domingo, 4 de julho de 2010

Nossa sociedade e a Pedagogia do Oprimido: impressões pessoais

Foto: Prof. Paulo freire (2010)
Por Karina da Costa Sousa

O texto que se segue foi escrito predominantemente em primeira pessoa, pois, ao escrevê-lo, tentei expor as impressões pessoais que tive após o contato com a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Trata-se de um pedaço de meu pensamento, e um pouco de meus sentimentos e idéias sobre nossa sociedade, nosso modo de vida.
Sempre pensei que a raiz de todos os problemas existentes no planeta Terra está na educação e
esclarecimento dos seres humanos. Isto é, a ausência da educação e do esclarecimento. Todavia, penso, por ora, que talvez seja muito radical atribuir uma “culpa” apenas à educação, ou sua ausência. Isto pois a própria natureza, e todas as relações vivas comportadas por ela, incluindo obviamente as humanas, são nada mais que um conjunto de partes integrantes (e integradas) de uma enorme teia, onde todas coexistem. Assim, não se pode atribuir uma razão isolada a qualquer fenômeno. Este mesmo raciocínio pode ser empregado ao observamos os problemas pelos quais a sociedade tem passado. E estes problemas aos quais me refiro não são apenas de âmbito social. Eles vão desde problemas do homem consigo mesmo, até em relação ao homem e sua percepção existencial.
Conhecendo a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, encontrei nela muito de minha opinião sobre semelhantes questões. Estamos em face de uma situação de profunda alienação intelectual e ignorância subsidiada. Valores fundamentais para a vida, convivência e evolução humanas estão se perdendo (para não ser novamente radical e dizer mesmo que já se encontram perdidos). Assaltos e roubos e assassinatos, intolerância, desrespeito. Onde estará a fraternidade, a compaixão? E como ouso eu falar estas palavras, quando elas estão tachadas de caretas, e quando eu mesma poderei ser tachada assim? Isso não importa a mim, nem a outros bons espíritos, tenho certeza. Talvez essa seja outra causa a ser apontada para a situação que se tem vivido. E mais, o que pode ter acontecido com o amor à natureza e as formas de vida consideradas hierarquicamente inferiores por nós, seres que se afirmam pensantes! Raciocínio humano? Como? Onde ele se manifesta, se a natureza e os animais nos dão mais valorosos e numerosos exemplos e lições de (con) vivência e equilíbrio? Em minha opinião de iniciante na reflexão filosófica e intelectual, porém atenta a tais questionamentos, este é o pior quadro que se pode apreciar na sociedade, na natureza, na vida. Por que nos tornamos assim? Por que agora já é tão difícil voltar a atrás e refazer o caminho, o modo de vida?
O ser humano se mostra impulsionado por outros desejos, não só atualmente, como em qualquer capítulo de nossa história, desejos que fazem de uns dominantes e outros dominados. Ou como sugere Paulo Freire, uns oprimidos e outros opressores.
Sim, como se não fosse o bastante a falta de valores morais e éticos, há ainda a falta de esclarecimento, a falta da consciência do verdadeiro, singelo e ao mesmo tempo complexo significado da expressão humanidade.
Segundo Freire aponta, estamos vivendo em tempos de humanidade roubada. O que parece é que os homens já nascem assim, ou opressores, ou oprimidos. De fato, este é um processo que acompanha todo o desenvolvimento do indivíduo. Estamos condicionados, não apenas os que têm sua humanidade roubada, como aqueles que a roubam. É preciso recuperar a humanidade, pois só assim será possível se alcançar a liberdade, algo que há séculos se busca, mas acredito que até os dias atuais não se entende (e se pensa possuir). É preciso tomar consciência desta situação. É preciso que os homens tenham vontade, desejo por alcançar esta humanidade. É preciso se entender também esta humanidade. É preciso se tomar consciência da situação e da realidade que vivemos, de nossos opressores e sua “falsa generosidade”. Aquela generosidade que se alimenta da injustiça, e que teme o desaparecimento desta injustiça. É preciso libertar-se dos fanatismos existentes nas várias esferas de atividades humanas, como já observamos na política e na religião (que tanto pode contribuir, positiva ou negativamente, na edificação do ser humano), por exemplo, para se conseguir enxergar a realidade, nosso mundo, nossa existência. Tantas coisas necessárias. Como fazê-las? Tantos problemas. Quantas soluções? Há soluções? Certamente.
Assim, chegamos à questão abordada por Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido que, na minha opinião, é a mais importante da obra. Trata-se da educação, sua contribuição na transformação da concepção do homem por si mesmo e suas relações no ambiente em que vive. Não seria necessário explicar e descrever todo o método proposto por Paulo Freire, considerando que já o conhecemos e considerando que conhecemos a realidade que vivenciamos. Bastaria dizer que uma pedagogia libertadora deve ser construída por todos, e não a partir de uns para outros, sem se levar em consideração a realidade destes outros, sem se estimular a busca e a reflexão inovadoras, criativas, dinâmicas e não estáticas. Os homens serão livres para exercer sua humanidade, em todos os sentidos que esta palavra pode ter, quando estiverem esclarecidos. Certamente, o futuro deve ser construído por mãos trabalhadoras e transformadoras, por meio de sua reflexão e de sua atuação. Subjetividade e objetividade, como ensinou Paulo Freire.
É preciso interação e atividade de todos. É preciso consciência. É preciso liberdade. É fantástico pensar em mudanças tão desejadas pela maioria dos povos, e certamente esta maioria está formada pelos oprimidos e pelos “esfarrapados do mundo”, os companheiros de causa e luta, à luz da educação. Eis o porquê de Pedagogia do Oprimido conter tanto de minha própria opinião.
Finalmente aponta-se uma solução e não mais uma causa para os problemas que nos afligem. E como diria dois grandes sábios: “em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve
parecer impossível de mudar”
[1] pois “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”[2] e “Não estamos perdidos. Ao contrário, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”[3].
[1] Bertolt Brecht
[2] Rosa Luxemburgo
[3] Rosa Luxemburgo

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