terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ENCHENTES EM UBERABA - MG (BR): Um problema de engenharia ou falta de planejamento?

Foto: Enchente na Av. Leopoldino de Oliveira, centro de Uberaba (MG)
Por Valter Machado da Fonseca.

A cada ano que passa, a população uberabense se assusta mais, com o problema das enchentes e inundações no centro da cidade. Os comerciantes fazem parte da parcela da população que mais sofre com esse problema. Todos os anos, a história se repete: são milhões de reais de prejuízo para quem trabalha no centro da cidade e outros milhões de reais em obras de engenharia, que o próprio poder público sabe que não vai solucionar o problema, quase crônico. Tudo isso, também sem contar os milhões de promessas em época de eleição e, até mesmo fora dela. Interessante é que os depoimentos dos moradores mais antigos da cidade apontam para a inexistência de tal evento há setenta ou oitenta anos atrás.
O mais curioso é que se ouvem explicações e justificativas que vão desde as mais ingênuas até as mais superficiais sobre os motivos das enchentes e sobre a forma de acabar com ela ou, pelo menos minimizá-la. É preciso que lembremos que a cidade cresceu. E pior! Cresceu sem nenhum planejamento urbano.
Para que possamos compreender melhor o problema das enchentes de Uberaba, é preciso recorrer à própria história da cidade. Para compreender os motivos da ocorrência do fenômeno das enchentes é necessário que tenhamos humildade para resgatar a memória do município, por intermédio da localização geográfica, do relevo, da vegetação e da própria bacia hidrográfica que banhava o centro da cidade. Ou seja, de posse desses dados histórico/geográficos, é importante que olhemos Uberaba por cima. Aí, é preponderante perguntar: por que a cidade de Uberaba foi conhecida como a “cidade das sete colinas”?
Esta pergunta é simples e a resposta mais simples ainda: É porque a cidade era cercada por, exatamente, sete colinas. Essa pergunta chama outra: e, onde estão essas colinas? Elas foram extintas pela falta de planejamento das atividades agrícolas, elas foram demolidas, rebaixadas, sua vegetação foi totalmente removida. E, qual era, exatamente, a função dessas sete colinas? Essas colinas, cobertas pela vegetação original serviam de anteparo contra grandes volumes d’água, sua vegetação amortecia as águas pluviométricas [da chuva], permitindo que se infiltrasse livremente no solo e não escoasse superficialmente. Sem as sete colinas e sua vegetação, a tendência das águas da chuva [aliás, essa é a tendência de quaisquer escoamentos de água] é escoar das regiões mais altas paras as áreas mais baixas.
Segundo problema: exatamente no centro da cidade de Uberaba, na Avenida Leopoldino de Oliveira existe um ribeirão que foi canalizado. Não é preciso ser nenhum especialista para saber que qualquer recurso hídrico superficial, como rios, ribeirões, córregos e riachos possuem uma bacia de drenagem e uma de inundação, além de um vale por onde escoam as águas e que, servem para comportar o excedente de águas em épocas de enchentes e inundações. Pois bem! O ribeirão foi canalizado, sufocado, seu vale foi ocupado por construções e impermeabilizado por asfalto. Então, quando chove o ribeirão transborda por intermédio dos bueiros.
Terceiro problema: toda a vegetação que circundava a cidade foi removida, para dar lugar a atividades agrícolas. Acontece que esse cinturão verde [de vegetação original] ao redor da cidade auxiliava [e muito] na contenção das águas das chuvas que caíam nas áreas de maior altitude. Além de tudo isso, a vegetação que existia no centro da cidade também foi retirada para dar lugar à impermeabilização asfáltica. E, por falar em vegetação, a cidade de Uberaba figura entre os centros urbanos menos arborizados do país, o que provoca um micro clima denominado “Ilha de Calor”. Outro aspecto que chama a atenção é que uma boa parcela das áreas mais antiga da cidade era pavimentada por blocos de granito ou mesmo de basalto. A existência desse tipo de pavimentação permite que o fluxo d’água infiltre no solo com maior rapidez, o que não ocorre com o asfalto. Esses blocos foram quase que totalmente substituídos por asfalto.
Podemos concluir, assim, que o problema atual das enchentes e inundações no centro da cidade de Uberaba é decorrente de um conjunto de ações erradas realizadas no centro da cidade e no seu entorno. Resumindo; Uma falta total de um efetivo planejamento urbano/ambiental. Uma série de fatores conjugados faz com milhares ou milhões de m3 água sejam despejados na região central da cidade de Uberaba em ocasiões de chuvas intensas e torrenciais, alagando e inundando a região central da cidade de Uberaba.
Então, o que fazer? O poder público está dando mostras claras do que não deve ser feito. De nada adianta aumentar a bitola das manilhas responsáveis pela captação e escoamento das águas das chuvas, como já foi feito algumas vezes. Da mesma forma, de nada adianta construir piscinões e mais piscinões. O problema das enchentes no centro de Uberaba não se resolve com soluções simples de engenharia.
É preciso desocupar o vale do ribeirão, libertá-lo da sua prisão [canalização] e desocupar o seu vale natural. E, para isso é necessário um audacioso projeto de desapropriação das construções que invadiram o espaço do ribeirão à procura de especulação imobiliária. Ao mesmo tempo, é preciso recompor a vegetação do entorno da cidade [através de um estudo da vegetação nativa ali existente] e, por último, é preciso elaborar [e executar, que é o mais importante] um projeto sério de arborização de todo o espaço urbano da cidade de Uberaba, além de estabelecer um limite claro para a localização das atividades agrícolas, uma vez que a plantação de vários produtos, dentre eles a cana-de-açúcar já está quase dentro de nosso quintal. Infelizmente, só temos duas opções: ou se toma essas medidas para , pelo menos minimizar a problemática do excedente de águas, que desce para a região central da cidade, ou estamos fadados a conviver com as enchentes e inundações, que a cada dia se tornam mais graves, perigosas e violentas.

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