sábado, 30 de maio de 2009

MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE DA VIDA

Por Maria dos Anjos P. Rodrigues*

1. APRESENTAÇÃO

A opção econômica, de desenvolver e crescer a qualquer custo vem deixando suas marcas incontestáveis no meio ambiente, tudo isto refletido na qualidade de vida da população e projetando desde a infância a relação espacial que deve configurar a relação homem com o meio ambiente.
A humanidade, em sua busca incansável, por condições melhores de vida, e com o aprimoramento de suas técnicas de apropriação dos recursos naturais, vem deixando um grande histórico de devastação e destruição da natureza.
Este histórico vem imprimindo consequências nefastas para vida planetária, às quais, já estamos sentido seus efeitos, caracterizando assim, espaços degradados e, em alguns casos, devastação total do espaço natural, como: degradação dos córregos, assoreamento dos rios, poluição do ar, destruição das florestas pelas queimadas, e muitos outros, que atestam como o homem se distanciou da natureza, para incorporar um novo mito “O Capital”.
Com o mito do “Capital”, que ainda impera na sociedade moderna e com o Lema: “Desenvolver” a qualquer custo, que foi o carro chefe nas tomadas de decisões dos governantes mundiais e brasileiros, por muitos séculos. Tendo estas premissas como paradigmas, na década de 1970 e início da década de 1980, as experiências de administrações públicas preocupadas com planejamentos direcionados à gestão ambiental, eram raras.
Mas, diante do despertar ecológico e consequentemente, com a resposta da natureza devido a séculos de exploração desordenada, tem-se, agora, configurando no contexto mundial, em novos paradigmas de desenvolvimento e proteção ambiental, fazendo parte das propostas e projetos das empresas privadas, poderes públicos e propostas em educação ambiental em todos os níveis.
Na perspectiva por mudanças, um grupo de cientistas, e organizações sociais, como resultados de discussões elaborou o relatório de Brundtland – Nosso Futuro Comum (ONU,1987), que coloca como alternativa uma nova visão de desenvolvimento:
“O Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades.”
Este conceito é afirmado na ECO-92, onde foi construída a “A Agenda 21” que consolidou a idéia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do antigo padrão de crescimento econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações deste século: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e de riqueza, e o direito ao usufruto, da vida em ambiente saudável para as futuras gerações.
O conceito de desenvolvimento sustentável surge nesta busca por respostas de novos paradigmas, novas formas de ver o mundo um novo diferencial socioeconômico, acrescentando a isto mais um desafio: a preservação ambiental, pois, favorecendo a sustentabilidade do planeta, consequentemente proporcionará a preservação da vida.
Num primeiro momento, sem um olhar crítico mais atento, resume-se que o desenvolvimento sustentável é uma mera preocupação com o “verde”. Mas, para de fato haver uma relação de desenvolvimento econômico e proteção ao meio ambiente, tem que se pensar em colocar em prática uma sustentabilidade ampla que vise os anseios desta sociedade em todos os seus aspectos econômicos, culturais, sócio-ambientais e outros.
É necessário concretizar de fato, uma relação entre desenvolvimento econômico com a proteção ao meio ambiente, e colocar em xeque os valores desta sociedade e governos em suas tomadas de decisões. Um outro mundo é possível e só será possível, se vivenciarmos novas atitudes, valores na construção de uma rede que integrem e gerem, de fato, a vida. É no âmbito local, que o cenário de mudanças tem que iniciar.
Sendo assim, há que se questionar, a todo o momento, com que ações contribuímos na construção, de fato, de um ambiente melhor para se viver, enfim, de um mundo novo.
Portanto, devemos olhar o meio que nos cerca de forma diferenciada, pois, somos parte deste todo.

2. O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DA VIDA

Quando se fala em meio ambiente, nas problemáticas ambientais que nos cercam, logo vem à mente, um aspecto, ou seja, fatos como: a destruição das florestas, a poluição dos rios, lagos e oceanos, a poluição do ar, e outros.
Raramente, pensa-se no planeta Terra como um todo e todos estes fatores se interrelacionam e formam a grane rede da vida.
Os gregos na antiguidade falavam que o planeta deriva do conjunto de elementos essências sendo eles “A Litosfera, A Hidrosfera e Atmosfera (a terra, água e ar), e a harmonia destes gerava e sustentava a vida.
Na Grécia tem-se o mito de “Gaia”, referenciando a deusa Terra.
O cientista inglês James Lovelock, fez pesquisas lançando fundamentos científicos a este mito, onde elaborou o conceito de a “Hipótese de Gaia”. Os pesquisadores descobriram que a biosfera da Terra, que é a interrelação de todos os elementos: sistema único e complexo como um organismo, que precisa da inter-relação e qualidades destes elementos para manter e sustentar a vida planetária ou a vida no planeta.
Todas as formas de vida, cada um de nós fazemos parte deste organismo, somos integrantes deste Universo, que a compõe “Litosfera-Atmosfera e Hidrosfera”, as quais constituem um todo.

Neste sentido, o homem não é melhor ou pior que qualquer outra espécie, mas um componente fundamental desta rede, criado por ela, mantido por ela, influenciado por ela e tendo o poder de influenciá-la (tanto positiva quanto negativamente) tanto quanto é influenciado por ela, Aliás, somos meros nódulos da rede da vida, juntamente com todas as outras espécies vivas. (CAPRA apud ROMANO, 2002:30)

O homem tinha esta concepção do todo, pois, vivia em harmonia com a mãe natureza, os impactos que ocorriam naquele período por causa da interferência que sempre houve. A natureza conseguia se recuperar da exploração. Não se compara aos níveis que foram atingidos a partir da Revolução Industrial.
Em 1917, o pensador inglês Bertrand Russell, já fazia um alerta, da degradação ambiental que via ocorrendo.

No ritmo com que estão sendo explorados, os trigais, minas e florestas do planeta estarão exauridos em uma data não muito distante. No campo da produção material, o mundo está vivendo depressa demais; numa espécie de delírio, quase toda a energia do mundo tem sido lançada na produção imediata de alguma coisa, não importa o quê nem a que custo. E ainda se defende o nosso sistema atual sob o argumento de que ele assegura o progresso! (RUSSELL, 2001:30)

Percebe-se que as constatações de RUSSELL, não são palavras “escritas ao vento”, é uma verdade que se concretiza na sociedade moderna, e com a mesma determinação faz-se urgente pensar e agir de forma diferente em relação aos recursos naturais.
As problemáticas ambientais, que estão configurados no século XXI, não permitem a imobilidade, mas sim a ação.

A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais. Estes processos estão intimamente vinculados ao conhecimento das relações sociedade-natureza: não só estão associados a novos valores, mas a princípios epistemológicos e estratégias conceituais que orientam a construção de uma racionalidade produtiva sobre bases de sustentabilidade ecológica e de equidade social. Desta forma, a crise ambiental problematiza os paradigmas estabelecidos do conhecimento e demanda novas metodologias capazes de orientar um processo de reconstrução do saber que permita realizar uma análise integrada da realidade. (LEFF, 2002:59-60)

O todo e as partes as partes e o todo, estão em simbiose constante de tudo que nos cercam, instiga a reinventar o nosso cotidiano sobres novas bases, principalmente de valores que respeitam a vida.

Não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais. Essa revolução deverá concernir, portanto, não só às relações de forças visíveis em grande escala mais também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo. Uma finalidade do trabalho social regulada. De maneira unívoca por uma economia de lucro por relações de poder só pode, no momento, levar a dramáticos impasses – o que fica manifesto no absurdo das tutelas econômicas que pesam sobre o terceiro mundo. (GUATTARI, 2001:08-09)

Neste espectro que toda a sociedade devia caminhar para mudar o panorama de destruição das condições de vida do planeta, mas em pleno século XXI, percebe-se que se tem muito a caminhar.

3. REFERÊNCIAS

ARDUINI, J. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. São Paulo: Paulus, 2002.

BARBIERI, J.C., Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da agenda 21. 4º ed. Petrópolis- RJ: Vozes, 1997

BERNA. V. Como fazer Educação Ambiental. São Paulo: Paulus, 2001

CALDAS, S. T., Lições de Natureza, Os Caminhos da Terra, São Paulo: ano 09, nº 04, edição 96, p.28-35, abril. 2000.

EVASO. A S. et al. Desenvolvimento sustentável: mito ou realidade? Terra Livre. São Paulo, nº 11-12, p. 91-100, 1996.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. 16Ed, Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas, SP: Papirus, 1990.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Geografia Política e Desenvolvimento Sustentável. Terra Livre, São Paulo, nº 11-12, p. 7-90, 1996.

LEFF. Enrique. Epistemologia Ambiental. 3 Ed,Trad. Sandra Valenzuela, São Paulo: Cortez,2002

ROMANO Filho. Desmostens (org.). Gente cuidando das águas. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2002

RUSSEL, Bertrand, Ideais políticos. Trad. Pedro Jorgensen Jr., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001
* Licenciada em Geografia pela FEU/UFU, Pós-Graduação em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos - UNIPAC, Pós-Graduação em Educação Ambiental pelo IESDE, Professora da Rede Pública Municipal de Uberaba/MG. E-MAIL: del.anjos@bol.com.br

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