domingo, 4 de abril de 2010

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO: algumas reflexões

Por Zaida Siufi Pereira
Em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire faz referência à opressão contida na sociedade e na construção do modelo educacional. Esta opressão se caracteriza pela aceitação dos oprimidos sobre o que lhes é imposto, muitas vezes por medo da mudança ou desinformação do direito de se conscientizarem e manterem atitudes transformadoras em seu desenvolvimento, sendo assim transformadores de suas realidades diante do mundo em que vivem, realizando assim a pedagogia da libertação. A partir do método estabelecido por Paulo Freire, chamado “método de conscientização”, o homem tem o direito de redescobrir–se, através da reflexão do próprio processo em que vive desta maneira ao se descobrir, manifesta e configura seu mundo.
A superação da condição de oprimido, faz com que estes reflitam, indague, sobre as condições de “servil” a que foram impostos, a fim de se libertarem e libertarem a seus opressores. Para o opressor é cômodo que o oprimido continue estagnado em sua condição de aceitação, pois desta maneira os seres oprimidos não terão uma relação conscientes do mundo e não terão ações transformadoras. Na condição de libertadores, a classe dos oprimidos estará exercendo a luta através da restauração de sua humanidade, fazendo assim cada vez mais proliferadoras idéias de generosidade verdadeira, praticando o trabalho transformador da realidade do mundo, onde homem x mundo se mantém em um processo de interrelação.
Como instrumento de opressão, o autor demonstra a “educação bancária”, onde esta visualiza o educando como ser que não possui nenhum conhecimento, vazio, e o educador como detentor total do conhecimento, onde este irá depositar informações no intuito de preencher o vazio existente no aluno, sua intenção se torna depositar uma maior quantidade de informação possível, com isto este ser, vazio, se torna oprimido, aceitando o que lhe é imposto, sem indagação, criatividade e dinamismo na relação educacional.
Sendo a educação como prática da liberdade, os homens se encontram desafiados a encontrar esta liberdade através da reflexão, indagação e diálogo, o que não ocorre na “educação bancária”, desta maneira, no processo de libertação do sistema opressor, o oprimido deve conhecer, identificar as características do opressor, para que não se torne também um opressor. Em muitos casos, o oprimido visa ter o que possui o opressor, fugindo da intenção de libertar-se, não seguindo assim o processo do ser mais em detrimento da lúdica relação do “ter para ser” imposta no sistema opressor.
Diante desta realidade, Paulo Freire propõem uma educação problematizadora, cuja finalidade é desenvolver o senso crítico do educando, onde a realidade é inserida no contexto educativo desde a escolha dos temas a serem abordados, sendo valorizado desde o princípio o diálogo, a reflexão e a criatividade de modo a construir a ibertação.
O conteúdo programático não deve ser imposto e sim propor a situação existencial, concreta, presente, como problema que irá desafiar e assim exigir respostas a nível intelectual e de ação transformadora da parte do educando, visto que a reflexão conduz a prática.
Tendo o diálogo como base primordial na relação ensino aprendizagem, o novo modelo de educação considera que somente na educação a vida humana tem sentido, pois “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação – reflexão.” Dizer a palavra é direito de todos, não privilégio de alguns poucos homens, como era imposto na “educação bancária”. A partir do momento que o homem reconquista este direito, ele se transforma como ser e sua relação com o ambiente.
Neste contexto de diálogo como base da fundamentação educacional libertadora, questões como o amor, a fé e a humildade são consideradas, visto que o amor e a fé no poder transformador do homem, como ser criador de sua condição de ser mais, fortifica a confiança no sujeito e os tornam mais companheiros na questão ideológica de libertação. Sem a humildade, não há diálogo, sem o diálogo não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação.
A linguagem e pensar tanto de educadores como educandos deverá existir baseada na realidade a que se referem. Com isso, o conteúdo programático, na educação não pode ser exclusivamente eleição do educador, mas discutido em diálogo dele com o povo, mantendo assim a prática da liberdade.
Pretende–se com isso, desenvolver o pensamento - linguagem referindo-se à realidade, a relação do povo com seu nível de envolvimento em relação aos temas geradores.
Para se alcançar estes objetivos, é proposto ao povo, uma análise de suas realidades, culturais, sociais, analisando ações do cotidiano, a fim de levantarem informações quanto aos temas relevantes na investigação de suas problemáticas, para com isso aprofundarem na tomada de consciência em torno desta realidade.
Cada envolvido nesta investigação irá desenvolver um projeto, que será analisado em diálogo com os demais envolvidos, propondo soluções quanto a estas temáticas.
Após a elaboração deste programa, com o agrupamento destas informações, são elaborados então os materiais didáticos, sejam eles em forma de textos, filmes, fotos, entrevistas, onde após apresentado realizam–se debates sobre o conteúdo, desta maneira a temática se torna problemas a serem decifrados, jamais conteúdos a serem depositados. Com este desenvolvimento, o povo se encontrará não de uma maneira estranha, alienada, mas sim de uma maneira integrada e participativa, visto que toda a temática problematizadora surgiu de sua realidade vivenciada.
“Se nada ficar deste modelo educacional, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar.”
Zaida Siufi Pereira é graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade de Uberaba (Uniube), Membro do Instituto Curupira de ecologia e do Núcleo de Estudos em Educação, Filosofia e Ciências Sociais do Triângulo Mineiro (NEEFICS).

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