problema? Qual é a saída?

O tema central destas discussões é o aquecimento global. O carbono é colocado como o grande vilão da questão ambiental, os holofotes da grande mídia estão direcionados para ele.
Mas outras vozes ecoam em outros espaços lembrando que o carbono é o gás da vida. Ocupa o primeiro nível trófico (alimentar) e tem um papel fundamental na transferência de energia ao longo da cadeia alimentar. Na fotossíntese ele, juntamente com outros compostos, é transformado em substâncias orgânicas que garante a vida nos outros níveis da cadeia alimentar.
Afinal, o gás carbono é um veneno ou um alimento?
Recorrendo a um velho ditado, ‘tudo em excesso faz mal’.

A sociedade consumista, industrial e urbanizada tem produzido artificialmente e emitido para a atmosfera uma grande quantidade de gás carbonico, provocando um desequilíbrio natural.
Mas esta questão é polêmica. A Terra já passou por períodos de aquecimento e de resfriamento global sem qualquer interferência antrópica. Depois da época dos dinossauros houve quatro momentos de glaciação intercalados por períodos inter-glaciais, onde a temperatura global aumentava. Há registros de geleiras que cobriam o cone sul da América Latina até as proximidades da latitude de Itu-SP.

A questão central, a priori, não é identificar em que medida as alterações climáticas são decorrentes das emissões antrópicas e em que medida é resultado de um fator natural! Mas questionar o atual modelo de desenvolvimento vigente e apontar uma sustentabilidade da vida, com mais igualdade, fraternidade, cooperação e amor. Sim, amor!!! Quanta caretice! Mas foi evitando o romantismo e a poesia que o Homem foi perdendo sua condição de humanidade. Foi evitando estes termos piegas, caretas e fora de moda que a humanidade foi se tornando massa de manobra e apenas mais uma peça do sistema capitalista global. Não somos máquinas nem robôs, somos humanos.

Trata-se de uma questão de garantia da sobrevivência da espécie humana. Esta deveria ser a discussão chave nessas conferências. O atual sistema de desenvolvimento garante a sobrevivência da espécie humana? É sustentável?
O que se vê é a exploração cada vez mais voraz dos recursos naturais, destruindo ecossistemas inteiros, fauna e flora, e pior, comunidades inteiras, culturas, tradições são afogadas no lago de uma grande represa ou destruídas no fogo das queimadas para dar espaço a grandes monoculturas, latifúndios e pecuária.

A história brasileira é rica nestes exemplos. Da Mata Atlântica restam menos de 8% da floresta original, o Cerrado, considerado o berço das águas brasileiras, não foi poupado após a descoberta da correção da acidez de seus solos na década de 1960. E, no limiar do século XXI, a Amazônia é o palco da recente fronteira agrícola.

Este filme já rolou nos países desenvolvidos que já destruíram grande parte de seus ecossistemas naturais e não é necessário revivê-lo para conhecer o final - o sistema está em crise, em rota de colisão. A sustentabilidade humana na Terra não admite brincar de conferência.

É necessário questionar um sistema que acumulou tanta riqueza, mas concentrou nas mãos de poucos e deixa tanta gente morrer na miséria. É necessário questionar um sistema que admite riqueza e ostentação de uns países às custas da exploração das riquezas de outros. A história não deixa dúvidas e nem mentir, basta ver a situação sócio-ambiental atual dos países da América Latina, África e Ásia que foram colonizados e explorados no passado.

Apesar de ter acumulado tanta riqueza econômica e desenvolvimento tecnológico não foram extintas a escravidão, a fome e o desemprego. O fosso da desigualdade social é ainda mais agravante.
Para ocupar uma posição social somos estimulados à competição aos moldes da teoria maquiavélica de que ‘os fins justificam os meios’. As melhores escolas e sistemas educacionais são aqueles que preparam para o vestibular e para o mercado de trabalho, por isso disciplinas como filosofia, sociologia, artes, história e outras das áreas humanas, carecem de valorização. Cooperação e solidariedade é uma palavra fora de moda no manicômio social.

Em que momento os paradigmas atuais do desenvolvimento foram questionados na COP-15? O que se viu nesta conferência foi um total descaso e desinteresse pela sustentabilidade humana. Isto ficou evidente na pressa em definir um documento de improviso elaborado por chefes de 25 países para inglês ver e para o mundo ver, na tentativa de expressar um compromisso e ideal comum

Durante a madrugada de hoje, 25 países trabalharam em um texto com o objetivo de que os mais de 100 de chefes de Estado e de governo reunidos em Copenhague pudessem fechar hoje um acordo de redução de emissões. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u668506.shtml 18/12/2009)
O chefe de Estado brasileiro admitiu a incapacidade de definir tal documento:
Lula afirmou ainda que "gostaria de sair daqui com o documento mais perfeito do mundo, mas se não conseguimos fazer até agora não sei se algum anjo ou algum sábio descerá nesse plenário e colocara na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora".
(
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/12/18/ult4477u2173.jhtm)

Falta inteligência? A questão é muito mais complexa e jamais se resolve em uma conferência de uma semana. Aliás uma conferência é realizada para se avaliar as metas propostas para determinado tema e avançar a discussão revendo ou propondo novas metas. Onde estão as metas para a erradicação da pobreza e da miséria? Onde estão as metas para desenvolver mecanismos de desenvolvimento realmente limpos, isentos de custos sociais e ambientais como, por exemplo, o uso da energia solar, tão mal aproveitado e explorado? Quanto foi definido de verbas para pesquisas nesta área? Quanto e quando ficou definida a compensação pelos países ricos dos recursos e mão de obra, explorados dos países pobres? Onde estão as metas para acabar com a desigualdade social? O que ficou definido?
Nada!

Definitivamente não falta inteligência! Falta ética, falta compromisso com o ser humano, falta solidariedade, enfim, falta humanidade.
A ganância econômica tornou a conferência um fiasco desde sua gênese. Assistimos a um grande teatro global, recheado de falácias, retóricas e discursos vazios. Há um desinteresse geral na discussão e no questionamento acerca dos atuais paradigmas de desenvolvimento econômico que está numa relação direta com o (des) envolvimento, ou seja, o não envolvimento humanitário.

3. REFERÊNCIAS


MARTINELLI, Patrícia. Qualidade ambiental urbana em cidades médias: proposta de modelo para o estado de São Paulo. Rio Claro: [s.n.], 2004. 130 f.: il., tabs., quadros, mapas. Dissertação (mestrado). Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Orientador. Roberto Braga. Disponível on line em UOL Notícias. Tudo sobre a COP-15. Disponível on line em http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/especial/2009/conferencia-clima/ dez/2009. Acesso em 28 dez 2009.

sábado, 26 de dezembro de 2009

CONFERÊNCIA DE COPENHAGUE 2009

Foto: fontes de emissão de poluentes para a atmosfera.

COPENHAGUE 2009!
QUE CONFERÊNCIA? QUAL CONFERÊNCIA?
Um balanço geopolítico

Por Valter Machado da Fonseca

1. Introdução
Há poucos dias atrás aconteceu em Copenhague (Dinamarca) a tão esperada conferência mundial do clima. Mas, aqui cabe a pergunta: Que conferência? Qual conferência? Sim! A ironia é necessária, uma vez que supostamente teríamos uma conferência mundial para debater o grande problema das alterações climáticas. Porém, o que se viu em Copenhague foi um circo montado para uma demarcação de posições políticas, uma demonstração de poder político e econômico. Mas, que tipo de poder? O poder pernicioso do discurso enganoso, vazio, obscuro, supérfluo, porém cheio de promessas vagas e superficiais para um futuro incerto e nebuloso.

O mundo inteiro esperava pela tão propalada conferência de Copenhague. O mundo todo esperava ouvir dos chefes de estado, presentes no tão esperado evento, propostas que visassem, pelo menos, minimizar os graves problemas ambientais que angustiam toda a humanidade neste limiar de século XXI. O planeta todo esperava ouvir dos grandes dirigentes das diversas nações, que eles estão de fato preocupados com o futuro da Terra e da humanidade e, que apresentariam propostas palpáveis e executáveis para enfrentar esta importante problemática.

Todos os povos [e quando digo povos não me refiro aos governantes] esperavam que os dirigentes das mais diversas nações tivessem a dignidade e a humildade de se despir da arrogância advinda da ganância pelo lucro a qualquer custo, em detrimento de recuperar a saúde ambiental do planeta. Que deixariam de lado a luxúria, a ostentação e a hipocrisia e, pelo menos uma vez na vida, abandonassem suas vaidades pessoais, o jogo do poder, para dizer ao mundo que, como dirigentes, têm responsabilidades com os destinos da humanidade e com o futuro da Terra e das gerações futuras.

Mas que nada! O que o mundo viu foi um discurso truncado, cheio de armadilhas, carregado de hipocrisia e que, no fim das contas, visava a atender somente os anseios do lucro dos grandes grupos e conglomerados inter/multi/transnacionais. O que se assistiu foi um discurso leviano que reafirmava o poder dos ricos sobre os pobres, que reafirmava a linha que traça a divisória do abismo que separa os países pobres do hemisfério sul, dos países ricos do hemisfério norte. Aí fica uma pergunta: o que os países africanos foram fazer nesta conferência? O que os países da Ásia Central foram fazer nesta conferência? O que os países da América Latina foram fazer lá? Foram justificar o discurso dos países ricos? A resposta é: sim! Foram fazer exatamente isso.

2.1 Qual a contribuição dos EUA e da União Europeia no debate do clima?
Que nada! O que o mundo presenciou foi a prepotência dos EUA tentarem, desesperadamente, recuperar o lugar de destaque outrora conquistado pelo dólar [e os petrodólares], o discurso aflito e ausente, miúdo e caquético de Barack Obama tentando recuperar seu lugar perdido de grande líder mundial. O que o povo viu foi a figura desesperada de uma chefe de Estado norteamericano, totalmente aturdido e ainda abalado pela crise econômica mundial do capitalismo, tentando resgatar seu lugar de principal dirigente da economia mundial.

O que a população de todo o planeta viu foi uma Europa, carcomida, falida, sem nenhum discurso, sem nada a dizer, suplicar, reclamar seu lugar também outrora perdido, de “centro do universo”. Uma Europa que destroçou seus próprios recursos naturais, com uma política de “olhar para o próprio umbigo”, de não saber, jamais, o significado da palavra “planejamento industrial e urbanoambiental”.

Dois polos: EUA e União Europeia, que mostraram, mais uma vez, total incompetência para gerir os recursos do planeta e os destinos da humanidade. Que mostraram que nunca estiveram preparados para assumirem posições de liderança perante o conjunto dos povos do mundo. Dois polos que já demonstram não possuir nenhum discurso que tenha qualquer conteúdo relativo à responsabilidade socioambiental.

2.2 E a China?
A República Popular da China foi o terceiro polo do evento mundial. Considerada uma nação “emergente”, um país que tem seu desenvolvimento econômico calcado na total ausência de quaisquer formas de planejamento urbanoindustrial, a China cresce devorando seus recursos naturais nos moldes das demais nações capitalistas. É considerada, hoje, um dos principais polos de emissão de poluentes para a atmosfera.
Nesta conferência, a China foi duplamente atacada: pelos EUA e pela União Europeia. Apesar das acusações contra a nação chinesa terem como eixo da argumentação o aumento dos gases estufa emitido por ela, esse pretexto visava, principalmente, eliminar sua constante ameaça à supremacia política e econômica dos dois blocos supracitados. A questão da emissão de poluentes para a atmosfera serve, perfeitamente, de pretexto para frear seu processo de crescimento industrial, o que eliminaria a ameaça às supremacias político-econômicas dos EUA e da UE.

Isto vem expor, por completo, a essência das discussões e dos debates que marcaram o evento: o eixo das discussões foi desviado para as disputas geoeconômicas e não para os debates em torno das ações objetivando combater o problema do aquecimento global.

2.3 E os países pobres ou [como prefere a maioria dos estudiosos] países em desenvolvimento?
Esses assumiram atitudes frágeis, inconsistentes, débeis, covardes até, tentando, desesperadamente um lugar, junto a um desses dois polos. Na verdade, os discursos dos governantes dessas nações eram os mais esperados, pois, traziam aquele fio de esperança quanto aos destinos do planeta. Nada disso aconteceu! Os discursos dessas nações serviram, exatamente, para reafirmar as posições dos países ricos, para justificar seus discursos obscuros, ardilosos, vazios.

Isto ficou claro no pronunciamento da delegação brasileira que, num tom abaixo, foi uma reprodução fiel do discurso de Obama. A fala do dirigente brasileiro fez parecer que sua tarefa era chefiar sua delegação numa expedição ao “muro das lamentações” [com todo o respeito à fé muçulmana]. Aliás, o discurso brasileiro na conferência foi orquestrado, de um lado pelo presidente francês [porta voz da União Europeia] Nicolas Sarcozy e de outro por Barack Obama [porta voz norteamericano]. O Brasil se negou a assumir seu papel de líder do bloco dos países pobres, “em desenvolvimento”, não os convocando à unidade de ação no encontro.
A participação desses países foi covarde e submissa. Faltou coragem e ousadia para reivindicar, debater em pé de igualdade com os ricos. Faltou rebeldia para se fazerem ouvir, para dizer que não estão dispostos a tolerar mais o descaso para com a gestão dos recursos naturais. Faltou ousadia para bradar, em alto e bom som, que não aceitam mais em seu território os rejeitos [lixo] de uma sociedade carcomida e decadente. Que podem levar, de volta, seus containers, que não vão gerir resíduos, mas sim os recursos naturais que eles [os ricos] estão cobiçando há muito tempo.

Faltou coesão, unidade em seu discurso. Não atuaram em prol de uma plataforma de ação que estabelecesse metas e construíssem propostas unificadas para fazer cumprir a verdadeira pauta do evento. Pode-se dizer que os países pobres perderam uma excelente oportunidade de unificar seus discursos, reivindicações e propostas dentro do modelo proposto de desenvolvimento sustentável. Foram a reboque do discurso dos blocos econômicos representantes dos países ricos e que mais poluem a atmosfera terrestre. Enfim, nesta conferência (?), mais uma vez, perderam o “bonde da história”.

3. O que se tirou de objetivo? De concreto? De prático?
Nada! Absolutamente nada! O que fora construído nas conferências anteriores, o que restava do Protocolo de Kyoto foi rasgado em público pelos países ricos e jogado no lixo pelos países “em desenvolvimento”. Nenhuma meta decisiva para a redução de poluentes foi construída. Nenhuma ação prática de responsabilidade socioambiental foi edificada. Nada se fixou em relação às queimadas e desmatamentos. Nenhum prazo foi estipulado. Nem parecia que o tema central do evento eram as alterações climáticas.
O que se sabe é que cifras astronômicas foram gastas [jogadas fora] com a preparação da conferência tão esperada. Do que aconteceu nos bastidores do evento, nada se sabe apenas se imagina. O que se pode dizer, com toda certeza, é que tudo se debateu, exceto as problemáticas socioambientais, em especial as alterações climáticas, que foram deixadas para segundo plano.
4. E agora, o que fazer?
Os resultados da conferência não apontaram nada de concreto, nenhum fio de esperança foi tecido. Nas entrelinhas dos discursos dos principais chefes de Estado, o que se pode perceber foi a falta de compromisso, de responsabilidade para com os graves problemas socioambientais que tanto angustiam a humanidade neste início de século.
Pode-se perceber que os dirigentes mundiais não estão nada preocupados com tais problemas, mas extremamente preocupados em manter suas regalias, seu poderio bélico, político e econômico. Que eles trocam e trocarão, sempre, a saúde ambiental do planeta pela mais valia, não importando com as consequências dessa opção. Que não possuem nenhuma proposta para quaisquer formas de planejamento socioambiental, muito menos para a diminuição de poluentes para a atmosfera.

4.1 Qual a esperança daqui em diante?
Por incrível que pareça, existe um fio de esperança. E esta esperança está nas mãos da população mundial, nas mãos do povo. Na verdade, a única forma que restou para se debater as grandes questões ambientais da atualidade passa, exatamente, pela participação direta das populações das diversas nações do mundo.

Se os governos não estão preocupados, o povo está. Só a organização popular, cientistas, estudantes, professores, universidades, movimentos sociais, sociedade civil organizada, possuem o poder de pressionar esses governantes, para que assumam suas responsabilidades em relação aos graves problemas socioambientais da sociedade moderna. Só esses setores podem exigir que os governantes abandonem o discurso superficial e vazio, que abandonem a hipocrisia e a covardia e assumam atitudes corajosas, para fazer valer as funções inerentes aos cargos que seus povos lhes confiaram.

Neste sentido, a organização e pressão populares são fundamentais para que se saia do impasse gerado, principalmente a partir desta conferência. A partir das mobilizações organizadas desde a base, torna-se possível traçar ações práticas e efetivas visando à minimização dos impactos socioambientais que colocam em risco a saúde ambiental do planeta e a continuidade da existência da espécie humana.

5. Como fazer o balanço de algo que nada discutiu, que apontou para o vazio?
O balanço do evento de Copenhague leva a duras e terríveis reflexões. A situação ambiental do planeta está à mercê de especulações paliativas e superficiais, muito próximas dos anseios e do lucro das grandes corporações multi/transnacionais e muito distantes dos anseios e bem estar das populações, de se apresentarem enquanto propostas práticas e concretas para superar os problemas e os desafios socioambientais da atualidade. O rescaldo do encontro de Copenhague foi extremamente negativo.
Um fracasso!Um desastre! Uma decepção! Um fiasco! Essas expressões traduzem bem o que foi a Conferência de Copenhague. O que podemos concluir é que o evento não existiu, mas os problemas existem, o aquecimento global é um fato real, e como tal deve ser combatido. A solução para os problemas socioambientais da sociedade moderna exige ações políticas, mudanças de comportamento, ações que levem a um efetivo planejamento industrial e urbanoambiental global.

Se a Conferência Mundial de Copenhague não apontou nenhuma solução, a ação política passa a ser uma responsabilidade dos diversos setores organizados da sociedade. Portanto, agora é nossa a tarefa de chamar este debate, é tarefa das escolas, dos educadores, universidades, estudantes, movimentos sociais, cientistas, enfim, dos diversos setores da sociedade organizada tomar nas mãos os desafios de construir ações locais/globais e globais/locais, visando à minimização dos graves problemas socioambientais que tanto angustiam a humanidade, nesse limiar do século XXI. Por fim, podemos afirmar que o encontro de Copenhague de dezembro de 2009, pode ser definido como "A Conferência que nunca existiu".

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

CONVOCATÓRIA RETOMADA DAS ATIVIDADES: NEEFICS

AOS COLEGAS DO NÚCLEO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS DO TRIÂNGULO MINEIRO – NEEFICS:


Caros colegas;

O nosso grupo de estudos passou por um grande período sem se reunir. Vários foram os motivos: acúmulo de tarefas por parte de muitos integrantes, falta de horários para outros, grande número de compromissos neste último semestre, dentre outros motivos. No meu caso, em particular, foi uma mistura de diversas razões.
Porém, esse período, em que passamos ausentes uns dos outros, teve dois lados; o primeiro foi negativo, pois, o grupo que vinha numa trajetória crescente, elaborando e debatendo importantes temáticas, não conseguiu dar as respostas necessárias aos desafios a nós lançados, além da interrupção de um trabalho que havia começado. Não quero me isentar da culpa e responsabilidade. Uma parcela dessa culpa se deve à minha falta de planejamento e, isto serve de elemento para reflexão. Porém, pelo menos um lado positivo esta pausa apresentou: deu-nos um tempo para refletirmos sobre nossa produção, nossas convicções, nosso vínculo com o grupo e, acima de tudo, de reflexão acerca de nosso vínculo para com a construção de dias melhores, da construção de um pensamento científico voltado para a maioria da humanidade, para os explorados e oprimidos desse modelo econômico excludente e de superexploração.
CAROS COLEGAS!
Entretanto, é chegado o momento de retomada das nossas atividades. É importante, ainda, relembrar que no próximo dia 17 de janeiro o nosso grupo completa seu primeiro ano de existência. Esta data deve ser marcada pelo debate, pela construção de propostas que façam avançar o coletivo do NEEFICS, que façam surgir um pensamento coletivo, forte e coeso, que apontem para propostas de trabalho visando a reconquista do dinamismo de nosso núcleo de estudos.
É com estas preocupações que me vejo no papel de convocar todos os membros do NEEFICS para a retomada de nossas atividades, por intermédio de uma reunião dia 23/01/2010 (sábado). Proponho que esta reunião seja em minha residência, situada à Rua Hélio Santos, nº 155, Conjunto Uberaba I, às 10 horas da manhã.
Um Próspero ano de 2010 e conto com a presença de todos em nossa reunião.

Uberaba, 24/12/2009.

Um grande abraço;
Valter Machado da Fonseca

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

MEMBRO DO NEEFICS PROFERE PALESTRA NO INSTITUTO ALGAR


Foto: Prof. MSc. Valter Machado da Fonseca.
PALESTRA NO INSTITUTO ALGAR:
AQUÍFERO GUARANI: Importância e preservação.

O Professor Msc. Valter Machado da Fonseca, docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE), proferiu nesta quinta feira (dia 26/11/2009) a palestra “AQUÍFERO GUARANI: importância e preservação” para alunos do quinto ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Santa Luzia. O evento foi realizado às 08h30min no auditório do Instituo ALGAR, na cidade de Uberlândia (MG).
Na palestra foram enfocados os seguintes aspectos: Importância das águas para a sobrevivência das espécies de seres vivos e para as atividades humanas. A quantidade de água existente no planeta, o ciclo da água e sua distribuição geográfica no planeta Terra. Num segundo momento foi abordada a importância das águas subterrâneas para os seres vivos, para os solos, para o equilíbrio climático e para manutenção e recarga dos mananciais de água doce de superfície. Em seguida foram abordados os aspectos relativos ao Aquífero Guarani, tais como, Extensão, localização geográfica, importância, atual estágio de preservação, legislação que protege este importante corpo d’água, processos de contaminação, bem como técnicas de gestão e manejo sustentável do aquífero.
Por fim, foram levantados aspectos relativos à responsabilidade socioambiental das empresas em relação à preservação, gestão, utilização e manejo sustentável dos recursos naturais, além da responsabilidade da sociedade no auxílio à minimização dos problemas ambientais da atualidade. O evento faz parte do projeto de responsabilidade socioambiental do grupo empresarial ALGAR e que já está colocado em prática há vários anos, apontando resultados significativos em projetos de Educação Ambiental. A palestra foi proferida em linguagem didática e criativa, garantindo, assim o entendimento, participação e interação efetiva da maioria dos alunos presentes. Segundo a coordenadora do projeto Kátia Aline, o evento foi considerado um sucesso.
A palestra foi registrada por intermédio de fotografias e filmagem. O material produzido no evento será disponibilizado pelo Instituto ALGAR para as escolas da Rede Pública da cidade de Uberlândia.

PS.: A fotografia, em anexo, foi produzida pelo Instituto ALGAR e gentilmente cedida ao palestrante para divulgação nos meios de comunicação.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LANÇAMENTO LIVRO: "A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA"





AUTOR: Prof. Msc. Valter Machado da Fonseca

FOTO: autor anota perguntas da plateia

Foi realizado no dia 15/10/2009 às 20 horas, o lançamento do livro “A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: entrelaçando saberes, unificando conteúdos” de autoria do professor Valter Machado da Fonseca, docente da Universidade de Uberaba. O evento aconteceu no Centro Cultural Cecília Palmério econtou com a participação de, aproximadamente 100 (cem) pessoas. Estiveram presentes na solenidade, professores universitários, professores da Rede Pública de Ensino, estudantes, ambientalistas, além de inúmeras pessoas da sociedade uberabense. O evento foi considerado um sucesso pelos participantes. A mesa de abertura do evento foi composta pelas seguintes entidades: Universidade de Uberaba (Profª. Galsione Silva), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Uberaba e Região – STIQUIFAR - (Diretor Sindical Glauco de Abreu Lima), Sindicato dos Bancários de Uberaba e Região (representado pelo Presidente da entidade Maurício Sebastião de Sousa), Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB/Uberaba (representada pela sua diretora Maria dos Anjos P. Rodrigues), Movimento Voz do Cerrado (representado pelo professor do Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi, ambientalista e escritor Carlos Perez), Escola Estadual Santa Teresinha (representada pelo professor André Luis de Oliveira), Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro – NEEFICS - (representado por sua diretora Profª. MSc. Adriana de Carvalho Pessato Pena). A solenidade apresentou diversos momentos distintos: no primeiro momento foram apresentados videoclipes sobre a temática ambiental, no segundo houve o pronunciamento das entidades que compuseram a mesa, em seguida aconteceu a explanação acerca do conteúdo do livro, pelo autor, Prof. MSc. Valter Machado da Fonseca. No quinto momento, houve um debate envolvendo o autor e a plateia, acerca da temática “Educação Ambiental”. Por último, ocorreu uma confraternização e sessão de autógrafos. A mestre-cerimônia do evento foi a professora de Inglês, Francês e Espanhol do Instituto Interestadual de Línguas, Hosana Reis.

As Fotos são de autoria de Rodrigo Borges de Oliveira (mesmo autor da ilustração da capa do livro). Elas foram gentilmente cedidas ao autor para divulgação do evento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

MEMBRO DO NEEFICS LANÇA LIVRO NO DIA 15/10/2009


Um dos membros do Núcleo de Estudos em Educação, filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS), Prof. MSc. Valter Machado da Fonseca Lançará no próximo dia 15 de outubro de 2009 (dia do professor)uma importante obra acerca das práticas docentes com os conteúdos ambientais, nas escolas públicas. Veja nesta matéria a sinopse da obra, o cartaz do lançamento, bem como a programação do evento e o minicurriculo do autor. Desde já, o autor convida a todos os leitores e seguidores do Blog do NEEFICS, para a cerimônia do lançamento.


LANÇAMENTO DO LIVRO:

"A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: Entrelaçando saberes, unificando conteúdos".

Autor: Prof. MSc. Valter Machado da Fonseca

Dia: 15 de outubro de 2009.
Local: Centro Cultural Cecília Palmério.
Horário: 20h00min
Endereço: Av. Guilherme Ferreira, 217 – Centro – UNIUBE (Campus I) - Uberaba/MG.


PROGRAMAÇÃO:

20h00min: Apresentação Cultural.
20h30min: Composição da mesa e pronunciamento das entidades apoiadoras.
21h00min: Explanação do autor a respeito do conteúdo da obra.
21h30min: debate aberto a todos os participantes.
22h00min Sessão de autógrafos.


SINOPSE DA OBRA:

O livro “A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: Entrelaçando saberes, unificando conteúdos” é fruto de dois anos de pesquisa científica acerca do trabalho com os conteúdos ambientais em sala de aula. O autor percebendo a importância do estudo das temáticas ambientais, por entender que esta problemática constitui-se no grande desafio do limiar do século XXI, emerge do interior da sala de aula propondo soluções para a compreensão e análise desta importante temática, que tanto angustia a humanidade, em especial no final do século XX e início do novo milênio. Trata-se de uma pesquisa que faz uma contextualização histórica e social dos problemas ambientais da sociedade moderna, considerando as particularidades da escola/educação dentro deste contexto. É um trabalho de fundamental relevância, pois enfoca aspectos que interessam, de perto, o conjunto de educadores (as), estudantes e pesquisadores (as) que se preocupam com as temáticas ambientais. Ao tratar das práticas educativas em escolas públicas, o livro debate os principais problemas que afligem a comunidade escolar, nos locais onde os problemas ambientais urbanos atingem sua crise mais aguda: as periferias pobres das cidades brasileiras. Neste sentido, este livro é indispensável a todos que trabalham os conteúdos ambientais, não perdendo de vista a construção de uma educação de qualidade em todos os níveis. Finalmente, ele nos conduz a novos caminhos que nos afasta do óbvio, do senso comum, levando-nos a outras vertentes para o entendimento das práticas de ensino. Leva-nos ao questionamento acerca da validade dos métodos arcaicos e ultrapassados, instigando-nos a investigar, a lançar o olhar sobre processos inovadores, permitindo, assim, a construção de valores, realmente significativos para a construção de sujeitos criadores de novos conhecimentos e saberes.


Mini-currÍculo e Contatos com o Autor:


Valter Machado da Fonseca (52) é natural de Lagoa Formosa (MG), residente na cidade de Uberaba (MG) há mais de 20 anos, é Técnico em Mineração pela Escola Técnica Federal de Ouro Preto (MG), Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (MG) – UFU, Mestre em Educação pelo programa de Posgraduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia – PPGE/FACED/UFU. É professor da UNIUBE nos cursos de graduação das Engenharias Civil, Ambiental, de Produção e Elétrica. É professor convidado do curso superior (EAD) de Geografia e Educação Ambiental também da Universidade de Uberaba (UNIUBE) e professor de Geografia, Filosofia e Sociologia do Ensino Médio. É coordenador da Associação dos Geógrafos Brasileiros, seção Uberaba – AGB/Uberaba. Possui mais de 40 trabalhos relativos às áreas de Educação, Geografia e Meio Ambiente, publicados em Congressos e Seminários nacionais e internacionais. Possui vários artigos publicados em revistas científicas da área da Educação, Geografia e Meio Ambiente. Atualmente trabalha em outro livro (em fase de acabamento) em parceria com a Profª Drª. Sandra Rodrigues Braga, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2010. É pesquisador das áreas de “Alterações Climáticas”, “Aquecimento Global” e “Impactos sócio-ambientais das monoculturas Sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. É membro-fundador e coordenador do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS).

E-mails:
machado04fonseca@gmail.com ou machado04fonseca@hotmail.com

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

“ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA DO SER DO EDUCANDO”

Por Carmem Lúcia Ferreira

Quando em Pedagogia da Autonomia, Freire se remete a este tópico, ele quer evidenciar a importância de se respeitar o direito que cada educando tem enquanto ser pensante e que como todo ser humano tem o direito de sentir “raiva porque capaz de amar”.
O sentido desta frase é profundamente instigante, pois mostra que com a mesma intensidade que podemos amar, também podemos sentir raiva. Sentir raiva de um sistema excludente que nos coloca dia a dia [educadores (as) e educandos (as)], à margem da degradação humana, sentir raiva do pouco caso com que a educação vem sendo tratada em nosso país, sentir raiva de ter que “brigar” por um pedaço de chão para sobreviver, em fim, sentir raiva por ter que andar sempre na contramão dos fatos e na maioria das vezes tendo que matar “um leão por dia”, para garantir a sobrevivência neste mundo, cuja direção está nas mãos dos opressores.
Freire (1981) discorre que “os opressores falsamente generosos, têm necessidade, para que a sua “generosidade” continue tendo oportunidade de realizar-se, da permanência da injustiça. A “ordem” social injusta é a fonte geradora, permanente, desta “generosidade” que se nutre da morte, do desalento e da miséria.”
Mas, educador por excelência, Paulo Freire, acredita que se possa dar rumo à outra vertente que não seja esta, começando por respeitar e não a ignorar a autonomia do “ser” do educando. Respeitar esta autonomia exige diálogo, exige entender que cada aluno traz consigo um acervo de informações, vontades, curiosidades, que vai muito além da disciplina a ser ministrada pelo educador. Cabe ao professor olhar este aspecto com criticidade e passar a mensagem para nossos educandos de que:
“[...] A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, estas mãos sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de súplica. Súplica de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalham e transformem o mundo.” (FREIRE, p.32, 1981).
Desta forma podemos entender que cabe ao professor (a), dentre outras tarefas, conciliarem a disciplina a ser dada com a rede de vivências que o educando já traz consigo. Não podemos tolher aquilo que nossos educandos têm de mais precioso: o direito de se afirmar no mundo e de fazer sua própria história.
Para isto é necessário a prática cotidiana da intervenção. Não se pode omitir deles [os educandos] sua real condição. É preciso situá-los sobre os reais motivos pelo qual se encontram em situações de miséria, é preciso desmistificar esta “coisa” que impregnaram nesses estudantes, como humildes, incapazes, minoria, marginalizados, dentre outros.
Se não estamos contentes com o que está nos sendo imposto, devemos nos armar contra as autoridades competentes e fazer valer nossos direitos, é assim que se faz educação, pensando, (re)pensando, lutando, exigindo, participando ativamente dos movimentos reivindicatórios, pois, é através destas intervenções que se pode mudar o rumo da história.
Embora, Paulo Freire tenha dedicado a maior parte de sua militância, enquanto educador, à alfabetização de adultos, quando ele se refere a questão da “autonomia” dos educandos, esta não está direcionada somente aos adultos. Contextualizando a discussão, Vygostsky, mentor da corrente teórica denominada Psicologia Sócio-Histórica, percebe e vê a criança não apenas como produto da história, mas também como sujeito da história, pelo fato de construir e transformar a sociedade.
Ele ainda aborda que as crianças possuem sua linguagem própria (sua autonomia) de se expressar através das balbucias e brincadeiras. O brincar está para as crianças, assim como o trabalho para os adultos. Neste sentido, deve-se respeitar e entender esta fase que requer pesquisa e dedicação. E, é importante ressaltar que as crianças não chegam até a escola como uma “tábua rasa”, sem nada de concreto que não possa ser trabalhado.
Nesta vertente, Gramsci, afiança;

A consciência individual da esmagadora maioria das crianças reflete relações civis e culturais diversas e antagônicas às que são refletidas pelos programas escolares: o “certo” de uma cultura evoluída torna-se “verdadeiro” nos quadros de uma cultura fossilizada e anacrônica, não existe unidade entre escola e vida e, por isso, não existe unidade entre instrução e educação. (GRAMSCI, 1979, p.131)

Asseverando a formulação do autor, é de fundamental importância estabelecer esta ligação ente “escola e vida”. Freire, através de seus ensinamentos conseguiu praticar esta afirmação, a todo instante ele nos mostra na prática, como se dá este processo.

A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios” a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência espacializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo. (Freire, 1981, p.77) (grifo do original).

O autor enfoca questões, tomando por base o ambiente cotidiano, no qual vivem os alunos, advindos das periferias pobres das cidades, analisando a discrepância existente entre o modelo educacional que orienta a escola tradicional, quando confrontado com esta realidade, marcada profundamente, pela exclusão e pela marginalização dos educandos que vivem nestas localidades.
A prática educativa com os setores populares pressupõe o entendimento da rede de vivências sociais, como: desemprego, subnutrição, falta de saneamento, falta de condições de higiene, fome, miséria, falta de carinho, amor, dentre outras. Neste caso, o educador deve estar aberto às relações ensinar/aprender e ensinar/aprender o que significa colocar-se nas condições da realidade do cotidiano dos educandos, fazendo a relação entre as vivências sociais, sua realidade concreta com os conteúdos escolares, com os quais se trabalham.

TAVARES; ALARCÃO, (2001), advertem sobre a relação professor/aluno advinda do cotidiano escolar:
[...] O poder era apenas do professor porque era ele que detinha o saber, de uma forma absoluta, indiscutível e com autoridade. O aluno era o ignorante, o inculto, o aprendiz que era preciso ensinar, conduzir, disciplinar, controlar. Por isso, a relação do professor com os alunos era naturalmente distante, uma relação de superioridade e, em conseqüência, esperava-se dos alunos uma atitude de docilidade e de obediência, própria do discípulo, seguidor, imitador. O objetivo da aprendizagem visava à aquisição dos conhecimentos transmitidos e à imitação do mestre, como o modelo a seguir. Desse modo, o aluno deixava-se formar, modelar, de acordo com os “moldes” preestabelecidos. (TAVARES; ALARCÃO, 2001, p.98)

Ora, a escola deve se constituir num local privilegiado, onde se possam debater as desigualdades sociais, os preconceitos, a discriminação. A escola deve se colocar como um canal onde se possa debater sua própria crise, a ligação e os vínculos que a mantém ligada a um projeto de sociedade que privilegie a cultura, as artes, a criatividade e traga de volta a dignidade dos educandos. É este o modelo de escola que se deve discutir. É preciso urgentemente descartar o discurso do projeto educacional igualitário e homogeneizador, que considera jovens e crianças como coisas, moldáveis aos anseios, desejos e necessidades de uma elite conservadora, que faz da escola um instrumento ideológico de dominação.
O diálogo estabelecido entre os autores citados no decorrer do texto trouxe à baila algumas possibilidades de interações entre educadores e educandos em busca de um novo modelo da relação ensino/aprendizagem, onde se tenha a preocupação central do desenvolvimento da relação dialógica entre professor, aluno e comunidade, na qual a escola está inserida.
Por fim, abordam que a escola deve rediscutir seu papel enquanto formadora de novos sujeitos, os quais possam intervir, de forma efetiva, para a transformação social. apontando para a construção de um modelo educacional que valorize as diferenças e a singularidade dos educandos.
Enfocando que é necessária a reflexão acerca da relação que a escola estabelece com os educandos e com as comunidades, nos tempos atuais. Partindo dessas reflexões, é possível iniciar a elaboração teórico/prática de um projeto educacional que vá de encontro a um outro modelo de sociedade, que resgate a dignidade do educando, sob a ótica de um novo paradigma, que (re) signifique a essência de sua existência.

REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 9 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
________.; SHOR, IRA. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Trad, Adriana Lopez; revisão técnica: Lólio Lorenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
GRAMSCI, A. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Trad. Carlos Nelson Coutinho. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
TAVARES, J; ALARCÃO, I. Paradigmas de formação e investigação no ensino superior para o terceiro milênio. In: Alarcão, I. (org). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: ARTMED, 2001, p.98-114

sábado, 20 de junho de 2009

UMA VISÃO DA OBRA “PEDAGOGIA DA AUTONOMIA”: saberes necessários à prática educativa


Por Maria dos Anjos Pereira Rodrigues
Foto: Arquivos Paulo Freire
1. Introdução


A obra Pedagogia da Autônima, expressa as lutas e anseios por uma educação de qualidade que acima de tudo, tenha o ser humano como principal protagonista deste processo.
O objetivo conforme Paulo Freire é mostrar “A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativo-progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos é a temática central em torno de que gira este texto.” (FREIRE:14)
E o autor não vai apoiar-se em teoria desenvolvida em outras realidades culturais e sociais, diferentes do contexto educacional brasileiro, ele busca no canteiro do cotidiano de sua vida, de vários profissionais e discentes que estiveram do seu lado para construir e apresentar sua proposta educativa.
O processo de ensino aprendizagem perpassa toda obra, mas esta não está dissociada da realidade do discente e nem da postura ética e moral do educador.
Para haver uma resolutividade na construção deste processo os dois têm que estar interligados, portanto, faz-se necessário lutar por uma “ética universal do ser humano”, que seja mais importante do que as relações de poder: o ser ao invés do ter.
Em contrapartida este movimento deve irradiar em todas as direções, o contexto escolar deve ser um deles. “A ética se torna inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais uma virtude”. (FREIRE:20)
Não é possível ter uma sociedade justa, sem valores éticos que a mesma valorize e pratique, sendo assim a fome, exclusão, miséria, indiferença e outros devem ser eliminados ou nem existir na chamada sociedade informacional.

[...] Uma de suas tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem nada que ver com o discurso “bancário” meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. (FREIRE:28-29)

Portanto, o grande desafio e estabelecer condições para aprender criticamente, e este saber extrapola para prática/vivência na sociedade em todas as direções.


2. INTERLINGANDO COM O HOJE

Parar a prática e deter-se na obra Pedagogia da Autonomia é um desafio à nossa própria prática é ao mesmo tempo questionar até que ponto as relações da sociedade justa e fraterna depende somente do professor.
A “ética universal do ser humano”, deve continuar no contexto escolar. Porém, nas últimas décadas isto não está ocorrendo devido a uma série de fatores como desestruturação familiar, drogas, prostituição, desemprego, e outros.
A unidade escolar acaba por responder por uma série de quesitos formativos e “Educação” reportando que educação não restringe apenas ao ato de ensinar, mas a dar as primeiras noções e vivências de valores éticos, que não e vivenciado nos lares, consequentemente, tem que se direcionar o discente para vida toda.
É um desafio, que tem que ser repensado, pois, é preciso dar suporte a uma série de questões que a escola não tem.
Olhemos para trás da história educacional do país, alguns aspectos:

[...] Entretanto, em razão do imenso déficit histórico que se veio acumulando, mesmos em termos quantitativos as deficiências ainda são enormes, o que pode ser evidenciado ao se observar que em 1890, quando tinha início, para nós, o “longo século XX”, a taxa de analfabetismo estava em torno de 85% em relação à população total (12.213.356 para uma população de 14.333.915). Passados cem anos, constata-se uma redução relativa, já que aquela taxa caiu para cerca de 30%(oficialmente se registram 21,6% em relação à população total, tomando-se os dados do Censo de 1991). No entanto, se considerarmos a população total (146.825.475, conforme o mesmo Censo de 1991), veremos que 33,68% correspondem a 49.458.776. Portanto, o número absoluto de analfabetos quadruplicou. (SAVIANI:51)

O grande desafio do século XX era universalizar o ensino, para eliminar a alta taxa de analfabetismo de 85%. Desta forma, para que um número cada vez maior de pessoas tivesse acesso ao ensino isto significa, investir na formação de corpo docente, ampliar a infraestrutura é em certos casos criar toda uma logísticaa para que fosse possível ser oferecido vagas suficientes, para as crianças e jovens em faixa etária escolar
Bem, o problema do analfabetismo não foi eliminado no século XX ele ainda persiste no século XXI, com um agravante, pois, o desafio agora não é apenas assegurar vaga mais garantir a qualidade de ensino e a permanência dos alunos na escola.
Juntando a isto, tem-se a classe docente com formação deficiente, desvalorizada, baixos salários e sem condições dignas de trabalho, dentre outros fatores. Portanto, o desafio continua.

3. REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,1996.

SAVIANI, D, (org.). O legado Educacional do século XX no Brasil Campinas-SP: Autores Associados, 2004.

Paulo Reglus Neves Freire: Uma breve biografia.


Por Carmem Lúcia Ferreira
Foto: Arquivos Paulo Freire

Educador por excelência, Paulo Freire é reconhecido internacionalmente pelo seu método revolucionário e inovador de alfabetização. Formou-se em Direito no ano de 1947, mas sua vida toda foi dedicada à Pedagogia, ciência que objetiva, dentre outros fatores a melhoria no processo de aprendizagem dos educandos (as), através da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos.
Em 1948 foi diretor de Educação e Cultura do SESI, em Recife, onde realizou um trabalho com alfabetização de adultos. No ano de 1958 participa de um Congresso Educacional no Rio de Janeiro. Neste Congresso Freire apresentou um trabalho relevante sobre educação e princípios de alfabetização. Em sua apresentação ele relacionou a alfabetização de Adultos ao cotidiano do trabalhador, entendendo que desta forma o adulto primeiro conheceria sua realidade para poder inserir-se de forma crítica na vida social e política.
Em 1954, convidado pelo presidente João Goulart a coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Após o Golpe Militar, o método de alfabetização de Paulo Freire é considerado uma ameaça à ordem pelos militares. Assim, viveu exilada no Chile e na Suíça, mas sempre produzindo conhecimento na área da educação.
Quando retornou ao Brasil, exerceu o cargo de Secretário Municipal de Educação, na gestão da prefeita Luiza Erundina, na cidade de São Paulo. Posteriormente a este trabalhão assessorou projetos culturais na América Latina e África.
No ano de 1986, falece sua esposa Elza. Dois anos após sua morte, o autor casa-se com Ana Maria, conhecida pelo apelido de Nita, que também era sua orientanda de mestrado. Em 1991 é fundado em São Paulo o Instituto Paulo Freire. O instituto mantém até hoje os arquivos do educador. No dia 02 de Maio de 1997, Freire deixa esta existência, mas somente através de seu corpo físico, pois ele ainda vive entre nós através de seus ensinamentos e sua vasta obra.


“Pedagogia da Autonomia”: Ensinar exige...

Quando falamos em “autonomia”, em se tratando de educação, logo pensamos na figura do professor, contrariamente a este pensamento a obra de Freire, “Pedagogia da Autonomia, última obra do autor publicada em vida, nos mostra a importância de se construir a autonomia dos educandos. Ressalta saberes necessários, segundo a sua ótica em valorizar e respeitar sua cultura, ou seja, o acervo de conhecimentos que cada educando traz consigo.
Num outro momento, O autor aponta alguns equívocos que podem permear a prática docente e aponta caminhos rumo a uma educação libertadora e crítica. A leitura da obra de Freire, sempre nos remete à reflexão sobre a arte de ensinar.
Em seu livro, o autor evidencia 27 tópicos, chamando à reflexão do professor (a), no sentido de “avaliar”, como tem sido sua prática pedagógica. Dentre eles citarei alguns, a saber:
Ensinar exige pesquisa: De acordo com Freire se sou um educador progressista não dissocio a pesquisa do ato de ensinar. (Freire, 1996), esclarece: “Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.” Daí a importância de sempre buscar a pesquisa, pois, é através dela que firmamos nossa presença no mundo.
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos: Se ao adentrar a sala de aula, exijo dos meus alunos respeito, igualmente devo respeitar os seus. Esta prática acontece quando há a presença de diálogo entre professor e aluno. Desta maneira estar-se-á estabelecendo relações fundamentais entre os conteúdos advindos do currículo com a realidade concreta vivida pelos educandos.


Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? (FREIRE, P. 1996, p. 30)

Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo: Hoje fala-se muito em uma modalidade de ensino para “formar” pessoas para o mercado de trabalho, para servir os donos dos meios de produção. Vivenciamos currículos que exercem a função única e exclusiva de selecionar o que se pode ser ensinado, com um objetivo somente, de retornar nossos educandos mais cedo para o mercado de trabalho, como forma de servir e sustentar a mais valia.
Dentro deste contexto é que se insere indagação da pedagogia crítica de Paulo Freire, quando ele questiona como fica a construção histórica do ser humano enquanto sujeito pensante, social e político, considerando que através de nossa intervenção no mundo podemos mudar o curso da história.


Referências

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1996.
OREY,D.,RIBEIROM.,FERREIRA,R.Disponívelem:http://www2.fe.usp.br/~etnomat/PauloFreirePortugues.htm, acesso em 17/06/2009.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

CRISE NA EDUCAÇÃO: CULPA DE QUEM?


Por Aristóteles Teobaldo Neto


Não basta analisar o problema da Educação superficialmente, quando se atribui a responsabilidade da má qualidade da Educação no despreparo e desqualificação do professor que está na sala de aula. É um discurso muito cômodo e agradável aos principais responsáveis por essa crise no ensino formal: os governantes, ou seja, aqueles que possuem o poder de reverter o sistema responsável pelos descaminhos da Educação.
É preciso mergulhar na raiz do problema, quando chegamos neste nivel de análise percebemos que, de fato, grande parte dos professores estão despreparados, mas a pergunta chave é: Por quê??? Vamos analisar algumas considerações abaixo para tentar responder a esta pergunta.
Um país que não valoriza o principal personagem e agente de formação do cidadão: o professor é um país descomprometido com a Educação. É um país que fere os princípios constitucionais e teóricos que dão as diretrizes de como deve ser trabalhada a formação do ser humano e cidadão.
Poderiam ser citadas várias leis e premissas teóricas de educadores e filósofos que quando comparadas com a realidade evidenciariam a distância entre os discursos/teorias e a prática. Pontuo abaixo os principais problemas vivenciados na prática pela maior parte dos educadores brasileiros:
- Falta de um salário decente
- Falta de condições estruturais adequadas de trabalho (salas de aula super lotadas, falta de equipamentos e laboratórios adequados etc.)
- Falta de um plano de carreira e estímulo à qualificação
- Falta de um apoio psicopedagógico adequado nas escolas
Estes são os principais problemas que fazem parte da realidade da educação básica em nível nacional. Somado a estes problemas, o professor deve lidar com uma diversidade de situações-problemas em sala de aula que reflete a triste realidade de miséria social, onde famílias desestruturadas transferem às escolas a responsabilidade única de formação e transmissão de valores de respeito, ética e moral aos filhos. Os motivos podem ser desde um simples comodismo até mesmo a falta de preparo e estrutura familiar do educando.
O modelo de família agora passa do tradicional modelo patriarcal para formas como de mãe única, vó-mãe, tia-mãe, vizinha-mãe ou Instituição-mãe.
Talvez os pais ou os responsáveis pela Educação dos filhos nem tenham tido as noções básicas de formação do ser humano, sendo isso um grande obstáculo para transmitir estes princípios aos filhos, sendo a escola, na maior parte das vezes, a última chance de este aluno receber estas noções de educação.
Toda essa complexidade e desestrutura social irá refletir em distúrbios psico-emocionais que serão responsáveis por comportamentos os mais variados possíveis (do passivo ao agressivo), destes "filhos do acaso".
As quatro paredes de uma sala de aula é o cenário que congrega as mais distintas realidades e níveis sociais, culturais e de Inteligências Múltiplas (Gardner, 1995), passíveis das mais variadas formas de avaliação e motivações.
E agora, professor? É com você!!!
Será mesmo só o professor responsável pela péssima qualidade do ensino no país?
Pergunto eu: E agora Ministro, Presidente, Governador, Deputados, Senadores, Secretários... e toda espécie de representante do povo!!!
Pedagogos e Psicólogos?
Conselho Tutelar e Ministério Público?
Esta falta de compromisso e descaso total com a Educação explica por que o problema da Educação se constitui num problema ético.
Um dos maiores nomes da Educação brasileira, Paulo Freire, nos deixou um legado não só de obras e teorias mas de conduta moral acerca da necessidade da ética e da moral como meio para a superação desta crise na educação que reflete a crise de valores e de princípios de nossa sociedade.
Apesar de reconhecer a falência do sistema educacional formal ele acredita que a escola é responsável por uma

[...] nova postura ético-valorativa de recolocar valores humanos fundamentais como a justiça, a solidariedade, a honestidade, o reconhecimento da diversidade e da diferença, o respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes de convicção democrática (Freire, 1996:9)

Reconhece ainda que

Não há reforma educacional, não há proposta pedagógica sem professores [...] é preciso resgatar a profissionalidade do professor, reconfigurar as características de sua profissão na busca da identidade profissional. É preciso fortalecer as lutas sindicais por salários dignos e condições de trabalho [...] por uma formação de qualidade, de modo que a profissão ganhe mais credibilidade e dignidade [...] (Freire, 1996:9,10)

Com este posicionamento ele assume sua condição de Professor e condena a falsa ideologia da neutralidade científica, tão propalada pelo discurso neoliberal.
Assume o lado dos excluídos e condena a exploração, a corrupção, as injustiças, as transgressões éticas, que em nada contribuem para os problemas da fome, da miséria e do desemprego, tratados como fatalidades pelos neoliberais, mas que na verdade são resultados de toda esta imoralidade.
Milton Santos é outro, entre tantos, que discutem a crise estrutural deste sistema, fala de uma globalização perversa, da ditadura do dinheiro e da informação em que ocorre “um verdadeiro retrocesso quanto à noção de bem público e de solidariedade, do qual é emblemático o encolhimento das funções sociais e políticas do Estado com a ampliação da pobreza” (SANTOS, 2004: 38)
Sua posição quanto à neutralidade se complementa com a de Paulo Freire quanto fala da tirania da informação em que “O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde” (SANTOS, 2004: 39). Isto é uma afronta ao princípio de formação libertadora e emancipatória dos educandos enquanto sujeito e não objeto.
Esta informação manipulada concorre de maneira desleal na formação de opinião e do “cidadão” com o ideal da pedagogia libertadora. Coloca-se com um falso discurso de neutralidade divulgando e deturpando informações como citado pelo respeitado professor Milton Santos acima.
Para ilustrar vale destacar a reportagem de um grande veículo de informação brasileiro denominado “Revista Veja” que publicou no dia 20/08/2008 o “Especial Educação” e se refere desta forma aos professores brasileiros e ao grande Educador Nacional Paulo Freire:

Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado. (PEREIRA; WEINBERG, 2008)

Apregoa, contraditoriamente, em uma parte da matéria o título “A NEUTRALIDADE COMO DEVER” e faz a seguinte crítica:

[...] Só 18% dos professores da escola pública dizem que seu discurso em sala de aula é politicamente neutro. Setenta e quatro por cento escolhem ‘formar cidadãos’ como missão do professor – apenas 8,4% dizem que é ‘ensinar a matéria’. Os resultados são praticamente idênticos na escola particular (PEREIRA; WEINBERG, 2008)

Este é um típico exemplo de um veículo que apregoa uma neutralidade mas se coloca de forma não só contraditória mas também desrespeitosa.
A matéria se propõe a discutir os problemas da educação no Brasil reconhecendo que o sistema educacional é medíocre, porém atribui, de forma irônica, essa responsabilidade unicamente ao professor afirmando que “90% dos professores se acham bem preparados para dar aula”.
Em momento algum questionaram o fato de o MEC (Ministério da Educação – Brasil) divulgar em 2007 que investe apenas 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto) na Educação, enquanto a recomendação da UNESCO é de um investimento mínimo de 8% dadas as dívidas históricas do país neste setor. (O GLOBO, 2009).
O próprio ministro da Educação Fernando Haddad reconhece esse índice abaixo do ideal:

É óbvio que tem que investir em infraestrutura, e isso está sendo feito, é óbvio que a estabilidade macroeconômica é uma condição sem a qual o país não tem horizonte... Mas a educação não é cereja do bolo, é o próprio bolo. (HADDAD apud UOL NEWS, 2006)

A forma imprudente que se colocam as jornalistas Monica Weinberg e Camila Pereira, que divulgam o ideal da Revista Veja, assim como seus equívocos primários de conceito de Educação, são suficientes para dizer contra si próprios. A superficialidade ao não analisar a questão estrutural, demonstram que não possuem o mínimo conhecimento de causa para tratar do assunto, descredencia e convida a relegar tal fato ao esquecimento, porém deve ser ressaltado que tal veículo de informação é produto de consumo de grande parte da classe média e alta brasileira que assumem como verdades as informações transmitidas por tal tipo de mídia, assim como outras congêneres. Obviamente, diante do impacto causado pela matéria uma onda de manifestações de repúdio de professores e especialistas renomados da Educação brasileira vieram à tona.
Tais mídias estão comprometidas com uma chamada ética do mercado neoliberal, do culto ao ‘eu’, da competitividade e das aparências, do individualismo, da propriedade privada e do consumismo.
Santos descreve também as conseqüências do despotismo da produção e consumo inerentes a este sistema neoliberal afirmando que:

Consumismo e competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, à redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão. É certo que no Brasil tal oposição é menos sentida, porque em nosso país jamais houve a figura do cidadão. As classes chamadas superiores, incluindo as classes médias, jamais quiseram ser cidadãs; os pobres jamais puderam ser cidadãos. As classes médias formas condicionadas a apenas querer privilégios e não direitos. (SANTOS, 2004: 50)

E agora professor?
Como concorrer com o sistema? Como é difícil ensinar cidadania na cultura do “jeitinho brasileiro”, onde aquele que soube tirar vantagem, driblar a lei e as regras, aquele que soube colar com êxito é o ídolo, o exemplo da esperteza e o modelo a ser alcançado.
Como ensinar cidadania numa cultura que vê o professor como um careta e adota como “nossos heróis” homens e mulheres, confinados em uma casa exibindo seus corpos sarados, banalizando o sexo, promovendo o consumo e divulgando valores que corrompem a ética e a moral, patrocinados pela mídia hipócrita que tem a audácia de pregar “cidadania, a gente vê por aqui”.
Um país que zela pela ética da vida tem a Educação, antes de qualquer coisa,
como prioridade. Uma reforma na Educação, urgente e necessária, começa, antes de qualquer coisa, pela valorização do profissional e isso é reconhecido pelos mais diferentes discursos: na lei 9394/1996 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nos discursos políticos e de autoridades, porém, recorrendo ao mestre: “É necessário diminuir cada vez mais a distância entre o que se faz e o que se fala, de tal maneira que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática” (FREIRE,1996)

Os dados do MEC acerca do percentual do PIB destinado à Educação revelam o nível do compromisso do país para esta questão. A conclusão que chegamos é que, apropriando da premissa de Valter Machado da Fonseca, os discursos e teorias estão tão distantes da prática assim como o Sol está distante da Terra.
É o professor, principalmente do ensino básico, que está no front desta ‘guerra’, amortecendo todos os impactos desta crise ética e moral que reflete a má qualidade da Educação e, por conseqüência, na crise de valores que, por sua vez, explica também a crise nos demais universos da sociedade como cultural e ambiental.
Apesar disso é pela Educação, em suas mais diversas formas, que se deve discutir a superação da crise pela busca de novos paradigmas. O verdadeiro educador é utópico e otimista por natureza. Trata-se, porém, não de uma utopia ingênua, um otimismo falso e esperança vã, mas sustentada por uma visão crítica e real sobre o sistema em crise ao qual está inserida e fundamentada a Educação Nacional.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1996. 9 Ed. (Col. Leitura)

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

O GLOBO. UNICEF recomenda que o Brasil invista 8% do PIB em educação.Disponível on line em 09/06/2009. Acesso em 17 Jun 2009.

PEREIRA e WEINBERG. Você sabe o que estão ensinando a ele? In Revista Veja. Ed 2074.20 Ago 2008. Disponível on line em . Acesso em 17 jun 2009.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 11ª. Ed. Rio de Janeiro. Record, 2004.

UOL NEWS. Ministro da Educação reconhece que Brasil investe pouco na área. Disponível on line em 20/02/2006. Acesso em 17 Jun 2009.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

DIA INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: Membro do NEEFICS lança proposta comprometida com a Educação Ambiental de qualidade


Foto: Apresentação teatral
Peça: "A Fuga no Canavial"

Na maioria das vezes o Dia Internacional do Meio Ambiente é comemorado com eventos repetitivos, que não questionam as raízes da problemática ambiental que assola a humanidade neste limiar de século XXI. Geralmente são propostas e eventos ligados à reciclagem e coleta seletiva, porém desprovidos de uma leitura crítica sobre a temática.
Entretanto, no último dia 5 de junho de 2009 tivemos a oportunidade de presenciar um evento que levou à reflexão aprofundada sobre esta relevante problemática. O Professor Aristóteles Teobaldo Neto (membro do NEEFICS) coordenou um importante evento que levou a uma reflexão crítica sobre a degradação ambiental do planeta.
O evento Dia Internacional do Meio Ambiente: Temos motivo para comemorar? que teve por eixo de discussão a temática "DECOMPONDO LIXO, RECRIANDO VIDA", foi desenvolvido na Escola Municipal Quito Junqueira, na cidade de Igarapava (SP). Neste importante evento foram apresentadas diversas atividades que levam à reflexão crítica sobre a temática, como um projeto permenente de Educação Ambiental desenvolvido por Teobaldo Neto na referida escola, aliado a outras ações como horta com plantios orgânicos, atividades culturais como teatro e música. No evento também foi tratada a questão da monocultura canavieira na região e suas consequências, tema abordado numa magnífica peça teatral e numa palestra proferida pelo Professor Valter Machado da Fonseca (também membro do NEEFICS).
Enfim, o evento coordenado e dirigido pelo professor Neto atingiu pleno sucesso levando a importantes reflexões críticas sobre a problemática ambiental que tanto angustia a humanidade neste limiar do século XXI. Parabéns ao Porfessor Neto e a toda sua equipe!

CATADOR DE “LIXO” OU EDUCADOR AMBIENTAL?: Uma aula diferente na escola.


Por Aristóteles Teobaldo Neto
Ilustração:
Fonte: USP (2009)


1. Introdução

O presente trabalho é resultado de uma vasta pesquisa teórica a respeito dos pressupostos básicos da Educação Ambiental e de uma experiência realizada no ensino fundamental da Escola Estadual Aurélio Luiz da Costa, localizada na cidade de Uberaba MG, em 2005.
O objetivo do trabalho foi de propiciar um ambiente favorável à reflexão a respeito da problemática ambiental atual, a construção de valores e quebra de preconceitos por meio de uma aula planejada com um catador de materiais recicláveis. Além disso, constitui-se numa metodologia alternativa e viável a ser aplicada como prática de educação ambiental a demais escolas.
Neste trabalho, preocupou-se fazer uma abordagem da questão ambiental além de seus aspectos ecológicos, mas principalmente econômicos, políticos e sociais, na qual o depoimento do catador revela o lado perverso da crise social causada pelo modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo homem nas últimas décadas.
A atividade foi previamente planejada realizando-se uma pesquisa a respeito da atividade dos catadores de materiais recicláveis que têm se intensificado principalmente nos países pobres, ditos subdesenvolvidos.
Elaborou-se um questionário de temas que deveriam ser abordados em sala de aula: rotina do trabalho, condições de segurança, renda, importância para a sociedade e principalmente o preconceito.
Em seguida, foram dirigidas aos alunos três perguntas nas quais eles deixariam registradas suas impressões a respeito da aula.
Por meio de seus depoimentos, a atividade revelou-se de extrema importância e cumpriu seu objetivo principal de (re)construir valores, promover a reflexão a respeito dos preconceitos e a construção de novos conceitos diante de uma realidade de exclusão, na qual sem alternativa, os catadores encontram no “lixo” da sociedade do consumo sua fonte de renda.

2. As Origens da Crise Ambiental

O mundo moderno tem passado por muitas transformações nas últimas décadas, possíveis devido ao rápido desenvolvimento da tecnologia e da comunicação, que tornaram cada vez menores as distâncias físicas e transformaram o planeta Terra no que muitos autores chamam de “aldeia global”.


A primeira grande transformação se deu com a Revolução Industrial, a partir da segunda metade do século XVIII, cujo berço foi a Europa. Seguiu-se a doutrina do desenvolvimento econômico baseado no mercantilismo e a acumulação de riquezas. Para tanto era necessário a transformação do meio natural, cujas riquezas eram retiradas sem qualquer preocupação com os impactos que tais atividades poderiam causar e como se as fontes naturais estivessem disponíveis de forma infinita: “A maior parte da sociedade humana vive como se fosse a última geração” (DIAS, 1999, p. 70).


Ao falar em desequilíbrios ambientais fica implícito que uma grande parcela de seres humanos serão afetados direta ou indiretamente, visto que o ser humano é parte do meio ambiente e portanto, os impactos gerados serão também de ordem social; dentre eles, podemos citar a fome e a miséria que têm aumentado paralelamente ao aumento da concentração da riqueza:
Além deste modelo não sustentar o desenvolvimento do próprio sistema capitalista de produção, nas grandes cidades, principalmente, ele se revela totalmente imoral, visto que os prejuízos ambientais não são distribuídos eqüitativamente:

“Os problemas ambientais (ecológicos e sociais) não atingem igualmente todo o espaço urbano. Atingem muito mais os espaços físicos de ocupação das classes sociais menos favorecidas do que os das classes mais elevadas.” (COELHO, 2001:27)

Uma vez que os causadores dos grandes impactos ambientais são sem dúvida as grandes detentores do capital, há que se ressaltar a necessidade de se superar o ‘ecologismo ingênuo’ tão abordado pela mídia de se resolver os problemas ambientais por meio de ações individuais: “não jogue lixo no chão”, “não desperdice água”, “não polua a natureza”, etc. Há que se colocar em questão as verdadeiras causas do desequilíbrio ambiental vigente.

2.1 Crise Ambiental ou Crise de Valores?

“O meio ambiente só é meio ambiente na medida em que se refere ao homem e o homem não pode ser conceituado sem o seu meio ambiente. Assim colocado, a relação Homem-Meio Ambiente é íntima, contínua e afetiva, sendo por conseguinte uma interação necessária e universal” (OLIVEIRA, 2002, p. 26)

Diante do modelo de desenvolvimento econômico, esta noção se perdeu ao longo do processo histórico da civilização, devido ao modelo utilitarista e imediatista de o homem lidar com a natureza:

"Essa profunda dissociação entre sociedade e natureza nos remete à necessidade de se pensar e buscar soluções para os problemas dela decorrentes, mais notadamente, em nosso caso, aqueles que estão diretamente relacionados com o meio ambiente, como por exemplo, a questão da miséria, da degradação ambiental e da diminuição da qualidade de vida, da forma de se organizar a sociedade, dos problemas advindos com o rápido processo de urbanização, dentre outros" (ASSUNÇÃO, 1995, p. 15)

Esta forma imediatista de ver o meio natural como fonte infinita de recurso e matéria prima, como meio para acumular riquezas materiais, gerou todas as desgraças sócio-ambientais por ora vigentes e a necessidade de se estabelecer outras formas de relação com a natureza. Precisamos evoluir da visão ocidentalizada materialista, imediatista e “racional” para uma visão holística, integradora e espiritual.
Deveríamos aprender com os indígenas, que têm uma relação íntima de afeto com a natureza, tendo-na como membro de si, consideram-na sua mãe, que lhes fornece tudo que precisam para sua sobrevivência, desde o alimento e o remédio às vestimentas, sua relação com a mãe natureza é acima de tudo de respeito.
Tal atitude os levaram a adaptar seu modo de viver ao meio natural onde estão -razão das diferentes tribos indígenas que se localizavam em diferentes meios naturais. É o maior exemplo de sustentabilidade, retiram do meio, o necessário para a sobrevivência da espécie.
O homem, dito civilizado, perdeu esta noção de “pertença” em relação ao meio natural, assumindo uma postura antropocêntrica na qual a natureza é um objeto a ser explorado e dominado pelo homem.
Desde o início das grandes conferências internacionais, tendo como marco a de Estocolmo de 1972, foi proposta a Educação Ambiental como elemento fundamental para superar a problemática ambiental, desde então tem sido discutido e evoluído seu conceito ao longo dos anos. Sua prática supera os simples conceitos de ecologia, é uma prática acima de tudo que visa a evolução do ser humano em sua forma espiritual, trabalha questões de cidadania, busca despertar a consciência cidadã, para tornar o indivíduo crítico, ativo, participante e questionador. Enfim, seu papel é resgatar aqueles valores humanos perdidos no tempo e obscuros neste mundo globalizado e excludente.


3. Educação Ambiental – sinônimo de interdisciplinaridade:

Pressionada por uma delegação sueca de cientistas de diferentes formações, que se encarregaram de estudar e pensar saídas para o problema ambiental, em 1968, a Organização das Nações Unidas – ONU realizou, em 1972, a “Conferência de Estocolmo” na Suécia, que

“[...] reuniria representantes de 113 países e se constituiria no marco histórico decisivo para a busca das soluções dos problemas ambientais. Naquele encontro, ficou decidido que seriam necessárias mudanças profundas nos modelos de desenvolvimento, nos hábitos e comportamentos dos indivíduos e da sociedade, e isto só poderia ser atingido através da educação” (DIAS, 1999, p.14)

Entretanto, a educação vigente tradicional de nada ajudaria para a transformação necessária, visto que era carregada de ideologias, por vezes dominantes, e variava conforme a realidade de cada país; foi assim que nasceu o termo Educação Ambiental(EA), cujos conceitos, princípios, recomendações e finalidades começavam a ser discutidos nas primeiras conferências e foram evoluindo ao longo do tempo. Nesta conferência "elegeu-se o desenvolvimento da EA como um elemento crítico para o combate à crise ambiental no mundo, enfatizando ainda a necessidade de se buscar uma nova reordenação para as prioridades humanas". (ASSUNÇÃO, 1995, p 19)

Estas discussões se davam a nível mundial, visto que o problema ambiental não tem limites políticos, fronteiras, é global e desta forma o enfrentamento também deve ser global, devendo sofrer apenas ajustes conforme cada realidade local de determinados países.
Desta época adiante houve vários encontros para tratar especificamente sobre Educação Ambiental, como a de Belgrado (1975), Tbilisi (1977), Costa Rica (1979), Moscou (1987), dentre outros.
Estes encontros pressionaram os Estados a se mobilizarem no sentido de promover uma mudança de postura em relação ao Meio Ambiente, tendo a Educação Ambiental como um instrumento crucial para esta mudança. As pressões se deram também no âmbito jurídico dos países, propiciaram a elaboração de uma legislação que desse sustentação à questão ambiental.

Em Tbilisi, 1977 “Foi definida a necessidade de se implantar a EA em todos os níveis do processo educativo [...], onde a mesma não deve se constituir em uma disciplina suplementar dos programas existentes, mas partir da interdisciplinaridade, exigindo a cooperação entre as disciplinas tradicionais, sem o que não é possível compreender a complexidade dos problemas do meio ambiente e propor soluções para os mesmos”. (UNESCO apud ASSUNÇÃO, 1980, p.6)

No Brasil, a prática da Educação Ambiental é transformada em lei no ano de 1999, apesar de já ser praticada desde a década de 50, conforme VIANNA, 2000, p. 51

“a Lei n.º 9.795/99, que ‘...Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências’ , sancionada pelo Presidente da República, em 27 de abril de 1999, após quase cinco anos de debates e discussões. Esta lei reconhece, enfim, a Educação Ambiental como um componente urgente, essencial e permanente em todo processo educativo, formal e / ou não formal”

Neste contexto, muito se discutiu sobre a institucionalização da Educação Ambiental como disciplina obrigatória nas grades curriculares, entretanto, isso representaria um retrocesso a toda a construção histórica dos pressupostos básicos da EA que é por natureza interdisciplinar.
Cada área do saber estuda uma determinada “parte”, o entendimento do “todo” só é possível, desde que se estabeleça uma relação entre as partes. Neste caso o “todo” é o próprio meio ambiente em todos os seus aspectos (ecológicos, econômicos, sociais, políticos...) e com todas as suas contradições.
A disciplinarização da Educação Ambiental, significaria a criação de uma “super-disciplina” e a necessidade de um “super-professor” que desse conta de uma área que tivesse por objeto de estudo o “todo” (meio ambiente). Isto significaria uma redundância e uma contradição, sendo que já existem as áreas que estudam as “partes”, resta estabelecer as relações entre estas e sua contribuição para a crise ambiental, que é acima de tudo uma crise da humanidade, este seria o papel da Educação Ambiental.

“a aprovação da EA como disciplina, além de representar um retrocesso e total falta de sintonia com as tendências educacionais do resto do mundo, perderia a maior parte do seu potencial inovador, integrador e revolucionário” (DIAS apud ASSUNÇÃO, 1995, p.64)

A prática da EA jamais se confunde com a forma tradicional do ensino formal disciplinar e conteudístico, ao trabalhar a Educação Ambiental deve-se aguçar a visão holística, integradora e interdisciplinar, ser flexível, aberto ao diálogo, almejar mudanças, transformações, desejar o novo, o diferente, ser ousado, sonhador, e acreditar. Mas sem perder de vista as raízes da problemática ambiental e se limitar à visão romântica de acreditar que, de forma isolada se pode mudar o mundo. Aqueles ingredientes são necessários para justificar uma ação idealista de compromisso consigo mesmo, com seus pares, com seus descendentes e com a ética, ou seja, com o meio ambiente.
Superando a visão puramente ecológica, a Educação Ambiental visa não apenas transmitir conhecimentos sobre meio ambiente, mas despertar a consciência sócio-ambiental, que se dá por meio de uma prática ativa, libertadora e cidadã. É neste aspecto que ela confronta com a educação tradicional, tecnicista, que tem o livro didático dirigindo o processo educativo, descontextualizado e nem sempre fundamentado cientificamente.



3.1 O meio ambiente nos Parâmetros Curriculares Nacionais

“Os alunos podem ter nota 10 nas provas, mas, ainda assim, jogar lixo na rua, pescar peixes – fêmeas prontas para reproduzir, atear fogo no mato indiscriminadamente, ou realizar outro tipo de ação danosa, seja por não perceberem a extensão dessas ações ou por não se sentirem responsáveis pelo mundo em que vivem ”. (BRASIL,1998, p. 169)

O fato acima não é nenhuma surpresa e pode ser verificado e vivenciado no cotidiano escolar. O preocupante é a naturalidade com que isto têm sido encarado pelo público em geral. É evidente que não fazem propositalmente, portanto, não são totalmente culpados. Isso nos incita a pensar e refletir sobre esta situação no sentido de buscar respostas para esta situação. O que há de errado? Quem é o culpado? Existem culpados?
Há algo de errado com esta educação que está sendo praticada, ela está muito distante dos pressupostos de educação baseados nos princípios da formação cidadã, apregoada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Neste sentido, faz-se um apelo aos professores, formadores de opinião, a refletirem sobre esta questão, sobre sua prática e sua responsabilidade. O professor tem um papel fundamental no contexto ambiental atual, deve superar aqueles métodos de ensino que se limitam à transmissão de conceitos e conhecimentos, onde as informações têm um fim em si mesmas.
É urgente uma prática de diálogo e reflexão na construção do saber, sem a qual torna-se irrelevante e alienante as atividades de educação ambiental. Devem se perceber como parte integrante deste meio e portanto têm direitos e deveres, têm um papel a cumprir neste meio ambiente, que é sua própria escola, sua casa, a rua por onde anda, a praça que freqüenta,etc. ou seja, as atividades de educação ambiental serão fundamentais para que cada indivíduo perceba seu papel de ator na construção das “paisagens” e na conservação do “lugar”.
Nesta vertente, a escola torna-se mais que um ponto de encontro ou um lugar que se vai para tomar lanche, ou pior, um lugar que é preciso ficar preso até o sinal de saída. Ela adquire um significado maior, ela possui um sentido para a vida daqueles que lá estão. É preciso encararmos os alunos como pessoas que pensam, que tem um vivência e uma experiência, importantíssimas para seu crescimento e aprendizado tanto individual como coletivo.

3.2 O Papel da Educação e a Interdisciplinaridade

A educação tem uma importância fundamental na busca de solução para a superação do quadro atual em que o mundo se encontra. A tomada de consciência, a mudança de postura e comportamento, apontados como o principal caminho na busca de uma nova visão na relação homem - natureza, passam pela educação.
Ao trabalhar Meio Ambiente na escola, é necessário ir além da simples transmissão de conceitos, conhecimentos e informação, deve-se propor a trabalhar com atitudes e formação de valores. Eis o grande desafio que se coloca para a escola e para os educadores.
Em todos os debates internacionais há um consenso entre as lideranças da importância da Educação Ambiental como o caminho para promover a sensibilização global em busca da sustentabilidade e o repúdio aos comportamentos irresponsáveis e descomprometidos verificados nos últimos tempos.
Como resultado das discussões, vários documentos importantes foram elaborados, entretanto, não basta que as boas idéias fiquem apenas no plano das intenções, neste sentido, foram envidados esforços para que fossem estabelecidas legislações específicas de modo a legitimar a prática da Educação Ambiental. O MEC afirma que foi “Um importante passo foi dado com a Constituição de 1988, quando a EA se tornou exigência a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais (artigo 225, parag. 1o., VI)” (BRASI, p. 181)
A grande diferença da Educação Ambiental com as áreas comuns do conhecimento é seu caráter de formação de opinião, de comportamentos, de atitudes. Assim não justifica e nem se recomenda que seja estabelecida na escola de forma interdisciplinar, como as demais áreas do conhecimento. Apesar de esta hipótese já ter sido cogitada, esta idéia foi superada, visto que caso fosse implantada, significaria um retrocesso no avanço e implantação de sua prática na escola.
Por se tratar de Meio Ambiente, no seu sentido completo, é importante a contribuição de todas as áreas do conhecimento na busca de respostas e caminhos para as questões ambientais em todos os seus aspectos: político, econômico, social, cultural, científico e tecnológico, uma disciplina não daria conta de todas as abordagens necessárias.
Ela tem uma natureza interdisciplinar, sua prática na escola deve acontecer de forma a permear todas as áreas do conhecimento, na qual, cada uma à sua maneira exerce a educação ambiental.
Dada a forma tradicional do ensino fragmentado, disciplinar, característico nas escolas há um certo tempo, praticar educação ambiental significa romper com os padrões estáticos disciplinares já estabelecidos nas escolas, ou seja, é inovação. Este é um grande obstáculo a ser enfrentado para aqueles que se propõem trabalhar de forma interdisciplinar, muitas vezes esbarram em profissionais acostumados com um ritmo de trabalho, e oferecem resistência ao novo, apesar disso, os PCN’s recomendam:

“a formulação do projeto educacional da escola, por meio da discussão, decisão e encaminhamentos conjuntos, com atribuição de responsabilidades, possibilita superar o fracionamento do saber (...) A riqueza do trabalho será maior se os professores de todas as disciplinas discutirem e, apesar de todo o tipo de dificuldades, encontrarem elos para desenvolver um trabalho conjunto” (BRASIL, p. 193)

Mais uma importante contribuição da prática educacional ambiental na escola, é a preocupação em dar respostas aos problemas vivenciados no cotidiano de cada aluno. Ela desperta interesse e tem utilidade para a comunidade escolar. É libertadora e formadora de atitudes cidadãs. É importante que os conhecimentos de Meio Ambiente na escola permitam aos alunos entenderem a trama social em que vivem e principalmente que lhes forneçam instrumentos para agir e transformar esta realidade.
A atividade que será descrita a seguir trouxe para dentro da escola a realidade dos alunos para o debate e a reflexão. Os alunos demonstraram grande interesse pela aula, comentando a importância da atividade que quebrou a rotina da sala de aula.

3.3 Uma Aula de Cidadania com um verdadeiro Educador Ambiental.

Na ocasião em que se comemorava o dia internacional do Meio Ambiente, em 05/06/2005, pretendeu-se realizar um trabalho de Educação Ambiental com alunos do ensino fundamental da Escola Estadual Aurélio Luiz da Costa. O trabalho foi planejado e desenvolvido pela área de geografia.
A principal preocupação foi a de se realizar uma atividade realmente significativa do ponto de vista ensino-aprendizagem e que levasse em consideração os princípios norteadores da EA discutidos nas conferências intergovernamentais, bem como avaliar o grau do desafio de uma atividade que fugisse ao padrão tradicional do ensino.
Em virtude de o professor estar trabalhando com o tema problemas ambientais urbanos, com foco na questão do lixo, buscando ir além da simples abordagem conteudística do livro didático e textos diversos, o professor planejou uma aula com um catador de materiais recicláveis.
O fato de abrir as portas da escola e trazer a realidade para ser discutida dentro de sala de aula é o bastante para movimentar toda a escola e causar inclusive estranheza, visto que foge ao padrão tradicional onde escola é lugar de professores “que ensinam”, alunos “que aprendem” e funcionários “que trabalham”.
O objetivo principal de tal atividade foi o de sensibilizar os participantes (da atividade) para o problema ambiental que representa o lixo na atualidade, com ênfase no seu aspecto social.
Para atingir tal objetivo buscou-se: Trazer a realidade do aluno para dentro da escola; Desmistificar e destruir preconceitos; Construir novos conceitos e valores; Valorizar atitudes cidadãs e solidárias.
Foi necessário realizar uma pesquisa teórica, a respeito da atividade dos catadores de materiais recicláveis no Brasil e no mundo, o papel das cooperativas de catadores, sua importância, além de procurar no município como trabalham as pessoas envolvidas nesta atividade, se existe algum apoio do órgão municipal ou qualquer outra parceria.
Esta etapa do trabalho é importante para nortear a aula que será dirigida pelo professor, de forma que não se perca o foco do objetivo da atividade.
Após isso foi combinado com um catador um dia na escola para que a atividade fosse realizada. É importante uma conversa antecipada com o catador esclarecendo-o que se trata de uma atividade educacional, no qual ele simplesmente esclarecerá seu dia-a-dia aos alunos que muitas vezes podem carregar algum tipo de preconceito em relação à sua atividade por diversos motivos. Esta atividade representa uma excelente oportunidade para promover uma reflexão e a quebra de preconceitos.
A aula foi estruturada com perguntas, dirigidas pelo professor, e respostas (do catador), em seguida foi aberto um espaço aos alunos para que eles pudessem fazer suas perguntas livremente.
Em seguida, foram feitas três perguntas aos alunos, onde eles deixariam registradas suas impressões a respeito da aula. A primeira interrogava sobre o que eles acharam de mais importante e interessante na aula com o catador. Na segunda eles deveriam responder se já conheciam a atividade do catador de materiais recicláveis e se consideravam uma atividade importante. E na terceira eles responderiam de que forma poderiam contribuir para com o trabalho dessas pessoas.
A metodologia apresentada não deve ser seguida à risca, cabendo adequações conforme a realidade de cada escola, uma recomendação importante é que se planeje a atividade com mais de um catador, evitando que imprevistos impeçam a realização da atividade.

4. Resultados:

A importância de trazer a realidade para ser discutida dentro da escola como uma atividade motivadora fica evidente nas respostas dos alunos.
Seu comportamento respeitador durante a entrevista demonstra o interesse além do normal.
A aula foi dirigida de forma que principais temas abaixo fossem abordados:


1 – Por que este trabalho?
R.: Devido à falta de oportunidade de colocação no mercado de trabalho, o lixo foi uma alternativa de renda. A jornada diária é de aproximadamente 15 horas de segunda a sexta-feira, e de 7 horas no sábado.


2 – O senhor gosta deste trabalho?
R.: Gosto e tenho orgulho por se tratar de uma atividade digna e honesta.


3 – Dá para sobreviver?
R.: Consigo uma renda média mensal que não ultrapassa dois salários mínimos.


4 – Que tipo de lixo o senhor coleta e qual a sua destinação? Faz parte de alguma cooperativa?
R.: Papelão, plástico, ferro, etc., todos são vendidos a intermediários que destinam o lixo para as indústrias de reciclagem. Não faço parte de nenhuma cooperativa, na cidade a que existia foi prejudicada por falta de apoio do órgão municipal.


5 – Já sofreu algum acidente com este trabalho?
R.: Não, mas tem que ter cuidado, a gente trabalha sem nenhum equipamento de proteção por falta de condições para adquiri-los. Já encontrei seringas com agulhas, pedaços de lâminas e vidros.


6 – O senhor enfrenta algum preconceito da sociedade?
R.: Sim, tem gente que acha que somos bichos, andarilhos ou mendigos, não reconhecem nosso trabalho e amedrontam as crianças quando elas vêm conversar com a gente. Mas tem muita gente boa, que compreende e colabora com nosso trabalho.


7 – Como a escola e nós individualmente podemos contribuir com o seu trabalho?
R.: É só separar o lixo seco do molhado e deixar numa sacolinha do lado de fora, combinar o horário e dia que eu passo para pegar os resíduos.

Quando interrogados se conheciam a atividade dos catadores e qual a importância da atividade, a grande maioria responde que sim. De forma geral todos relacionam a importância da atividade dos catadores à limpeza da cidade e ao ambiente mais saudável que proporcionam, mesmo aqueles que desconheciam tal atividade:

[1]“Sim, eles ajudam a limpar a cidade...” Emersom

“Não conhecia, mas gostei pois eles não tem vergonha de falar o que são” (Franciele C Santos 8a.)

“Não conhecia, mas acho importante que limpao as ruas” (Éder Juluano Quaresma)7a.

“Não, que eles ajudam a sociedade a não ficar poluída” (Vinícius F Félix) 7a.1

“Não e adorei conhecer. Eu achei muito importante, principalmente o quanto ele ganha por isso” (7a.)

“Ajudam o meio ambiente” (Jéssica Gomes 7a.)

“É, já conhecia, mas não sabia muito bem como funcionava e depois da palestra eu aprendi mais, o serviço dele é importante na limpeza de nossa cidade” (Nayara C. Monteiro)7a.

“fazem um trabalho limpo (Jéssica E. F. Silva)7a.”

“eles tem dignidade e quase todos tem orgulho do que faz” (Ariane R Gonçalves 7a.)

A evolução do pensamento se dá inclusive quanto ao conceito de lixo, sendo que os 72 alunos pesquisados, perceberam o valor atribuído ao “nosso lixo de cada dia”, e nenhum atribuiu a palavra ‘lixo’ à mercadoria (materiais recicláveis) do catador.
Esta atividade é reflexo da falta de emprego que leva muitas pessoas para esta atividade, ao contrário de muitos que acabam na criminalidade. Aqui é importante uma reflexão a respeito dos marginalizados do sistema capitalista, no qual a má distribuição de renda é uma das grandes causas da violência, criminalidade e marginalidade, e a conseqüente construção de novas territorialidades no espaço urbano.
Desta forma, o problema social representa um dos maiores desafios da questão ambiental.
Na grande maioria das respostas, reconhecem a dignidade, a honestidade e a coragem que eles têm para enfrentar um trabalho árduo que é tão importante, porém, discriminado por grande parte da sociedade.
O grande ganho da atividade é o fato de instiga-los a pensar sobre os motivos da discriminação, repensar os valores apregoados na sociedade moderna e resgatar os valores humanos tão esfacelados na conjuntura atual.
Um dos principais objetivos da educação ambiental: o de (re) construir valores humanos, o objetivo da atividade de quebrar preconceitos é alcançado quando na maioria das respostas eles enaltecem o catador pela sua dignidade, honestidade e educação, sem se limitar a observar a aparência.
Conforme afirma DIAS, 1999: 100
“Os seres humanos são ‘tocados’ quando atingidos através de emoções e não por informações. [...] além das informações essenciais para a compreensão do seu metabolismo e das ameaças e alternativas de soluções, precisamos trabalhar com a sensibilidade das pessoas, se pretende ser eficiente.”

Ficou evidente nas falas abaixo que a atividade além de contribuir para a informação, foi capaz de promover a sensibilização de alguns alunos que demontraram superar seus preconceitos em relação a esta atividade.

“É interessante porque minha mãe falava que estas pessoas era ladrão e agora eu vi que eles ao pessoas como eu, eu agora coloco os materiais recicláveis fora do lixo é melhor para eles pegarem. (J. O. Corrêa 8a.)”

“Eu aprendi que ele não é pessoas diferentes, ele não é doido ele é uma pessoa normal não como outras pessoas pensam (---8a.)”

“O racismo onde as pessoas vê ele como um marginal não como uma pessoa que trabalha (Wanessa Gotti Moreira 8a.)”

“... o que eu achei mais interessante na aula ... é que devemos tratar eles como qualquer pessoa.” (7a.)

“Aprendi que com os materiais que jogamos no lixo os catadores ganham a vida reciclando-os e achei interessante a coragem que eles tem de enfrentar os preconceitos que surgem com esse trabalho. 8a.”

“aprendi que não se precisa roubar so pq se é pobre, faça como os catadores, não se rendam à criminalidade” (jonatas da Silva 8a.)

“...devemos valorizar todos os tipos de trabalho e eu gostei da forma como ele demonstrou sua personalidade. São muito corajosos e por muitas vezes são discriminados e até confundidos com mendigos” (Michelle Melo 7a.1)

“foi a melhor aula que tive, aprendi a ser mais humilde, caridoso, e achei interessanto o dia-a-dia deles”. (Célio Neto 7a.)

“achei muito legal, e aprendi demais com o catador que é um trabalho honesto e interessante. 8a”.

“achei a aula super interessante, achei legal o modo que eles trabalha, a honestidade dele”(Stephânia Beatriz Ferreira 7a.)

“que a gente deve olhar as pessoa não pela sua aparência ou pelo seu trabalho, mas sim pela sua história (Vinícius F Félix) 7a.1”

...trabalham em grupo mas ás vezes há discussões por causa dos materiais (territorialidade) (Amanda Freitas)7a.

A partir deste bate-papo, uma grande aula, várias questões podem ser discutidas, como por exemplo, o desemprego no Brasil, o crescimento urbano, dentre outros. Percebe-se que se trata de uma atividade multi e interdisciplinar, bastante enriquecedora.

5. Considerações Finais.

Conforme orientações das tendências pedagógicas mais atuais, bem como dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a educação deve-se oferecer ao aluno instrumentos básicos para lidar com o mundo complexo fora da escola.
A educação tradicional, disciplinar e conteudística se mostrou obsoleta diante das rápidas transformações dos últimos tempos. Assim a Educação Ambiental vem como uma proposta alternativa e portanto deve permear todas as disciplinas e não incorrer no equívoco de pretender se institucionalizar como uma disciplina, visto que a problemática ambiental deve ser entendida sob a ótica dos “multi-olhares” que só é viável mediante a interdisciplinaridade.
Sem dúvida a educação tem um papel crucial diante da crise ambiental atual, por meio dela é possível promover a reflexão e a sensibilização necessárias à mudança de comportamentos e atitudes.
Ficou evidente que trabalhar temas transversais, ou seja, trazer para ser discutida em sala de aula a realidade do aluno, na busca de soluções para um mundo melhor, envolvem e motivam mais os alunos, além do que, não demanda grandes somas de recursos, apenas um ideal, perseverança e compromisso, necessários para driblar os impedimentos “burrocráticos”, afim de se realizar uma educação que tenha por prioridade a formação de valores humanos, necessários à prática cidadã.
É de grande ganho a atividade por colocar em pauta o aspecto social da questão ambiental e tornar a aula prazerosa quando a sala vira um cenário onde atores e platéia são reais, e cada um tem um papel na construção da paisagem urbana, recheada de contradições.

6. Referências:

ASSUNÇÃO, W. L. A Educação Ambiental como um processo interdisciplinar: Uma Experiência com a Coleta Seletiva de Lixo na Escola Estadual Joaquim Saraiva - Uberlândia MG - Dissertação de Mestrado. Uberlândia 1995.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC,1998, 436p.

COELHO, Maria Célia Nunes. Impactos Ambientais em Áreas Urbanas – Teorias, Conceitos e Métodos de Pesquisa. In Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. GUERRA, Antônio José Teixeira & CUNHA, Sandra B. (orgs.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2001.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 7a. ed. São Paulo: Gaia, 2001.

DIAS, Genebaldo Freire. Elementos para capacitação em educação ambiental. Ilhéus BA: Editus, 1999.

LIXO & CIDADANIA. O Trabalho das crianças no lixo. Disponível on-line em acesso em 06/2004.

Movimento Catadores CRUMA -Vida e Cidadania. Carta de Brasília. Disponível on-line em acesso em 06/2004.

OLIVA, Jaime Tadeu. Globalização, Educação e Meio Ambiente: Uma discussão sobre a escala de abrangência. In: Ciclo de Palestras sobre Meio Ambiente. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental Depto de Política da Educação Fundamental. Brasília 2001. 61p. p. 57 – 59.

OLIVEIRA, Elísio Márcio de. Educação Ambiental – uma possível abordagem. 2 ed. – Brasília: Ed. IBAMA 2000. 150p.

OLIVEIRA, Lívia de. A percepção da qualidade ambiental. In Caderno de Geografia. Belo Horizonte. V. 12 n. 18 1º sem. 2002 p. 40-49.

OLIVEIRA, Lívia de. O lixo urbano: Um problema de percepção ambiental. In Caderno de Geografia. Belo Horizonte. V. 12 n. 19 2º sem. 2002 p. 26-34.

VIANNA, L. P. et al. Política Nacional de Educação Ambiental. In: Textos da Série Educação Ambiental do Programa Salto para o Futuro. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação à Distância. Julho 2000.

VIEIRA, Liszt. Cidadania e Globalização. 1a. ed. Rio de Janeiro: Record. 1999



[1] As citações dos alunos foram fiéis às originais, transcritas na íntegra.