sábado, 6 de fevereiro de 2010

ENCHENTES E INUNDAÇÕES: O QUE É NATURAL?

Foto: A grande enchente de Santa Catarina (BR)
Por Valter Machado da Fonseca


Mais uma vez, a mídia brasileira volta seus holofotes para o problema das enchentes e inundações em todo o país. Na cidade de São Paulo, as cenas são aberrantes: a água invade as ruas e avenidas, rios e ribeirões transbordam, o lixo invade ruas e praças, árvores tombam sobre veículos, o transporte coletivo urbano para, literalmente. Os picos de energia deixam sem luz grande contingente de pessoas, isso tudo sem mencionar os congestionamentos de trânsito que atingem centenas de quilômetros.
Mas o pior de tudo é a volta de doenças antigas provenientes de insetos, roedores e outras pragas que surgem em decorrência do acúmulo de água contaminada que invade o espaço urbano. O índice de mortalidade em decorrência das enchentes e inundações atinge cifras nunca dantes experimentadas, ou vivenciadas. A mortalidade ocasionada por esses problemas chegou a ser comparada, pelas Nações Unidas, com a perda de vidas em épocas de algumas guerras e conflitos bélicos.
Nas enchentes deste início de 2010, a rede de comunicação, principalmente os jornais e a TV destacaram o transbordamento do “Rio” Tietê e suas consequências, no centro da cidade de São Paulo. O Tietê, que já foi um dos principais rios do país, aparece invadindo ruas e avenidas, “enfeitado” por centenas de sacos de lixo, pneus, garrafas Pets, saquinhos plásticos, dentre inúmeros outros detritos. No meio da água escura e lamacenta [se é que podemos chamar a isso de água], homens mulheres e crianças, numa cena patética e deplorável, lutavam para permanecerem de pé, para não serem levados pela força da enxurrada e da correnteza. Mas, o problema das enchentes não atinge apenas a cidade de São Paulo, ele se espalha pela maioria das grandes cidades brasileiras

Por outro lado, no Nordeste do Brasil a seca castiga e leva à situação de miséria, centenas de pessoas. O Brasil, quase todos os anos, vem sendo marcado por grandes enchentes e inundações no Sudeste, Centro Oeste e no Sul, conjugados por enormes períodos de secas no Nordeste e, pasmem! Há poucos anos vimos, em toda a cadeia da Rede de comunicações, uma grande seca na região Norte, o que provocou um rebaixamento de mais de três metros, das águas dos rios Amazonas, Negro e Solimões.
Aí, a mídia, a ciência, a população perguntam: Serão fenômenos naturais? Será culpa do El NIÑO ou da La NIÑA? Ou, será que esses eventos ocorrem devido à ação humana?
No mundo da ciência, duas grandes correntes defendem suas verdades: a primeira [que por coincidência tem parte de suas pesquisas bancadas pelos EUA] defende a idéia de que é um fenômeno natural: a Terra já passou por eventos desse tipo, antes mesmo da existência do homem na face da Terra [o que é um fato cientificamente comprovado], portanto, é um fenômeno natural, que independe da ação humana. Alguns cientistas chegam a defender que, ao invés de um período de aquecimento global, o planeta, ao contrário, passa por um período de resfriamento.
A outra corrente tenta colocar toda a culpa na ação humana, sem seque ouvir quaisquer outras argumentações. Alguns defendem, inclusive, a idéia da natureza intocada, uma volta ao passado.
Na verdade, quaisquer que sejam as evidências [naturais ou não], não se pode negar a existência das atividades humanas. Assim, mesmo considerando que esse fenômeno tenha ocorrido no passado sem a existência humana, um fato que não pode, jamais, ser desprezado é que o homem existe e está interferindo no planeta e em seus recursos. Neste sentido, o homem entra aí como um elemento de avaliação, uma variável que precisa ser analisada.
É preciso perceber que a ciência não pode se embasar na “Lei das Repetições”: “se aconteceu no passado desta forma, no presente é a mesma coisa”. Pensar dessa forma é, no mínimo, possuir uma miopia de conhecimentos, é desprezar a cadeia e a teia da vida. Por outro lado, pregar uma volta ao passado também é se apoderar de uma miopia de raciocínio, afinal não se deve negar o avanço técnico e desprezar o bem estar construído pela história da humanidade.
O problema das enchentes e inundações requer um olhar apurado, no qual se leve em consideração a análise de um conjunto de fatores interligados e conjugados. É preciso interpretar a forma com que o homem tem se relacionado com a natureza, ou seja, analisar a relação sociedade/natureza. É necessário, sobretudo, investigar como o homem tem ocupado o espaço urbano, como se dá o processo de urbanização, não somente no Brasil, como em todo o planeta.
Como se pretende combater o problema das enchentes se existe o desmatamento dos cumes de morros e montanhas, o cume de colinas, a impermeabilização de fundos de vales, a canalização de córregos, rios, riachos e ribeirões, combinada com a impermeabilização e ocupação desordenada de suas bacias de drenagem e de inundação. Como se quer combater esse problema se o homem continua a concentrar todas as suas atividades [e sem nenhum planejamento urbano/ambiental] nas grandes cidades e metrópoles, deslocando dessa forma o equilíbrio ambiental e energético dessas localidades.
Para enfrentar essa problemática, o homem precisa, urgentemente, repensar e planejar suas ações sob pena de ver, em pouco tempo, o planeta se inundar por completo, afogando definitivamente, a espécie humana que tanto o tem prejudicado.

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