domingo, 8 de março de 2009

Educação e Complexidade: Os sete saberes e outros ensaios – Edgar Morin (Foto abaixo)

Por Mayra Rosa Arruda

“Educação e Complexidade” reúne três ensaios escritos em tempos diferentes, os dois primeiros marcados pela utopia de uma reforma saturada de rupturas, reaprendizagens, reformas, métodos transdisciplinares. O último, Morin considera ser os buracos negros do conhecimento. A universidade gera saberes, idéias e valores. As disciplinas se fecham e não comunicam umas com as outras. Os conteúdos são cada vez mais fragmentados, e não consegue conceber a sua unidade. Então, “Façamos interdisciplinaridade”. Mas cada disciplina pretende primeiro reconhecer a sua sabedoria territorial, confirmar as fronteiras em vez de desmoroná-las.

O verdadeiro problema não consiste no “fazer transdisciplinaridade”, mas “que transdisciplinaridade é preciso fazer”? Os princípios transdisciplinares fundamentais da ciência, como a matematização e a formalização são os que permitiram desenvolver o enclausuramento disciplinar. O caminho difícil da articulação entre as ciências que tem cada uma a sua linguagem própria e conceitos fundamentais que não podem ultrapassar de uma linguagem à outra.
Para promover uma nova transdisciplinaridade precisa-se de um paradigma que permita distinguir, separar, opor, disjuntar estes domínios científicos, mas que, também, possa fazê-los comunicar-se entre si, sem operar a redução. O paradigma da simplificação (redução-disjunção) é insuficiente. Torna-se necessário um paradigma que disjunte e associe, que conceba os níveis de emergência da realidade sem reduzi-los às unidades gerais e às leis gerais.
Existem sete buracos negros no sistema de educação:

1 – O conhecimento: O problema do conhecimento é muito importante e é necessário ensinar que todo o conhecimento é tradução e reconstrução. Ele é marcado pela cultura (país, escola, valores, etc.). Há um risco permanente de erros e ilusões. Ensinar àqueles que irão defrontar com o mundo onde tudo passa conhecimento – jornais, internet, manuais escolares. É necessário ensinar que o conhecimento comporta sempre e riscos de ilusões, erros, e tentar mostrar quais são suas raízes e causas.

2 – O conhecimento pertinente: O verdadeiro problema não é o da informação quantitativa, mas o da organização da informação. Situar as informações num contexto global e, se possível, num contexto geográfico, histórico.

3 – Condição humana: Nossa identidade de ser humano. Esse conhecimento não se resume às ciências. A literatura e a poesia desempenham um grande papel nesse conhecimento.

4 – A compreensão humana: Distinguir explicação de compreensão. A explicação entende o ser humano como objeto. A compreensão visa entender o ser humano não apenas como objeto, mas como sujeito. Sofremos de uma carência de compreensão.

5 – A incerteza: Aprender e enfrentar a incerteza. O que ensina são as incertezas. Ainda que as ciências tenham nos ensinado certas coisas.

6 – A era planetária: Hoje em dia a idéia de uma cidadania terrestre se manifesta por meio de organizações e associações. É muito difícil compreender nossa época porque há sempre um atraso da consciência no que diz respeito ao acontecimento vivido. Não se compreende nada. Vivemos sem compreender o mundo. Mas, se não podemos compreender o mundo, tentemos, não ter uma visão mutilada, abstrata, para não compreendê-lo como unicamente por um instrumento técnico ou econômico.

7 – A Antropoética: A ética em escala humana. A sociedade se apresenta sem cultura, normas, leis, na nossa própria espécie individual. Indivíduo/sociedade, a ética nos conduz à idéia de democracia. Isso implica que, pelas eleições, os próprios cidadãos possam mudar seus controladores. As democracias não se encontram asseguradas no mundo, havendo grandes repressões que podem ser atribuídas ao reinado dos experts, à despossessão dos cidadãos. O indivíduo/espécie, diz respeito à ética do gênero humano. À perspectiva de civilizar a Terra, com o objetivo da cidadania terrestre.

Texto apresentado pela Profª. Mayra Rosa Arruda (reunião do NEEFICS, do dia 07 de março de 2009), embasado no texto de referência “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, de Edgar Morin, definido como contraponto ao Discurso do Método, de Descartes.

Um comentário:

  1. Achei muito interessante esta divisão dos saberes....muito coerente...Mas...quando vc entra na compreenção, condição humana, na incertesa, na era planetária e na antropoética, fica mais perto do "ponto G". Quando se fala dos limites, da ética, do cidadão.... da carência de compreensão... Infeliz ou felizmente... não podemos fracionar assim as coisas... não somos só o racional, o divisível ou multiplicável.... temos sentimentos, afetividade.... como elaboramos todos estes saberes?!?! E como os pais, tios, enfim, mestres, elaboram tudo isto e passam para seus dependentes? E como estes recebem tudo isto e elaboram afetivamente todo este conteúdo? Acho que estes"buracos negros" existem porque não podemos racionalizar tudo...onde fica a a AFETIVIDADE ? a INDIVIDUALIDADE ? Como o ser humano digere todo o conhecimento que lhe é enfiado guela abaixo?

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