sábado, 14 de agosto de 2010

Posfácio livro "O SUJEITO & O OBJETO"

É com imensa satisfação que apresentamos a todos (as) que acompanham o Blog do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS), que apresentamos o Brilhante posfácio escrito pelo nosso querido professor Décio Bragança, docente da Universidade de Uberaba (UNIUBE).

POSFÁCIO
Por Décio Bragança
É uma honra para mim posfaciar uma obra que se propõe discutir assuntos tão importantes, como educação, modernidade, ecologia, cuidados com o planeta Terra e cuidados com os homens neste planeta. É uma honra posfaciar uma obra de tão importantes professores: Valter Machado da Fonseca e Sandra Rodrigues Braga.. foi deveras um dos grandes prazeres ler uma obra complexa, concisa, reflexiva e proativa.
Urge uma revolução nos destinos do país. A revolução a que se pretende começa nas escolas. A escola é o lugar de explosão de idéias, onde se planejam as ações transformadoras e de ruptura, onde se conjugam todas as inteligências nacionais, porque na escola está a massa humana de todos os destinos e um projeto organizado. Há de se fazerem aliados, companheiros, estradeiros, caminhantes, utópicos, idealistas, entusiásticos, inquietos, rebeldes e sonhadores. Caso contrário, a revolução não sai do papel.
É dever de todos trabalharem. O trabalho assalariado é algo muito novo e já está prestes a morrer, a acabar. Afinal, já sobreviveu por, mais ou menos, duzentos anos, no mundo. No Brasil, sobrevive, mais ou menos, há uns cem anos, século XX. Associado à idéia desse tipo de trabalho, houve a expansão desordenada de escolas, de universidades, do ensino superior no Brasil. Isso é coincidência? Claro que não! Não existe coincidência! Só isso prova que as escolas estão preparando e formando mão-de-obra barata ao mercado explorador, a serviço do capital humilhante e discriminatório.
A sociedade brasileira atual se espelha num modelo neoliberal, capitalista, legalista, punitivo, individualista, onde cada um se salva, cada um é o que é, porque assim quer. “Muita gente não melhora de vida, porque não quer, porque não trabalha” – sabemos que isso é uma das maiores mentiras, assimiladas por todos como verdade inquestionável. Ninguém quer ser mau, bandido, vagabundo, preguiçoso, lixeiro, servente, ajudante do ajudante que limpa o cocô do cavalo do bandido. Sem chances e oportunidades, sem saúde e educação, sem alimentos e satisfação das necessidades básicas, vivendo o descaso e desprezo de todos, torna-se quase impossível ainda alguém reagir na luta pelo bem, pela verdade, pela beleza!
As cadeias, penitenciárias, delegacias estão superlotadas e amontoadas de pessoas pobres, de pouca escolaridade, de pouco poder aquisitivo, com poucas chances e oportunidades, negras e mulatas... Será que pessoas ricas, de boa escolaridade, com todas as chances e oportunidades, brancas e claras... não traficam drogas, não cometem crimes, não assaltam, não estupram, não roubam, não dão grandes e pequenas golpes? Claro que sim. E por que não vão presas? Há muitas razões. Uma delas é que os primeiros vivem em morros e favelas, e porque não têm atestado, certidão de posse, de propriedade do terreno e do barraco, a área é considerada pública. Consequentemente, seus crimes acontecem, para as autoridades, em lugares públicos. É só a polícia, as forças de segurança, o exército com seus tanques chegarem e levarem as pessoas que julgam suspeitas. No outro caso, o crime é cometido em lugares privados, condomínios, apartamentos, escritórios... e a polícia, as forças de segurança, o exército com seus tanques não podem entrar sem ordem judicial. Uma ordem judicial não é assim dada de uma hora para outra, principalmente sem uma causa, sem um motivo, sem um indício ou suspeita ou prova de crime. Nas escolas e nas universidades, professores e estudantes acham tudo isso muito normal, que deve ser assim mesmo, que deve ser protegido e divinizado o direito de propriedade.
Flagrantes espetaculares vão para os meios de comunicação de massa e a massa – que não pensa, segundo alguns – acha que todo pobre, que todo desempregado, que todo negro, que todo analfabeto, que todo homossexual, que todo favelado... é criminoso. Há força de segurança, exército, polícias... invadindo os morros, mas não invadem condomínios fechados e com segurança particular. Diante de tamanha insensatez, professores, mestres, doutores, phd’s... se calam e acham que tudo isso é muito normal. Diante de tanta injustiça, nenhuma escola protesta, nenhuma universidade protesta, levanta a voz.
Não existe educação sem cumplicidade. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que há cumplicidade de todos em todas as relações humanas e sociais. Essa cumplicidade poderá ser entendida como omissão. A título de exemplificação: se há traficante, há usuários de drogas, e vice-versa. Ambos são culpados, ou ambos são inocentes, mas as nossas leis, feitas por alguns poucos que freqüentaram escolas, em sua maioria, criam uma cara para o traficante e outra cara para os usuários, vivendo em estratos sociais bem definidos e diferentes. É um absurdo! As escolas não conseguem mudar o modo de pensar de pessoas que, proximamente, serão legisladores, juízes, promotores, procuradores... As escolas usam um discurso sem efeito – um sino que toca! O interessante é que esta mesma sociedade quer penas maiores para os traficantes e tratamento médico para os usuários, gratuitamente. Será que tanto um quanto outro não precisam de tratamento médico? Será que tanto um quanto outro não precisam de penas maiores e mais rigorosas? Infelizmente, nunca as escolas foram culpadas por essa situação! Quando as escolas e as universidades se calam, os discursos da mídia eletrônica e impressa criam as soluções de todos os problemas.
A expansão de escolas superiores foi muito maior que a oferta de empregos. A indústria, o comércio, os postos de serviços... não conseguem absolver todos os estudantes diplomados. O diploma, hoje, não garante absolutamente nada e muitos diplomados ficam sem emprego. A sociedade tem de entender que melhor do que um diploma, as pessoas têm de viver com dignidade e encanto. É triste observar a fila de desempregados com um diploma de curso superior na mão! Se o trabalho é um dever de todos, não será a escola, a universidade que vão resolver a questão de desemprego.
O desemprego, talvez, hoje, seja o nosso maior problema social. O interessante é que todos sabemos que ainda no Brasil tudo está para ser feito, para ser construído. Qualquer e todo país subdesenvolvido se oferece e oferece oportunidades maiores do que os desenvolvidos, onde quase tudo já está pronto, construído. E por que isso não acontece, aqui? Somos e fomos aculturados para ser empregados e não para ser trabalhadores! Somos e fomos aculturados para ser submissos e não decidir! Somos e fomos aculturados para ser obedientes e não empreendedores! Somos e fomos educados para obedecer, para fazer e não para pensar, para decidir!
A escola é, sim, a grande responsável pela mediocrização e alienação, pela massificação e humilhação, pela imbecilização e exploração do homem pelo homem. Uma pessoa com vinte anos de escola, de escolarização, passando por todos os níveis e graus, não pode se sentir um zero à esquerda, um nada. É uma afronta a todos os deuses e deusas de qualquer fé.
Não precisamos de heróis, nem vítimas, nem salvadores da pátria, mas precisamos, sim, de uma revolução que se faz com todos e com cada um. É preciso que todos e cada um opte pela revolução, apóie suas lutas e conquistas, participe da feitura de um novo destino.
Uma revolução é um momento mágico, porque é um mergulho na existência e nas razões da existência. O mágico, a magia faz parte da vida. De uma célula-ovo, um ser! Não há de haver maior transformação, mudança, revolução do que a própria vida! E o ciclo revolucionário da vida não tem fim, não termina.

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