quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

COP 15 – O grande teatro global.


Por Aristóteles Teobaldo Neto.



A proposta da COP 15 – Copenhagem.


A COP – 15, ou 15ª. Conferência das Partes, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) foi realizada neste mês em Copenhagem (Dinamarca), apresentando o tema central a questão ambiental mais debatida na atualidade – o aquecimento global.
Veja uma síntese de todas as reuniões intergovernamentais antes da COP 15.
1995
COP 1 – Berlim (Alemanha)
É sugerida a criação de um protocolo para diminuição da emissão de gases estufa
1996
COP 2 – Genebra (Suíça) – Declaração de Genebra (redução de gases estufa)
1997

COP 3 – Quioto (Japão) – Protocolo de Quioto
1998

COP 4 – Buenos Aires (Argentina) – Ratificação do protocolo de Quioto.
1999

COP 5 – Bonn (Alemanha) – Continuidade aos trabalhos

2000
COP 6 – Haia (Holanda) – Impasse entre União Européia e EUA
2001

COP 6 – 2ª. Fase
COP 7 – Marrakech (Marrocos)
– EUA deixam a mesa de discussão. Novo impasse.
2002

COP 8 – Nova Delhi (Índia) – Discussão de metas para uso de fontes energéticas renováveis.
2003

COP 9 – Milão (Itália) – Discussão Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e sumidouros de CO2
2004
COP 10 – Buenos Aires (Argentina)
– Regulamentação MDL e Quioto
2005

COP 11 – Montreal (Canadá) – Destaque para emissão de CO2 pelos desmatamentos e necessidade de mudanças no uso da terra
2006

COP 12 – Nairóbi (África) – Revisão do protocolo de Quioto
2007

COP 13 – Bali (Indonésia) -
2008
COP 14 – Poznan (Polônia)
– Países subdesenvolvidos assumem metas de redução de carbono.
2009
COP 15 – Copenhagem (Dinamarca)


Desde 1995 ela é promovida e reúne representantes de diversos países, desenvolvidos e subdesenvolvidos. Apesar disso, outras tantas reuniões intergovernamentais foram realizadas para discutir a relação do Homem com a Natureza. Os esforços globais em torno deste tema comum começaram a partir da década de 1970.

O foco das discussões é o aquecimento global e a definição de um documento de ações comum que visem diminuir a emissão de gases estufa que saem pelos escapamentos de veículos automotores, das indústrias e até mesmo da pecuária.
A questão ambiental é uma questão global, não respeita nem reconhece as fronteiras políticas. Uma poluição local pode gerar conseqüências local e globalmente.

Neste ano a COP 15 reuniu representantes de mais de 190 países, diferentes em vários aspectos: etnicamente, culturalmente, politicamente e economicamente. Discutir uma agenda comum em meio a tanta diversidade é uma tarefa complexa e exige um esforço muito além do que se demonstrou nesta mais recente conferência.

Apesar de tantas reuniões ainda não existe um consenso, muito menos metas efetivas com relação à questão ambiental. Interesses geopolíticos diversos estão em jogo. O discurso preservacionista soa bem aos ouvidos dos líderes dos países ditos desenvolvidos, com destaque aos EUA e União Européia, pelo freio que impõe à economia dos países em desenvolvimento e com forte potencial industrial, com destaque para China e Brasil.

Por outro lado estes países reclamam a hipocrisia nas vozes dos países do norte que pagaram um alto custo sócio-ambiental para ostentar tanto vigor econômico que os colocaram no domínio geopolítico global. Esgotaram seus ambientes e agora estão de olho nos recursos naturais dos países pobres industrializados e não industrializados. Esgotaram também seus espaços e agora buscam no mundo sub-desenvolvido lugar para depositar seus lixos de diversas naturezas: doméstico, industrial, dentre outros.

Mas sem dúvida, o pior tipo de lixo exportado foi seu modelo de produção e modelo de vida que é a essência da problemática ambiental. A sociedade optou por um modelo de desenvolvimento econômico degradante que transformou a Natureza, fonte da vida, em um armazém de recursos naturais.

1. A origem da problemática ambiental: a separação Homem – Natureza.

A ligação genética da vida com a Natureza é reconhecida nas duas maiores teorias que explicam o surgimento da vida no planeta. Na teoria evolucionista Darwin demonstrou que a água foi o ambiente apropriado para o surgimento das primeiras formas de vida.
Já a tese criacionista, cujo livro sagrado, a Bíblia, é o mais vendido do mundo e influencia um grande contingente populacional, mesmo usando uma linguagem metafórica, demonstra esta relação genética entre a vida e a Natureza. No primeiro livro sagrado, o Gênesis, isto é evidente em várias partes:

“E disse Deus, produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra” Gn 1:11
“E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes baleias, e todo réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies, e toda ave de asas conforme a sua espécie...”Gn 1:20,21
“E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado e répteis, e bestas-feras da terra conforme a sua espécie.Gn 1:24”
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Gn 2:7

Duas teorias confrontantes mas que concordam num ponto comum – a vida é fruto da Natureza.

Entretanto, a Natureza foi coisificada e separada do homem que perdeu de vista sua condição natural. Ela virou matéria-prima para industrialização e transformação em mercadorias disponíveis ao consumo.

Neste modelo de sociedade tem valor quem tem poder de consumo. Os valores se inverteram. Para ser reconhecido não é suficiente ser um professor, um médico, um dentista, um comerciante, seja qual for a profissão. Basta ser um consumidor.
Não importa os saberes e o conhecimento acumulado, não importa a conduta ética e socialmente comprometida, importa o quanto se consome.
Quanto maior o poder de consumo, mais valorizado será o indivíduo nesta sociedade.

A individualização é outra forte marca neste sistema, a solidariedade e a amizade perderam o valor.
Para o sistema se sustentar é necessário estimular o consumo, com isso desenvolve-se a economia, mas deteriora-se o ser humano.
Pesquisas demonstram que os índices de felicidade têm decrescido, principalmente em países ricos.

No ranking da pesquisa realizada em 65 países e territórios, foi avaliada a porcentagem da população que diz se sentir feliz. Os sete primeiros colocados são países do terceiro Mundo (Nigéria, México, Venezuela, El Salvador, Porto Rico, Vietnã, Colômbia). Para o Brasil, a idéia de que somos o povo mais feliz do mundo caiu por terra: apenas 30% das pessoas entrevistadas se consideram plenamente felizes.
Giannetti (2004) considera, sobre esta contatação, que entre as causas possíveis deste fato está a perda das raízes culturais, provocadas pela urbanização recente – diferentemente do caso nigeriano, por exemplo. Em segundo lugar estaria a desigualdade social brutal, que faz ricos e miseráveis disputar o espaço gerando, em conseqüência assim uma ansiedade e insatisfações para ambos. (Martinelli, 2004)

Isto demonstra que a riqueza econômica não está diretamente ligada à felicidade. Claro! Criou-se um manicômio social. Criaram-se necessidades desnecessárias e um sentimento de impotência e insatisfação à grande maioria das pessoas que não possuem poder aquisitivo para adquirir o carro do ano ou o tênis da moda. Criaram-se distúrbios psicológicos a uma grande maioria que perdeu de vista seus valores e tentaram suprir suas necessidades afetivas e espirituais com coisas materiais.
A humanidade esqueceu sua condição natural e, com isso, a noção de que tudo que fizer à Natureza será feito a ele mesmo, já que somos apenas um fio na enorme teia da vida.
Aos poucos estamos conduzindo a humanidade à barbárie e à própria extinção, afinal não é a Natureza que pede socorro, não é ela que precisa ser salva, mas uma parte dela – a própria humanidade deve salvar-se de si mesma. É esta contradição que deve ser discutida, este é o ponto crucial. Mas o que se vê nestes encontros é um grande teatro da retórica e dos discursos vãos sem uma medida prática, efetiva.

2. Qual é o problema? Qual é a saída?

O tema central destas discussões é o aquecimento global. O carbono é colocado como o grande vilão da questão ambiental, os holofotes da grande mídia estão direcionados para ele.
Mas outras vozes ecoam em outros espaços lembrando que o carbono é o gás da vida. Ocupa o primeiro nível trófico (alimentar) e tem um papel fundamental na transferência de energia ao longo da cadeia alimentar. Na fotossíntese ele, juntamente com outros compostos, é transformado em substâncias orgânicas que garante a vida nos outros níveis da cadeia alimentar.
Afinal, o gás carbono é um veneno ou um alimento?
Recorrendo a um velho ditado, ‘tudo em excesso faz mal’.

A sociedade consumista, industrial e urbanizada tem produzido artificialmente e emitido para a atmosfera uma grande quantidade de gás carbonico, provocando um desequilíbrio natural.
Mas esta questão é polêmica. A Terra já passou por períodos de aquecimento e de resfriamento global sem qualquer interferência antrópica. Depois da época dos dinossauros houve quatro momentos de glaciação intercalados por períodos inter-glaciais, onde a temperatura global aumentava. Há registros de geleiras que cobriam o cone sul da América Latina até as proximidades da latitude de Itu-SP.

A questão central, a priori, não é identificar em que medida as alterações climáticas são decorrentes das emissões antrópicas e em que medida é resultado de um fator natural! Mas questionar o atual modelo de desenvolvimento vigente e apontar uma sustentabilidade da vida, com mais igualdade, fraternidade, cooperação e amor. Sim, amor!!! Quanta caretice! Mas foi evitando o romantismo e a poesia que o Homem foi perdendo sua condição de humanidade. Foi evitando estes termos piegas, caretas e fora de moda que a humanidade foi se tornando massa de manobra e apenas mais uma peça do sistema capitalista global. Não somos máquinas nem robôs, somos humanos.

Trata-se de uma questão de garantia da sobrevivência da espécie humana. Esta deveria ser a discussão chave nessas conferências. O atual sistema de desenvolvimento garante a sobrevivência da espécie humana? É sustentável?
O que se vê é a exploração cada vez mais voraz dos recursos naturais, destruindo ecossistemas inteiros, fauna e flora, e pior, comunidades inteiras, culturas, tradições são afogadas no lago de uma grande represa ou destruídas no fogo das queimadas para dar espaço a grandes monoculturas, latifúndios e pecuária.

A história brasileira é rica nestes exemplos. Da Mata Atlântica restam menos de 8% da floresta original, o Cerrado, considerado o berço das águas brasileiras, não foi poupado após a descoberta da correção da acidez de seus solos na década de 1960. E, no limiar do século XXI, a Amazônia é o palco da recente fronteira agrícola.

Este filme já rolou nos países desenvolvidos que já destruíram grande parte de seus ecossistemas naturais e não é necessário revivê-lo para conhecer o final - o sistema está em crise, em rota de colisão. A sustentabilidade humana na Terra não admite brincar de conferência.

É necessário questionar um sistema que acumulou tanta riqueza, mas concentrou nas mãos de poucos e deixa tanta gente morrer na miséria. É necessário questionar um sistema que admite riqueza e ostentação de uns países às custas da exploração das riquezas de outros. A história não deixa dúvidas e nem mentir, basta ver a situação sócio-ambiental atual dos países da América Latina, África e Ásia que foram colonizados e explorados no passado.

Apesar de ter acumulado tanta riqueza econômica e desenvolvimento tecnológico não foram extintas a escravidão, a fome e o desemprego. O fosso da desigualdade social é ainda mais agravante.
Para ocupar uma posição social somos estimulados à competição aos moldes da teoria maquiavélica de que ‘os fins justificam os meios’. As melhores escolas e sistemas educacionais são aqueles que preparam para o vestibular e para o mercado de trabalho, por isso disciplinas como filosofia, sociologia, artes, história e outras das áreas humanas, carecem de valorização. Cooperação e solidariedade é uma palavra fora de moda no manicômio social.

Em que momento os paradigmas atuais do desenvolvimento foram questionados na COP-15? O que se viu nesta conferência foi um total descaso e desinteresse pela sustentabilidade humana. Isto ficou evidente na pressa em definir um documento de improviso elaborado por chefes de 25 países para inglês ver e para o mundo ver, na tentativa de expressar um compromisso e ideal comum

Durante a madrugada de hoje, 25 países trabalharam em um texto com o objetivo de que os mais de 100 de chefes de Estado e de governo reunidos em Copenhague pudessem fechar hoje um acordo de redução de emissões. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u668506.shtml 18/12/2009)
O chefe de Estado brasileiro admitiu a incapacidade de definir tal documento:
Lula afirmou ainda que "gostaria de sair daqui com o documento mais perfeito do mundo, mas se não conseguimos fazer até agora não sei se algum anjo ou algum sábio descerá nesse plenário e colocara na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora".
(
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/12/18/ult4477u2173.jhtm)

Falta inteligência? A questão é muito mais complexa e jamais se resolve em uma conferência de uma semana. Aliás uma conferência é realizada para se avaliar as metas propostas para determinado tema e avançar a discussão revendo ou propondo novas metas. Onde estão as metas para a erradicação da pobreza e da miséria? Onde estão as metas para desenvolver mecanismos de desenvolvimento realmente limpos, isentos de custos sociais e ambientais como, por exemplo, o uso da energia solar, tão mal aproveitado e explorado? Quanto foi definido de verbas para pesquisas nesta área? Quanto e quando ficou definida a compensação pelos países ricos dos recursos e mão de obra, explorados dos países pobres? Onde estão as metas para acabar com a desigualdade social? O que ficou definido?
Nada!

Definitivamente não falta inteligência! Falta ética, falta compromisso com o ser humano, falta solidariedade, enfim, falta humanidade.
A ganância econômica tornou a conferência um fiasco desde sua gênese. Assistimos a um grande teatro global, recheado de falácias, retóricas e discursos vazios. Há um desinteresse geral na discussão e no questionamento acerca dos atuais paradigmas de desenvolvimento econômico que está numa relação direta com o (des) envolvimento, ou seja, o não envolvimento humanitário.

3. REFERÊNCIAS


MARTINELLI, Patrícia. Qualidade ambiental urbana em cidades médias: proposta de modelo para o estado de São Paulo. Rio Claro: [s.n.], 2004. 130 f.: il., tabs., quadros, mapas. Dissertação (mestrado). Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Orientador. Roberto Braga. Disponível on line em UOL Notícias. Tudo sobre a COP-15. Disponível on line em http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/especial/2009/conferencia-clima/ dez/2009. Acesso em 28 dez 2009.

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